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A moeda-zumbi

7 de janeiro de 2012

A Alemanha é um dos poucos países da União Europeia a garantir, por prazo ilimitado, a possibilidade de trocar sua antiga moeda corrente por euros. As reservas de marcos em todo o mundo ainda são consideráveis.

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Marcos e pfennigeFoto: DW

"Você também pode pagar com marco alemão!", promete o prospecto da loja de artigos de armarinho: uma mensagem desconcertante, dez anos após a introdução do euro no país.

Das Weiterleben der D-Mark
Pequenos e grandes comerciantes de olho na 'moeda-zumbi'Foto: DW

O local é um estacionamento no bairro berlinense de Lichtenberg: duas mesas contendo retrós, sutiãs, pilhas e elásticos. "Não é um truque de publicidade", assegura o vendedor, um homem corpulento que atende pelo pseudônimo artístico de Willy Winzig (Willy Miudinho). "As pessoas têm o dinheiro ali, largado em casa, e muitas vezes nem sabem o que fazer com ele". É dinheiro suado, comenta, erguendo uma sacolinha de plástico cheia de moedas.

De fato, não convém subestimar o potencial comercial do marco: mesmo oficialmente morto há dez anos, ele mantém seu poder de compra. Embora não haja estatísticas exatas a respeito, calcula-se que ainda haja 13,3 bilhões de marcos pelo mundo afora, metade em cédulas, metade em moedas – o equivalente a 4,8% da soma em circulação em 2000.

Animação suspensa

Não apenas os varejistas de Lichtenberg, mas também as grandes empresas gostariam de ter em seus cofres uma fatia desse bolo. Assim, os 48 mil telefones públicos da Deutsche Telekom ainda aceitam sem restrições a moeda-zumbi. As caixas registradoras da cadeia de lojas C&A dispõem de um item "DM" (Deutsche Mark) em seus menus; e chegam a 150 mil marcos alemães as quantias gastas todo mês com meias, calcinhas, camisetas e outras peças de vestuário.

Enquanto os bancos pagam um euro por cada 1,95 marco, Willy Winzig cobra 2,10 marcos. "É um pouco mais do que o câmbio oficial, mas nós ainda temos que ir até o Bundesbank e entrar na fila", argumenta. Em média, 85 clientes por dia vão trocar seu dinheiro velho por euros na filial de Berlim. E já deixaram lá 9 milhões de marcos: tanto o estudante que ganhou de presente da avó uma nota de 50 como o casal de Brandemburgo que conseguiu juntar uma sacola cheia de moedas ao arrumar o armário da sala.

Em cofrinhos, casas que são esvaziadas, paletós esquecidos e livros empoeirado, o dinheiro continua em animação suspensa, só esperando para voltar à circulação. O marco alemão manteve uma longa tradição como moeda à prova de crises, portanto faz sentido que circule nos tempos atuais, dez anos após a introdução do euro.

D-Mark Banknoten / Geldscheine
Muitos alemães têm saudades do 'deutsche mark'Foto: Bundesbank

Afeição e fortunas

Mas não são todos os Estados europeus que garantem a possibilidade de troca por tempo ilimitado. Somente cinco aceitam o dinheiro antigo em forma de moedas, e nove recebem cédulas. Em alguns países, o prazo para troca se esgota nos próximos anos. A França e a Finlândia serão as próximas a suspender a aceitação de cédulas antigas. E quem ainda pretender converter suas dracmas – apesar das ameaças de Atenas de abandonar o euro – deve fazê-lo até 1º de março de 2012.

A Alemanha lida de maneira extremamente respeitosa com sua antiga moeda corrente. Albrecht Sommer, da diretoria do Bundesbank em Berlim, explica: "Também fazemos isso porque há reservas muito grandes de marcos fora da Alemanha". Afinal, em alguns países dos Bálcãs, ele era uma espécie de segunda moeda oficial, e o banco quer manter as portas abertas para os proprietários estrangeiros.

Das Weiterleben der D-Mark
Albrecht Sommer, do BundesbankFoto: DW

"Isso também se deve ao fato de os alemães terem se afeiçoado tanto ao seu deutsche mark", justifica Sommer. Mas, sentimentalismos à parte, o bancário não tem dúvida: o tempo do marco alemão passou: "O dinheiro que chega a nós vai todo para o picador de papéis", sentencia.

Autoria: Heiner Kiesel (av)
Revisão: Alexandre Schossle