Maioria dos gregos quer o euro, mas rejeita austeridade econômica
16 de junho de 2012Na última eleição, os cidadãos gregos quiseram, com votos de protesto, mandar um recado aos grandes partidos. Mas desta vez, o pleito trata de algo maior: a permanência da Grécia dentro da zona euro. As últimas pesquisas de intenção de voto indicam que cerca de 75% do eleitorado são a favor do euro, mas contrários às atuais medidas de austeridade. E os partidos tentam obter vantagem com este clima contraditório.
Os conservadores do Nova Democracia, tradicionalmente favoráveis à economia de mercado, consideram-se a garantia de permanência do país na zona do euro. Mas eles também prometem lutar por um afrouxamento das austeras restrições.
Já a Coalizão da Esquerda Radical Syriza é totalmente contra o programa de austeridade. A legenda também defende, porém, que a Grécia permaneça com o euro. O eurodeputado Nikos Chountis, ex-membro da direção do partido, está convencido de que também nesta eleição os cidadãos vão mandar um novo recado de descontentamento aos partidos tradicionais.
"Não está sendo colocada em questão neste domingo uma escolha entre dracma ou euro. Este pseudodilema só leva à desorientação dos eleitores", acredita Chountis.
Ele avalia que o acerto para as medidas de austeridade ou para operações de resgate não é base legal para a permanência da Grécia na zona euro, pelo contrário. Para o político, é a implementação das medidas de austeridade que leva a Grécia para o abismo, marginalizando o país em relação ao resto da Europa.
Disputa sobre "outra política"
A coalizão de esquerda que surpreendeu ao conseguir eleger a segunda maior bancada na eleição passada pretende implementar uma "outra política" em relação aos credores da Grécia. Ainda não está claro, porém, o que isso quer dizer. Na campanha eleitoral, o carismático líder Alexis Tsipras prometeu repetidas vezes que, como primeiro-ministro, vai reverter cortes salariais e renegociar com os credores.
O economista Jannis Dragasakis, já considerado o provável futuro ministro das Finanças, é mais diplomático e afirma que o importante é cancelar as medidas de austeridade “de forma política e não jurídica”.
Os principais líderes do partido são acusados de terem dificuldade em encontrar uma linha comum. Nikos Chountis discorda. "Pode ser que isso tenha sido verdade no passado, nunca negamos isso", reconhece. "Diferenças são coisa comum em um partido pluralista de esquerda. No entanto, o partido conseguiu um acordo sobre um novo programa político ainda antes das eleições parlamentares, e deve ser avaliado por isso. Não é justo que uma ou outra citação do passado deva pesar mais agora, só para criar um sentimento contra a esquerda", reclama.
Grandes saques bancários
No começo de maio, uma afirmação de um membro da ala esquerda do partido causou grande agitação no país. O advogado trabalhista Dimitris Stratoulis afirmou durante uma entrevista de rádio que os esquerdistas usariam os depósitos bancários dos cidadãos "de forma direcionada, para estimular a economia". Em seguida, pequenos correntistas sacaram 700 milhões de euros dos bancos gregos em apenas uma semana.
Desde então, somas similares chegam a ser retiradas das instituições financeiras em apenas um dia. Coisas desse tipo irritam o analista econômico Mavridis Thanassis. "É vergonhoso que políticos, que em breve deverão assumir responsabilidades em um governo, aparentemente não saibam como funciona o setor bancário", reclamou em sua coluna no site de notícias Capital.gr.
Segundo a imprensa, filiais de bancos estrangeiros que operam em Atenas já se preparam para uma possível saída da Grécia da zona do euro. O maior banco do país, o Banco Nacional da Grécia, adverte em termos inequívocos para uma saída do euro: essa não é mais "uma hipótese teórica", alerta a instituição em um relatório.
O conservador Nova Democracia se vê como o partido do equilíbrio, que zela para que a Grécia permaneça na zona euro. Mas a Coalizão da Esquerda Radical também tem subido nas pesquisas desde que passou a prometer que vai aproveitar o clima político favorável na Europa para renegociar as condições do pacote de resgate.
O ex-ministro conservador Kostis Hatzidakis, no entanto, enxerga de maneira diferente. "Quando se trata de Grécia, os partidos europeus de centro-direita e de centro-esquerda têm falado quase a mesma língua, mas nossos partidos não gostam de admitir isso", lamenta.
Ele ressalta que, se a esquerda sustenta que simplesmente vai cancelar o programa de austeridade, o país inteiro entra em perigo, especialmente porque a Europa está agora melhor protegida contra os efeitos da saída de um país do euro. "Tentamos deixar claro para os eleitores que mais vale a pena tentar alcançar dentro da zona do euro o melhor para o nosso país, por meio de negociações sérias", diz o político conservador.
Corrida apertada
Ironicamente, os outrora poderosos partidos nacionais, considerados responsáveis pela atual situação econômica do país, querem vender a imagem de salvadores da pátria, com forte apoio de Bruxelas. Será que funciona? "Entendo as reações da população", diz Kostis Hatzidakis. "As pessoas perderam seu bem-estar e seu emprego e vão pagar o preço pelo saneamento da economia grega", reconhece, acrescentando ser mais importante agora que os erros do passado não sejam substituídos por novos erros. "Quando você percebe que está indo a 100 quilômetros por hora na direção errada, então você precisa mudar a direção e não dobrar a velocidade", compara o político conservador.
A atual lei eleitoral proíbe a divulgação de novas sondagens nas últimas duas semanas antes da eleição. Analistas acreditam que haverá uma corrida apertada entre o Nova Democracia e a Syriza pela primeira posição. E pequenas legendas de protesto também podem continuar tendo esperança de conseguir entrar no Parlamento – entre elas, os neonazistas do partido Aurora Dourada.
Autor: Iannis Papadimitriou
Revisão: Mariana Santos