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Massais se engajam na preservação de rinocerontes

Andrew Wasike, de Nairóbi (pv)10 de agosto de 2015

Caça sempre foi rito de passagem para esse grupo étnico africano. Mas agora eles adotaram o críquete para arrecadar recursos e conscientizar sobre a proteção da vida selvagem, em especial do rinoceronte branco do norte.

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Membros da equipe de críquete Massai Warriors posam com Sudan, o único rinoceronte branco do norte machoFoto: DW/A. Wasike

Bem no coração do parque de proteção da vida selvagem Ol Pejetea Conservancy, no Quênia, uma multidão de espectadores de todo o mundo se reuniu para assistir a uma partida de críquete naquele que provavelmente é o campo de críquete mais remoto e belo do mundo.

Os massais – um grupo étnico africano seminômade – são conhecidos por serem guerreiros temíveis que têm na caça de leões um tradicional ritual de passagem para a idade adulta. Mas este grupo de 24 guerreiros se reuniu por outro motivo.

Vestidos com os seus tradicionais trajes de mantas e enfeites coloridos, eles se reuniram ao pé do Monte Quênia para aumentar a consciência sobre a ameaça existencial aos rinocerontes brancos do norte.

Estes gigantes de duas toneladas estão à beira da extinção. A caça ilegal reduziu a sua população para apenas quatro animais – em todo o mundo. O Ol Pejetea Conservancy, em Laikipia, hospeda três dos últimos rinocerontes brancos do norte: o único macho sobrevivente da espécie, Sudan, e duas fêmeas, Najin e Fatou.

O outro rinoceronte branco do norte está no zoológico Safari Park de San Diego, na Califórnia. Um quinto morreu em 27 de julho, no zoológico Dvur Králové, na República Tcheca.

Kenia Sport Maasai spielen Cricket in Laikipia
Jogos de críquete também são meio para propagar conhecimentos sobre saúde sexual e igualdade de gêneroFoto: Getty Images

Da caça à preservação

Os guerreiros massais competiram contra a equipe de críquete da unidade de treinamento das Forças Armadas britânicas para arrecadar fundos contra a ameaça da caça ilegal no Quênia.

Até há alguns anos, os massais são sabiam nada sobre críquete. Até que a pesquisadora sul-africana de babuínos Aliya Bauer apresentou-lhes o esporte num esforço para desencorajar a tradicional caça de animais selvagens.

O capitão dos Massai Warriors, Sonyanga Ole Ngais, diz que eles esperam ajudar a salvar os rinocerontes ameaçados de extinção. "Desde tempos imemoriais, os massais são conhecidos por práticas pastoris e por serem adeptos da caça, mas estamos tentando mudar essa cultura. Estamos tentando ter certeza de que todos tenham uma consciência conservacionista", explica Ngais.

"Estamos tentando dizer às pessoas para que tragam suas energias e ideias e tentem realmente preservar o meio ambiente", diz o capitão da equipe massai de críquete.

Especialistas do Ol Pejetea Conservancy – um dos maiores santuários de rinocerontes na África Oriental, com 36 mil hectares – afirmam que o futuro dos rinocerontes brancos do norte está por um fio.

Southern White Female Rhino
Uma fêmea de rinoceronte branco do sul pode servir de barriga de aluguel para salvar a subespécie do norteFoto: DW/A. Wasike

Fertilização pode ser a única salvação

A esperança de toda a espécie está em Sudan, de 42 anos. Mas, já em idade avançada, ele tem sido incapaz de montar uma fêmea. E pesquisadores do santuário dizem que, mesmo que aconteça uma relação sexual, a concepção seria improvável por causa da má qualidade do esperma.

E as duas potenciais companheiras de Sudan também não estão mais na flor da idade. Najin, de 25 anos, tem um útero degenerado que não suportaria uma gravidez. E, aos 30 anos, Fatou também está muito velha para acasalar.

Cientistas afirmam que a única maneira de produzir um filhote de rinoceronte branco do norte é pela fertilização in vitro. Óvulos de fêmeas de rinocerontes brancos do norte seriam fertilizados com o esperma de Sudan em laboratório. O embrião resultante seria implantado no útero de uma fêmea de rinoceronte branco do sul que ainda seja jovem e saudável o suficiente para a gestação.

Mas o diretor do Ol Pejetea Conservancy, Richard Vigne, explica que a fertilização in vitro não sai barato. "A outra técnica é a inseminação artificial em fêmeas de rinocerontes brancos do sul para criar um mestiço", diz Vigne. "Não é o ideal, mas é melhor do que nada. De qualquer maneira, será um processo longo e caro."

E, por isso, a organização espera que doações de pessoas interessadas na salvação da subespécie ajudem a financiar o projeto.

Maasai warrior warming up before a cricket match
Em vez da caça como prova de masculinidade, o críquete ocupa o tempo dos jovens guerreiros massaisFoto: DW/A. Wasike

Educação e conscientização em escolas

Os guerreiros massais estão fazendo a sua parte. O tempo antes gasto com caças é agora dedicado ao críquete e a espalhar a conscientização sobre a conservação. "Os massais são hoje mais preservacionistas do que perseguidores da vida selvagem", resume Vigne. "Não que eu ache que eles eram reais perseguidores da animais selvagens. Eles costumavam caçar leões como uma demonstração de masculinidade, mas na verdade eles coexistiram muito bem com a vida selvagem."

A equipe de críquete Massai Warriors também visita escolas em todo o norte de Laikipia, educando crianças sobre questões ambientais, além de saúde sexual e igualdade de gênero. Eles promovem a paz e a conservação ambiental, além de ensinar a jogar críquete.

Os massais perderam a partida contra a equipe militar britânica, mas, a julgar pelo número de doações dos espectadores, eles podem estar num bom caminho para ganhar a batalha para salvar o rinoceronte branco do norte.