Marechal Sisi se firma como figura política mais forte do Egito
28 de janeiro de 2014Quando, em meados de 2012, Abdel Fattah al-Sisi foi nomeado pelo então recém-eleito presidente Mohamed Morsi como ministro da Defesa, ele prometeu que tentaria abrir caminho para uma transição democrática de um regime civil para um militar. Um ano depois, esteve por trás do golpe contra o próprio Morsi – e alegou agir em defesa da revolução.
Nesta terça-feira (28/01), com a patente de marechal de campo (a mais alta do Exército egípcio) e o cargo de vice-primeiro-ministro, o homem que se alça como a figura política mais forte do Egito é candidato a presidente. E, com isso, abre caminho para que o país volte a ter no governo presença militar similar àquela que a Primavera Árabe derrubou em 2011.
Ícone nacionalista
Abdel Fattah al-Sisi é hoje um ícone nacionalista em seu país. Sua figura é adorada pelos apoiadores do histórico líder Gamal Abdel Nasser, que governou o Egito de 1954 a 1970. Muitos já dizem que vão votar nele nas eleições.
"Ele tem grande popularidade entre as classes mais baixas do Egito", diz à DW Mustapha el-Sayed, cientista político da Universidade Americana do Cairo. "Só os adeptos da Irmandade Muçulmana estão contra ele."
Entre os pontos em comum de Nasser e Sisi está o fato de ambos terem sufocado a Irmandade Muçulmana. Mas ao contrário de Nasser, que costumava defender aos brados o pan-arabismo, Sisi tem fala mansa e faz raros discursos.
O ex-ditador Hosni Mubarak, derrubado pela revolta popular de 2011, apontou Sisi como chefe da inteligência militar de seu governo. Com 59 anos, ele é também um dos generais mais jovens do país. Após a queda de Mubarak, em fevereiro de 2011, ele se tornou o membro mais jovem do Supremo Conselho Militar e chefe da inteligência militar.
Sisi foi criticado por ter justificado publicamente, em 2011, agressões sexuais de soldados a mulheres egípcias, os chamados "testes de virgindade". Após indignação internacional, Sisi reviu sua posição e anunciou que tais "exames" não ocorreriam mais.
Rápida ascensão
Em agosto de 2012, após a queda do então ministro da Defesa, Mohammed Hussein Tantawi, Morsi nomeou Sisi para o cargo, por duvidar, ironicamente, da lealdade de seu antecessor. Os oponentes dos islamistas comentaram na época que o marechal havia sido escolhido por que também seria ele próprio um islamista.
Mais tarde, motivados pelos milhões de manifestantes que saíram às ruas exigindo a saída dos islamistas do poder, os militares, sob o comando de Sisi, lançaram um ultimato a Morsi em seus últimos dias no palácio presidencial.
Ao mesmo tempo, Sisi compareceu a um pronunciamento público de Morsi que visava intimidar seus oponentes. Na primeira fila, o então general aparecia sorridente enquanto o presidente sequer desconfiava que seria ele o responsável por sua prisão alguns dias mais tarde.
Desde então, Sisi se tornou a figura política mais popular do país, costumeiramente comparado a Nasser por seus admiradores, que o incentivam a candidatar-se à presidência nas próximas eleições. O militar havia declarado que se candidataria caso houvesse "clamor popular" em torno de seu nome.
Para seus apoiadores, Sisi é a única figura capaz de levar estabilidade a um país que, desde a queda de Mubarak, vive em constante convulsão. Para seus detratores, por outro lado, ele representa o resquício do antigo regime e não será capaz de tomar as medidas necessárias para colocar o país nos trilhos do progresso.
A repressão das forças policiais contra os islamistas causou mais de mil mortes e centenas de prisões foram efetuadas. O slogan "CC é um assassino" – "CC" é a maneira como é resumidamente grafado o nome do marechal – pode ser visto pichado por toda a capital pelos manifestantes islamistas, que continuam a exigir o retorno de Morsi à presidência.
Mas esses slogans estão em uma quantidade bem menor do que as muitas imagens do hoje marechal estampadas em cartazes colados nas paredes, em janelas de automóveis e até mesmo em bolos vendidos nas confeitarias do Cairo.
Muçulmano devoto
Para seus apoiadores, Sisi é um homem humilde e piedoso, que se comunica através de discursos ocasionais – utilizando uma linguagem popular, ao invés do árabe clássico –, reforçando sua devoção ao bem-estar de seus seguidores. Já os apoiadores de Morsi o comparam a um faraó e aos vilões das histórias islâmicas.
O marechal é tido como um muçulmano devoto. Como a maioria das mulheres seguidoras do islamismo, a mulher de Sisi costuma cobrir a cabeça com um véu. Um de seus assistentes afirmou que o militar realiza, pontualmente, as cinco preces diárias muçulmanas.
Sisi nasceu em 1954, próximo à mesquita Hussein, um local de peregrinação no Cairo, e foi admitido na academia militar em 1977. Durante seus estudos na Faculdade do Exército dos Estados Unidos, em 2006, ele escreveu uma tese onde afirmava que o apoio dos formadores de opinião muçulmanos é fundamental para governar no Oriente Médio.
Se eleito, Marechal governará um país profundamente dividido – onde os apoiadores de Morsi realizam com frequência atos de protesto que costumam resultar em confrontos com polícia, e os islamistas fazem ataques cada vez mais ousados contra as forças de segurança.