Marechal leva esperança de estabilidade, mas temor de retrocesso ao Egito
27 de março de 2014Abdel Fattah al-Sisi, ministro da Defesa e responsável por derrubar o último governo eleito do Egito, anunciou na quarta-feira (26/03) seu afastamento das Forças Armadas para concorrer à Presidência. A decisão já era esperada e foi uma formalidade – a Constituição egípcia não permite que militares se candidatem. Mas preocupa observadores, que veem uma tentativa do marechal de consolidar seu poder num país politicamente instável.
Nascido no Cairo em 1954, Sisi fez carreira exitosa nas Forças Armadas. Quando a revolta de 2011 derrubou o ditador Hosni Mubarak, inicialmente, o Conselho Supremo das Forças Armadas assumiu o poder – e Sisi estava entre o grupo de oficiais.
Em 2012, a Irmandade Muçulmana venceu as primeiras eleições livres no Egito, e o islamista Mohammed Morsi tornou-se presidente. Ele promoveu Sisi, um muçulmano ferrenho, a novo comandante do Exército e ministro da Defesa. Mas quando os conflitos políticos e sociais escalaram no país, em 2013, o militar voltou-se contra o presidente eleito.
Após as manifestações em massa contra os islamistas, Sisi depôs o presidente em 3 de julho de 2013. No governo de transição civil, ele manteve o seu posto como ministro da Defesa e chefe do Exército e tornou-se vice-primeiro-ministro. Então, já era considerado o homem forte no Estado.
Popularidade
Se for eleito, não será surpresa: muitos egípcios já declararam apoio a Sisi. "Ele goza de grande popularidade entre os egípcios", explica o cientista político Mustafah el-Sayed, da Universidade Americana no Cairo. Segundo ele, o setor econômico também apoia o militar – só os seguidores da Irmandade estariam contra ele.
Já há vários meses um culto de personalidade vem se formando em torno de Sisi. O seu retrato está espalhado por quase todo o Egito. A mídia está fazendo grande campanha a seu favor. Ronald Meinardus, chefe do escritório da Fundação Friedrich Naumann no Cairo, acredita que o entusiasmo é verdadeiro. "Quando se fala com os egípcios, constata-se uma adoração por esse homem que beira a irracionalidade", diz.
Os egípcios esperam que Sisi encontre soluções imediatas para os vários problemas enfrentados pelo Egito. A sociedade está profundamente dividida, e a economia, fragilizada. Além disso, grupos terroristas amedrontam a península do Sinai e outras regiões, e a Irmandade Muçulmana não abandona a luta pelo poder.
De acordo com Sayed, a principal meta do futuro presidente será restaurar a estabilidade, perdida desde a queda de Mubarak. Até agora, a polícia e os militares veem a Irmandade Muçulmana principalmente como um foco de conflito. Centenas de pessoas morreram nos confrontos violentos. Após ser classificada como organização terrorista, a Irmandade teve 529 apoiadores condenados à morte.
"Não parece que ele tem tido êxito até agora", afirmou Sayed sobre o confronto político interno. Segundo ele, por esse motivo, outros caminhos são necessários para acalmar a situação.
Liberdades
Meinardus explica que, no Cairo, a estabilidade é considerada um pré-requisito para a solução de todos os outros problemas. Mas o caminho até lá, alerta o especialista, não deverá ser democrático. "Isso acontece à custa de graves violações dos direitos humanos", critica o representante da Fundação Friedrich Naumann. Além da Irmandade Muçulmana, grupos de liberais e intelectuais também reclamam de uma crescente restrição das liberdades civis.
Mesmo assim, a vitória eleitoral do militar de 59 anos parece não estar ameaçada. Um rival à altura não está à vista. Segundo Meinardus, como um chefe de Estado forte, Sisi vai, provavelmente, inibir o desenvolvimento de partidos democráticos. Poucos meses após a eleição presidencial, os egípcios deverão eleger um novo Parlamento.
Meinardus diz que, na Assembleia Popular, o presidente deverá assegurar o apoio dos deputados, que deverão implementar a sua política e ser guiados por ele. "Os partidos com conteúdos programáticos, que começam a se formar, deverão ser enfraquecidos por essa tendência", afirma o especialista.
Sisi parece se encaixar na tradição de antigos chefes de Estados oriundos das Forças Armadas, como Mubarak e Anwar al-Sadat. Mesmo sem uniforme, Sisi deverá assegurar muitos privilégios aos militares. No entanto, de acordo com Meinardus, nem tudo permanecerá como antes: "A diferença é que as pessoas perderam o medo e Sisi não poderá esperar que elas fiquem caladas como ficaram durante 30 anos do regime Mubarak."