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PolíticaFrança

"Mais de mil policiais feridos" em protestos na França

2 de abril de 2023

Ministro do Interior nega uso excessivo da força nas manifestações contra reforma da Previdência, aprovada pelo presidente Macron via decreto. Sindicatos prometem que não haverá trégua e anunciam novas greves pelo país.

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Policiais enfrentam manifestantes em frente a uma barricada em chamas em protesto em Bordeaux, na França
Ministro do interior da França relatou 2.579 incêndios criminosos e 316 ataques a edifícios públicos´durante os protestosFoto: Moritz Thibaud/abaca/picture alliance

Mais de mil policiais ficaram feridos nos protestos contra a reforma da Previdência em toda a França, afirmou neste domingo (02.04) o ministro Francês do Interior, Gérald Darmanin.

Em entrevista ao Journal du Dimanche, o ministro disse que 1.093 policiais e bombeiros sofreram ferimentos devido aos atos de violência nas manifestações.

Segundo Darmanin, foram contabilizados 2.579 incêndios criminosos e 316 ataques a edifícios públicos. Ele não forneceu os dados referentes aos manifestantes, mas disse que 36 policiais estão sendo investigados por uso excessivo de força.

O ministro, no entanto, rejeitou acusações de que as forças de segurança tenham, de modo geral, abusado do uso da força contra os manifestantes, e ressaltou que o direito à manifestação não inclui atos de violência.

Ele alega que a polícia interviu somente quando os protestos se tornaram violentos, e que a legitimação do uso da força, "mesmo que de maneira robusta", se justificaria como reação á violência extrema provocada por "baderneiros profissionais" cujo objetivo seria "destruir propriedades e matar policiais".

Reforma imposta à revelia do Congresso

Há semanas a França vem sendo tomada por protestos, desde que o governo do presidente Emmanuel Macron decidiu impor o aumento da idade para aposentadoria no país, de 62 para 64 anos.

As novas regras estabelecem que a idade de aposentadoria deve aumentar três meses a cada ano a partir de setembro, até atingir o patamar de 64 anos em 2030. A reforma prevê ainda um aumento do tempo de contribuição para que os trabalhadores tenham direito à aposentadoria completa, de 42 para 43 anos.

No entanto, alguns trabalhadores em profissões consideradas fisicamente ou mentalmente árduas manterão o direito de se aposentar mais cedo do que a maioria da população ativa.

A reforma havia sido aprovada no Senado no início de março, mas incertezas sobre o apoio da maioria dos parlamentares na Assembleia Nacional – a câmara baixa do Parlamento francês – levaram o governo dispensar a aprovação no Legislativo e impor as mudanças por decreto, o que enfureceu ainda mais a oposição e incensou os protestos nas ruas.

As manifestações, que ocorriam majoritariamente de maneira pacífica, se tornaram, em alguns casos, violentas.

Macron argumenta que a medida seria necessária para evitar que o sistema previdenciário entre em colapso à medida que a idade média da população do país aumenta, assim como a expectativa de vida.

Além disso, segundo o presidente, a reforma visa manter a credibilidade financeira do país nos mercados internacionais, onde a França refinancia sua dívida que gira em torno de 110% do Produto Interno Bruto (PIB).

O Tribunal Constitucional da França ainda analisa a legalidade da reforma. Até o momento, o governo francês não sinalizou com a possibilidade de fazer quaisquer concessões às novas regras.

Sindicatos prometem manter protestos

Os sindicatos convocaram uma nova greve nacional para a próxima quinta-feira, enquanto as paralisações ainda continuam a causar transtornos em todo o país, gerando perturbações no tráfego aéreo e no fornecimento de combustíveis aos postos de gasolina.

A nova líder da CGT, o segundo maior sindicato do país, prometeu continuar a luta contra a reforma da Previdência. Sophie Binet, de 41 anos, é a primeira mulher eleita como líder da entidade, fundada em 1895.

Viaturas policiais incendiadas durante protestos contra reforma da Previdência na França
Viaturas policiais incendiadas durante protestos contra reforma da Previdência na FrançaFoto: Jerome Gilles/NurPhoto/picture alliance

Ao assumir a secretaria-geral da CGT, ela prometeu que não haverá trégua com o governo, mas aceitou o convite da primeira-ministra francesa, Elizabeth Bourne, para participar das negociações.

Binet, no entanto, deixou claro que manterá a reivindicação pela suspensão da reforma, e que também devem ser discutidos outros temas referentes às condições de trabalho no país.

A reforma de Macron fez com que, pela primeira vez em muitos anos, a esquerdista CGT se unisse ao sindicato CFDT, de tendência moderada, para organizar as greves que tiveram a adesão de milhões de pessoas em toda a França.

As duas entidades planejam novas ações em antecipação à decisão do Tribunal Constitucional sobre as reformas, anunciada para o dia 14 de abril.

Alemanha adia greves durante a Páscoa

As empresas públicas de transportes da Alemanha decidiram requisitar um procedimento de arbitragem após um novo impasse na terceira rodada de negociações com os sindicatos em torno de questões salariais, o que acabou por eliminar a possibilidade de novas greves durante o feriado da Páscoa.

A última rodada de paralisações no transporte público, no dia 27 de março, resultou na maior greve do país em mais de 30 anos, com impactos em praticamente toda a sociedade alemã.

Os sindicatos exigem aumento de pelo menos 10,5% para os cerca de 2,5 milhões de trabalhadores do setor, devido à alta histórica na inflação alemã, que afeta diretamente os custos de vida.

O procedimento de arbitragem prevê a criação de uma comissão de representantes das duas partes, juntamente com observadores independentes, que deverá apresentar uma proposta para solucionar a disputa, o que está previsto para a segunda metade de abril.

"Fomos bastante longe ao tentar acomodar as demandas dos sindicatos", disse a ministra alemã do Interior, Nancy Faeser, encarregada das negociações por parte do governo. "Mas, os sindicatos não estava prontos para um acordo, Devemos, por isso, iniciar a arbitragem."

Novas paralisações, no entanto, ainda podem ocorrer se os sindicatos rejeitarem a proposta da comissão.

rc (Reuters, AFP)