Meio ambiente paga o preço dos vôos baratos
16 de setembro de 2003Na Europa de hoje, tornou-se possível voar a preço de banana. Por uma de bagatela de 19,90 euros, já é possível se deslocar da Alemanha para Milão, Manchester ou Madri. As ofertas são infindáveis e companhias aéreas divulgam seus produtos com slogans do tipo “voe pelo preço de uma corrida de táxi”. Hapag-Lloyd Express, Ryanair, Germanwings e Jet Blue Airways são algumas dessas empresas que proporcionam viagens baratas aos europeus, deixando no entanto seus rastros no meio ambiente.
“O problema no tráfego aéreo ocorre devido às taxas de crescimento do setor, que nas últimas décadas oscilaram mundialmente entre 5 e 7%. E não há previsão de uma saturação rápida num futuro próximo. Hoje 7% da população mundial voa. Muito mais pessoas poderiam voar e as que já estão incluídas neste percentual ainda poderiam voar muito mais”, descreve Manfred Treber, especialista em questões ambientais da ONG Germanwatch.
Esporte popular - Há décadas, registra-se um crescimento acentuado do tráfego aéreo em todo o mundo, interrompido apenas por crises passageiras como a guerra no Iraque ou a epidemia de SARS na Ásia. Enquanto na Alemanha, no passado, eram poucas as pessoas que podiam comprar um bilhete aéreo, o boom das companhias com ofertas módicas abriu as portas das aeronaves às camadas mais pobres da população. A manchete de um jornal popular alemão resumiu há pouco: “voar barato virou esporte popular”.
Um esporte um tanto quanto caro, diga-se de passagem. Se não para o bolso do consumidor, sem dúvida para o meio ambiente. Embora um Airbus necessite, por passageiro, da mesma quantidade de combustível que um carro para o mesmo trecho, voar, para o clima global, não é o mesmo que andar de carro. É o que afirma Hartmut Grassl, diretor do Instituto de Meteorologia Max-Planck: “A emissão de gases nas altitudes por onde circulam os aviões é muito mais relevante para o clima do que as que ocorrem no solo”.
Pior que o carro - Pesquisas apontam que o aquecimento da terra provocado pelas aeronaves é três vezes maior do que o que resulta do uso do automóvel. Ou seja, quem voa da Alemanha até às Ilhas Baleares (Espanha) - um dos destinos turísticos preferidos da população do país – percorre dois mil quilômetros. Com isso, provoca-se danos ao meio ambiente equivalentes a um motorista de carro que anda seis mil quilômetros com seu veículo.
O especialista Treber, da Germanwatch, defende uma redução das subvenções para o setor aéreo, que iria, em sua opinião, resultar em preços mais justos: “Hoje não se cobra impostos sobre o combustível nem ICMS sobre os bilhetes aéreos”.
No trecho Frankfurt-Berlim, por exemplo, a Deutsche Bahn (empresa ferroviária do país) paga 21 euros a mais por passageiro ao Estado do que as companhias aéreas. Além disso, os governos, em vários países do mundo, financiam a construção de aeroportos e auxiliam empresas deficitárias do setor, como os milhões que fluíram para os caixas falidos da Swissair, Olympic Airways ou United Airlines.
Falta regulamentação - Embora o avião deva ultrapassar brevemente o automóvel na corrida pelo título de responsável pelos maiores danos ao meio ambiente, não há nenhuma espécie de acordo internacional que regulamente a questão. Nem mesmo o Protocolo de Kioto tratou do assunto, que ficou destinado à segunda fase de negociações, a ser iniciada apenas em 2013. Ambientalistas esperam, no entanto, que a União Européia tome providências para solucionar o problema nos países do bloco antes disso.
Equiparação de preços - Dentro da Alemanha, a iniciativa de parlamentares da coalizão de governo social-democrata-verde, em prol de uma equiparação dos preços dos bilhetes aéreos às passagens de trem dentro do país, acabaou fracassada. O porta-voz do governo, Bela anda, afirmou no último domingo (14/09) que Berlim não pretende tomar nenhuma medida neste sentido.
Até o ano de 2007, segundo apontam pesquisas, 14% do mercado aéreo europeu será dominado pelas companhias que oferecem bilhetes a baixo preço. “Tarifas estipuladas pelo governo seriam o caminho errado e não seriam aceitas pelo consumidor”, afirma Matthias Andersen, porta-voz da Deutsche BA, subsidiária da British Airways no país, ao diário Kölner Stadtanzeiger.