Os últimos números do IBGE sobre o mercado de trabalho são impressionantes à primeira vista: 8,2 milhões de novos empregos foram criados no Brasil desde março do ano passado. E não são informais, mas com carteira assinada. Esses empregos seguros aumentaram em 11%, e o número de assalariados é o maior desde 2012.
O desemprego diminuiu significativamente. Há um ano, quase 15% dos brasileiros aptos a trabalhar estavam sem emprego. Hoje, a cifra é de 11%, ou pouco menos de 12 milhões de pessoas. Trata-se da menor taxa desde 2016, quando a recessão e, depois, a pandemia ainda não haviam levado a cortes maciços de empregos. Alguns especialistas esperam que a taxa de desemprego possa chegar a um dígito ainda neste ano. Isso seria uma surpresa positiva.
Ainda assim, os números são deprimentes quando se analisa o todo. Quase um quarto da população apta a trabalhar está desocupada ou subocupada. Muitos pararam de procurar emprego, apesar de quererem trabalhar. Outros gostariam de trabalhar mais. Muito jovens não frequentam a escola ou a universidade nem trabalham. Quando um quarto da força de trabalho não está integrada ao processo produtivo, trata-se de uma catástrofe não apenas social, mas também econômica. Pois, com isso, a produtividade da economia diminui.
Outro indicativo dessa baixa produtividade é a ainda elevada informalidade: cerca de 40% dos trabalhadores estão no setor informal e, portanto, não contribuem para a Previdência nem pagam impostos. Além disso, seus salários são mais baixos do que no setor formal.
Como resultado, as pessoas têm menos dinheiro à disposição do que nunca: com um salário médio de R$ 2.548, os brasileiros e brasileiras ganham quase um décimo (9%) menos do que há um ano. Se analisada a renda per capita, as pessoas têm, em termos nominais, a menor quantia no bolso desde 2012. Isso significa que, em uma década, os salários estagnaram nominalmente no Brasil. Em termos reais, no entanto, eles claramente perderam valor, pois a inflação reduziu significativamente o poder de compra.
Isso não mudará muito se os números de emprego continuarem a subir como nos últimos 12 meses. Porque a demanda por empregos continua simplesmente muito maior do que a oferta, o que significa que os salários praticamente não vão subir. Pessoas que não têm emprego estão dispostas a trabalhar também por um salário mais baixo.
O paradoxo é que nos países industrializados cada vez mais empregos permanecem vagos e os salários aumentam porque não há trabalhadores suficientes. No Brasil, é o contrário.
E isso não vai mudar muito no curto prazo: as previsões de crescimento são cada vez piores – não apenas para 2022, mas também para 2023. A economia brasileira não deve crescer mais de 1% nem neste ano nem no ano que vem. E, ao mesmo tempo, a inflação deverá ficar, na melhor das hipóteses, em torno de 8% no final deste ano.
Essa é a nova e triste realidade do mercado de trabalho brasileiro.
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.