Marcha desafia Erdogan
10 de julho de 2017Centenas de milhares de pessoas foram neste domingo (09/07) às ruas de Istambul, na Turquia, no encerramento de uma marcha pacífica que percorreu 450 quilômetros, desde Ancara, capital do país, para pedir justiça e protestar contra o governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.
Entre as principais reivindicações do protesto estão a libertação de presos políticos, democracia e o fim do estado de emergência, vigente no país há quase um ano, desde o fracassado golpe de Estado, em 15 de julho do ano passado.
O comício final do evento, no parque costeiro de Maltepe, no lado asiático da cidade, reuniu, segundo os organizadores, um milhão e meio de pessoas. Nele, o líder opositor turco Kemal Kiliçdaroglu, chefe do social-democrata Partido Republicano do Povo (CHP), maior legenda opositora no Parlamento, fez um discurso pedindo a união das forças de oposição.
O político pediu também que os ativistas não levassem bandeiras de partidos, para ressaltar "a unidade do povo contra as políticas de Erdogan" e sua sigla conservadora, de orientação islâmica, Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), no poder desde 2002.
O desafio agora, segundo Kiliçdaroglu, é forjar uma aliança entre os oponentes de Erdogan, abrangendo ideologias religiosas, étnicas e políticas. Ele ressaltou que a tarefa não deverá ser fácil, mas, depois de liderar uma marcha da qual participaram até 50 mil ativistas nos últimos quilômetros do percurso, o social-democrata disse ser seu dever se tornar a principal voz da oposição, sobretudo após o referendo constitucional de abril, que consolidou os poderes governamentais sob a presidência de Erdogan, em meio a alegações de fraude eleitoral.
Kiliçdaroglu fez críticas duras ao governo turco, denunciando que o país vive "um tempo de ditadura" e comparando os expurgos realizados em instituições estatais ao que fez o ditador nazista Adolf Hitler.
A marcha de Ancara até Istambul se converteu rapidamente em um protesto suprapartidário, apesar das críticas dos seguidores de Erdogan e do próprio presidente, que chegou a acusar os manifestantes de apoiar o terrorismo.
Segundo a maioria dos analistas, a imagem de Kiliçdaroglu – pouco carismático e criticado com frequência dentro e fora do partido por não adotar uma linha militante contra o presidente e seu AKP – mudou com a realização da marcha, se consolidando como o líder de toda a oposição.
"Ninguém pense que terminamos aqui esta marcha. Este é o primeiro passo. Este 9 de julho é um novo começo", prometeu.
A marcha foi o primeiro grande movimento nas ruas da Turquia contra Erdogan desde a revolta de Gezi, um protesto que começou com cunho ambiental em Istambul em 2013, mas logo se tornou um movimento político em várias cidades do país.
MD/efe/dpa