Medo freia economia alemã
22 de dezembro de 2004"A economia mundial registra o maior crescimento dos últimos 28 anos, enquanto a alemã anda a passo de tartaruga. Há uma década a Alemanha enfrenta uma crise econômica que a desconectou do mundo. De 1995 a 2004, foi o país que menos cresceu na Europa Central e Ocidental."
Esta análise do diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas de Munique (Ifo), Hans Werner Sinn, reflete o tom geral dos prognósticos conjunturais divulgados esta semana. As previsões para 2005 não são nada otimistas, como mostram dois números-chave: o PIB deve crescer, no máximo, entre 0,9 e 1,5%; e cerca de 4,5 milhões de trabalhadores (10,3% da população economicamente ativa) continuarão desempregados.
Os prognósticos dos principais institutos de pesquisas econômicas do país (Ifo de Munique, HWWA de Hamburgo, RWI de Essen, IfW de Kiel e IWH de Halle) baseiam-se numa ladainha de explicações que parecem prenunciar o final dos tempos, mas ao mesmo tempo se tornam monótonas, de tanto serem repetidas:
- o aumento das exportações (10% em 2004) não gera novos empregos nem compensa a retração do mercado interno
- as reformas implementadas pelo governo não melhoram a situação do mercado de trabalho
- os salários e as contribuições sociais são altos demais e provocam a transferência de empresas para os paraísos da mão-de-obra barata do Leste Europeu e da Ásia
- o euro supervalorizado e os altos preços do petróleo ameaçam a tímida recuperação econômica
- a economia sofre sob o peso dos 85 bilhões de euros transferidos anualmente do Oeste para o Leste alemão
- os cofres públicos estão tão endividados que não têm dinheiro para novos investimentos
- o excesso de burocracia inibe a criatividade dos alemães.
Para evitar reações de pânico, as "fábricas de estatísticas" sempre condimentam o ceticismo evidente nos números com pitadas do otimismo propagado pelo governo. A maioria dos analistas vê pelo menos uma única luz no fim do túnel: o provável aquecimento do consumo interno no ano que vem.
O Instituto de Pesquisas do Mercado de Trabalho, por exemplo, projeta para 2005 o número de 4,37 milhões de desempregados (15 mil a menos que em 2004). Isso "se a economia crescer 1,75%". Enquanto isso, o Deutsche Bank vê até 4,6 milhões de pessoas sem postos de trabalho no ano que vem.
Clima de incerteza
No início do ano, o ministro da Economia, Wolfgang Clement, estava convicto de que a grande retomada econômica havia chegado e que a taxa de desemprego iria cair. Na realidade, ocorreu o contrário: a média anual de 4,39 milhões de desempregados superou em cerca de 10 mil a de 2003. De janeiro a dezembro deste ano, o número de desocupados aumentou em 196 mil.
Por mais que diversifiquem e corrijam suas projeções, um fator psicológico parece embaralhar os cálculos dos economistas: é o medo, alimentado em parte até pelas previsões pessimistas. "Os trabalhadores estão com medo de perder o emprego e o clima de incerteza é generalizado. O medo se alastra e inibe as pessoas de comprarem bens de consumo duráveis. Em vez de arregaçar as mangas, muitos andam cabisbaixos. E isso é veneno para a conjuntura", diz Hans Werner Sinn, do Ifo.