"Menina que calou o mundo" na Rio+20
18 de junho de 2012Severn Cullis-Suzuki e três amigos fundaram o grupo ambientalista ECO – Environmental Children's Organization (Organização das Crianças pelo Meio Ambiente) – e em 1992 angariaram dinheiro para viajar de Vancouver, Canadá, até a Eco 92, conferência das Nações Unidas sobre desenvolvimento sustentável no Rio de Janeiro. A menina de 12 anos discursou perante uma sala de delegados, deixando-os sem palavras.
"Sentimos que era importante ir até lá", recorda Cullis-Suzuki. "Pensamos que eles eram, na maioria, homens mais velhos, que iam decidir o nosso futuro, o futuro das gerações vindouras. Por isso, quisemos ir até lá para mostrar aos políticos as pessoas que eles afetam realmente ao tomarem suas decisões".
Apelo pessoal
Em 1992, Cullis-Suzuki discursou durante seis minutos, falando de seus medos face à destruição do meio ambiente e das preocupações das gerações futuras.
"Vocês não sabem como reparar os buracos na nossa camada de ozônio", disse. "Vocês não sabem como salvar os salmões das águas poluídas. Vocês não sabem como ressuscitar um animal extinto. E não podem trazer de volta florestas que um dia existiram onde hoje é deserto. Se vocês não podem recuperar nada disso, então, por favor, parem de destruir!"
Foi um apelo intenso, pessoal e provocador. Políticos de todo o mundo se levantaram para aplaudir Cullis-Suzuki. O político e ativista ambiental norte-americano Al Gore lhe disse que ela tinha feito o melhor discurso de toda a conferência.
Atenção mundial
Com apenas 12 anos, Severn Cullis-Suzuki foi catapultada para o palco internacional, considerada como uma futura ativista ambiental que não se deveria perder de vista.
"Na época, eu tinha uma vida dupla: por um lado, era ainda criança; por outro, comecei a fazer discursos sobre o meio ambiente em todo o mundo e a reivindicar mais justiça social e ambiental. Por isso, esse discurso teve um impacto muito grande na minha vida", diz a canadense, hoje com 32 anos.
O discurso de Severn Cullis-Suzuki deu a volta ao mundo. O vídeo onde ela aparece discursando já foi visto por mais de 18 milhões de pessoas. Mas indagada se foi bem sucedida, a resposta não é fácil: "É difícil avaliar a influência que tive na consciência das pessoas. Hoje, 20 anos depois, diria que não conseguimos transformar o mundo num local mais sustentável".
De volta ao Rio
Cullis-Suzuki diz que muitos dos problemas ambientais são hoje piores do que quando discursou no Rio de Janeiro. Por isso, ela vai voltar ao Brasil este ano para a Rio+20.
A conferência vai tratar de formas de reduzir a pobreza, aumentar a justiça social e garantir a proteção do meio-ambiente. Não é coisa pouca, diz Cullis-Suzuki: "Na Rio+20, procuraremos soluções para uma mudança de paradigma. É o que eu quero. Isso não aconteceu antes. Precisamos que aconteça agora!"
Em 1992, Cullis-Suzuki participou na Cúpula da Terra com um grupo de jovens entre os 12 e os 13 anos. E ela regressa ao Rio para a conferência este ano com outro grupo de jovens ativistas, o We Canada.
"Temos de ouvir a nossa juventude. Penso que foi por isso que as pessoas me escutaram antes, porque eu era jovem e lembrava as pessoas daquilo que estava realmente em jogo. E o que está em jogo é o que as pessoas comuns mais amam no mundo: as suas crianças".
Crítica ao Canadá
As mudanças climáticas são o grande tema deste ano, antecipa Cullis-Suzuki. Ela espera desperta a atenção para a urgência do tema. Ela invoca a necessidade de uma mudança de direção e deseja que a comunidade mundial se comprometa com uma verdadeira sustentabilidade.
Severn Cullis-Suzuki está ciente que, desde o seu discurso, pouco mudou – e muito menos melhorou. Mas há diferenças em relação ao passado: "Em termos de política ambiental, o governo canadense está muito mal, só há retrocessos. Vinte anos atrás, o Canadá era considerado pioneiro nas questões do meio ambiente. Hoje somos o oposto: um empecilho ambiental".
Cullis-Suzuki diz que muitas vezes se envergonha de ser canadense, quando vai a conferências ambientais e conclama a que ocorra uma mudança de curso, no Canadá e no exterior. "É essencial os chefes de governo e Estado se reunirem e tentarem trabalhar em conjunto, pois esses assuntos são transnacionais e dizem respeito a nós todos. E há muito que fazer".
Futuro dos filhos
Além de seu trabalho na organização We Canada, Cullis-Suzuki colaborou com a marca de produtos de cosmética Dove na campanha da empresa por novos ideais de beleza.
Ela viaja por todo o Canadá com o objetivo de sensibilizar as pessoas sobre as mudanças climáticas e a poluição atmosférica, e fez parte da Comissão das Nações Unidas Carta da Terra e do comitê consultivo especial do então secretário-geral da ONU Kofi Annan para a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável realizada em 2002 em Joanesburgo, África do Sul.
A jovem de 12 anos que discursou há duas décadas no Rio de Janeiro é hoje mãe de dois filhos. Ela diz que a perspectiva pode ter mudado, mas sua mensagem continua a mesma. "Estive no Rio para a Cúpula da Terra há 20 anos. Tinha apenas 12 anos. E quando falei para as Nações Unidas estava lutando pelo meu futuro. Hoje, 20 anos mais tarde, a luta é pelo futuro dos meus filhos".
Ela vai fazer com que sua voz seja ouvida no Rio de Janeiro, garante Severn Cullis-Suzuki, confiante.
Autoria: Cesil Fernandes (gcs)
Revisão: Augusto Valente