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Manchester mostra solidariedade depois do atentado

Elizabeth Schumacher | Lars Bevanger as
23 de maio de 2017

Metrópole britânica é dominada por quietude pouco usual, mas determinada a permanecer solidária e unida como centro multicultural. Moradores fazem vigília em homenagem às vítimas.

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Vigília reuniu milhares de pessoas em Manchester
Vigília reuniu milhares de pessoas em ManchesterFoto: Reuters/D. Staples

Uma quietude pouco usual paira sobre a cidade de Manchester. A agitação normal dos engarrafamentos da hora do rush deu lugar a uma procissão silenciosa, pois a polícia havia bloqueado boa parte da área central da cidade, nas proximidades da Manchester Arena, onde 22 pessoas foram mortas e mais de 50 ficaram feridas num atentado ocorrido logo após o fim de um show da cantora pop Ariana Grande.

"É uma atmosfera calma. É realmente estranho, pois esta hora costuma ser agitada. É mesmo uma Manchester bem diferente", comentou o consultor financeiro Steve White, que estava indo para o trabalho.

Enquanto muitas pessoas expressavam perplexidade e tristeza, principalmente porque o sucesso de Ariana Grande entre os adolescentes significa que há um grande número de jovens entre os mortos, moradores da cidade deixavam claro que não vão se deixar levar pelo ódio. Para eles, a solidariedade e a coesão eram muito mais importantes.

Reação do público à explosão em Manchester

"O lado bom das pessoas está se sobrepondo", disse White, em referência à solidariedade que podia ser percebida na cidade logo após o ataque. De fato, após a explosão, a hashtag #RoomForManchester entrou nos trending topics das mídias sociais à medida em que moradores começaram a oferecer suas residências para as pessoas vitimadas pela violência.

Nenhum grupo terrorista reivindicou responsabilidade pelo ataque. Nas mídias sociais, logo se falou em terrorismo islâmico, mas a polícia foi cautelosa e disse que as investigações estão em andamento e só iria se pronunciar quando soubesse mais. A população de Manchester, porém, fez questão de expressar seu orgulho pela sua identidade multicultural. Numa cidade onde cerca de 16% da população é muçulmana, todos estavam sofrendo como mancunienses [designação para o habitante da cidade].

Nas ruas, as pessoas estavam determinadas a não deixar que o terrorismo as afastasse de sua rotina. Se elas não podem ir de carro para o trabalho, então vão a pé. A vida continua.

Os moradores fizeram ainda nesta terça-feira uma vigília em solidariedade com as vítimas do atentado. A homenagem reuniu milhares de pessoas em frente à prefeitura da cidade.

"Não temos medo", diz cartaz de participante da vigília
"Não temos medo", diz cartaz de participante da vigíliaFoto: Reuters/P. Nicholls

A "vigília de paz" reuniu representantes de várias religiões e membros das autoridades locais. Um dos oradores foi o bispo de Manchester, David Walker, que apelou à união das diferentes comunidades. "Vamos ser ainda mais fortes do que antes", disse. 

O poeta Tony Walsh leu um texto da sua autoria sobre a cidade com o tema "This is the Place". A leitura foi seguida por um minuto de silêncio. Os participantes da vigília seguravam cartazes com um coração e a sigla da cidade MCR.

Memórias da violência do IRA

Para os moradores mais antigos, que ainda se lembram de The Troubles, o episódio trouxe à memória lembranças ruins do conflito com o grupo terrorista irlandês IRA – mas também deixou claro que, ao longo de décadas, Manchester teve que se habituar à ameaça terrorista.

"Isso me lembra 1996… todas as memórias voltam à tona", disse White, referindo-se a um ataque com um caminhão executado pelo IRA em junho daquele ano, também no centro da cidade. Nenhum pessoa morreu, mas 212 ficaram feridas na maior detonação de uma bomba no Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial.

"Foi uma tragédia horrível. Eu vi todos aqueles adolescentes indo para o show ontem à noite, o meu escritório fica logo atrás da arena. Era uma atmosfera fantástica, todos aqueles jovens, na verdade pessoas de todas as idades", relatou.

A explosão ocorreu pouco depois do fim do show, numa das saídas da arena. Segundo as autoridades, "num espaço público do lado de fora" do estádio.

Testemunhas relataram cenas de caos e gritos de horror, além de corpos ensanguentados de pessoas que acabaram de assistir ao espetáculo. Uma mulher que acompanhou a filha de 11 anos disse que uma grande confusão se formou no local depois da explosão, com pessoas tentando fugir. Uma outra mulher disse que acolheu duas meninas no seu hotel até elas conseguirem localizar os pais.