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Páscoa com protesto

3 de abril de 2010

Na época da Guerra Fria, desarmamento nuclear era a principal reinvidicação. Cinco décadas depois, manifestantes saem às ruas em protesto a outras guerras.

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Pacifistas protestam em muitas cidades alemãsFoto: AP

Há 50 anos, pela primeira vez, pacifistas alemães ganhavam as ruas para protestar contra as armas nucleares. Era a Páscoa de 1960: cerca de 1.200 pessoas marcharam rumo ao campo militar de Bergen-Hohne pedindo o fim de treinamento com armas atômicas pelas tropas alemãs.

O protesto virou tradição no feriado de Páscoa e se espalhou rapidamente para mais de 300 cidades da Alemanha Ocidental, com a participação de mais de 300 mil pessoas.

Cinco décadas após a primeira manifestação, a temática original se soma a uma outra preocupação da sociedade alemã: a situação no Afeganistão. Os protestos começaram na quinta-feira (01/04) e se estendem até a segunda-feira depois da Páscoa.

"Aqui no leste da Alemanha, você nota um empobrecimento cada vez maior. E você tem que se perguntar: por que tanto dinheiro é gasto em guerra em vez de ser direcionado aos pobres?", questiona Ute Hinkeldein, porta-voz da organização Coordenação pela Paz da Turíngia.

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Marcha de Páscoa de 1991, na região do RuhrFoto: Manfred Scholz

O contexto de 50 anos atrás

Em abril de 1957, em plena Guerra Fria, o então presidente alemão Konrad Adenauer falou numa coletiva de imprensa sobre o poderio nuclear do país, qualificando as armas atômicas como mero desenvolvimento da artilharia.

Imediatamente formou-se uma oposição política contra a ideia de Adenauer. O movimento batizado de "guerra contra a morte atômica" ganhou rápida adesão da Igreja e de setores da sociedade civil.

No entanto, o movimento não conseguiu evitar que, em 25 de março de 1958, o Parlamento alemão aprovasse o plano do governo Adenauer. A campanha de resistência ganhou força e foi nesse contexto que a primeira manifestação aconteceu.

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Manifestação em Duisburg - Dortmund, em abril de 1984Foto: Manfred Scholz

Mudanças de rumo

A participação das marchas de Páscoa variou nas últimas décadas. Willi Hoffmeister, de 70 anos, participou de várias delas na cidade de Dortmund, no começo da década de 1960.

"Se você olhar o jeito que começamos, como éramos poucos e intimidados... Não havia um reconhecimento do nosso movimento pela sociedade", contou em entrevista à Deutsche Welle.

Depois de conquistar mais participantes nos anos 1960, a marcha perdeu força na década de 1970 – naquela época, o presidente alemão Willi Brandt relaxou as políticas contra a União Soviética e a Alemanha Oriental, o que amenizou de certa maneira a tensão política na Alemanha.

No entanto, a corrida armamentista e o crescente medo de uma guerra nuclear nos anos 1980 deram novo impulso às marchas de Páscoa. "As bombas estavam prestes a cair sobre nós, e foi por isso que o movimento voltou com força", lembra Hoffmeister.

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Primeira marcha contra o desarmamento nuclear aconteceu em Londres, em 1958Foto: AP

Novo recomeço?

As atenções dos manifestantes em 2010 estão voltadas para o Afeganistão: o governo alemão decidiu, recentemente, enviar mais 850 soldados ao país.

Segundo Ute Hinkeldein, teme-se que o conflito no Afeganistão termine como a Guerra do Vietnã – com altos custos para a sociedade e sem uma vitória decisiva.

"Acredito que a guerra é sempre uma solução errada. Se realmente quisermos e formos capazes da ajudar as pessoas, então devemos fazer isso por meio de organizações de ajuda humanitária", opina.

A pacifista diz que muitos cidadãos, pelo menos no leste da Alemanha, cresceram desiludidos com a própria capacidade de provocar mudanças – afinal, há décadas os manifestantes pedem o desarmamento.

"Estamos tentando fazer com que as pessoas voltem. A marcha de Páscoa é uma prática democrática com a qual os cidadãos exercem sua cidadania", finaliza.

Autores: A. Bowen/ A. Zumach/ N. Pontes
Revisão: Simone Lopes