Manifestantes desafiam polícia em Hong Kong
3 de agosto de 2019Milhares de manifestantes pró-democracia se reuniram neste sábado (03/08) em Mongkok, um movimentado bairro comercial de Hong Kong, com um histórico de manifestações pró-democracia. Do outro lado da cidade, partidários do governo acenaram cartazes que diziam: "Dê uma chance à paz".
Desde as 16h (hora local, 5h de Brasília), segundo os organizadores, cerca de 120 mil manifestantes se reuniram no bairro de Mongkok. Os ativistas ignoraram os limites impostos pela polícia e ultrapassaram o local definido para o fim da manifestação nas ruas da ex-colônia britânica. Eles ergueram barricadas num popular shopping do bairro e bloquearam um túnel importante.
Os manifestantes retiraram uma bandeira chinesa do mastro atiraram-na à água no porto de Vitória após a manifestação pró-democracia ter desrespeitado o percurso aprovado pela polícia. Após os manifestantes terem ocupado uma delegacia no distrito de Tsim Sha Tsui, a polícia reagiu com granadas de gás lacrimogêneo.
A polícia de Hong Kong alertara os manifestantes contra o desvio da rota aprovada para a marcha pró-democracia. Autoridades disseram que agiriam se os manifestantes se recusassem a cumprir as ordens da polícia, enquanto os militares chineses sinalizavam que estariam preparados para intervir se a situação se tornar "intolerável".
No entanto, o editor-chefe do jornal estatal Global Times, Hu Xijin, sugeriu que uma intervenção militar é improvável. "O Exército de Libertação do Povo de Hong Kong é um símbolo da soberania nacional e não pode ser considerado como apoio policial", disse Hu.
Mas isso não impediu os manifestantes de se preocuparem com o crescente uso da violência contra os ativistas pela polícia da região semiautônoma chinesa.
"Estou um pouco preocupado se a força policial pode usar meios violentos contra os manifestantes, porque a rota da manifestação é um pouco estreita, e se quisermos deixá-la, pode ser difícil escapar da polícia", disse um manifestante.
Nesta semana, autoridades em Hong Kong e Pequim sinalizaram uma postura de endurecimento, inclusive com a prisão de dezenas de manifestantes, e os militares chineses disseram estar prontos para acabar com a agitação "intolerável" se solicitada.
Mas os manifestantes permaneceram inflexíveis, prometendo realizar várias manifestações e marchas durante todo o final de semana até a semana que vem, aumentando mais uma vez as tensões.
Inicialmente a polícia negou autorização aos ativistas para marchar pelos arredores de Mongkok, mas depois permitiu um recurso – embora os manifestantes tenham passado do ponto final designado e continuado marchando.
Muitas lojas e shoppings no popular bairro de compras permaneceram fechados. Duas marchas também estão programadas para o domingo – uma na ilha de Hong Kong e outra no distrito de Tseung Kwan O – além de uma greve na segunda-feira e manifestações em sete localidades.
O pedido de paralisação parece estar ganhando mais força do que as greves anteriores, com uma série de organizações e sindicatos prometendo ingressar.
Na sexta-feira à noite, milhares de funcionários públicos reuniram-se num parque público para demonstrar solidariedade com o movimento, que cresceu e agora inclui exigências de eleições diretas e uma investigação a alegada brutalidade policial.
Os residentes de Hong Kong acusaram a polícia de negligência depois de 44 pessoas terem ficado feridas no mês passado num ataque que aparentemente era dirigido aos manifestantes. As autoridades declararam que os seus recursos estão no limite devido às manifestações prolongadas.
O local da manifestação deste sábado, Mongkok, é uma área onde os manifestantes instalaram uma zona de protesto pró-democracia em 2014.
As manifestações deste fim de semana são mais um capítulo dos protestos de rua, iniciados em junho contra um polêmico projeto de lei que permitiria que habitantes de Hong Kong fossem extraditados e processados judicialmente na China continental.
Para os críticos, se essa lei for aprovada, ela intimidará e penalizará oposicionistas e dissidentes do regime chinês. Já os defensores argumentam que ela visa preencher um vácuo, já que não existem fórmulas legais de extradição entre Taiwan, Hong Kong e a China continental.
A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respectivamente, decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas", precisamente o que os opositores às alterações da lei garantem estar agora em questão.
Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, em nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o governo central chinês responsável pela política externa e de defesa.
CA/afp/lusa/dw
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