Menino de rua afegão protagoniza curta indicado para o Oscar
16 de fevereiro de 2013Fawad Muhammadi, de 15 anos, não assistiu a muitos filmes ocidentais na vida. E atuou apenas em um. Mesmo assim, ele poderá, em breve, ser um dos poucos afegãos a terem presenciado a cerimônia do Oscar, ao vivo e in loco. Ele é o protagonista de The buzkashi boys, de Sam French, indicado para a premiação norte-americana na categoria Melhor Curta.
Na vida real, Muhammadi vende mapas da cidade na Chicken Street, uma das poucas zonas turísticas de Cabul. Como outros adolescentes de sua idade, ele fala um pouco deinglês, pois isso atrai fregueses estrangeiros. Certo dia, Fawad conheceu um diretor francês, que de certa forma o "descobriu", recomendando-o a para atuar no curta-metragem de um colega norte-americano.
O dia-a-dia de Fawad não tem nada de glamour hollywoodiano. O jovem vive em Cabul com a mãe, a irmã e seis irmãos. O pai morreu quando ele tinha apenas dez anos, e sua família depende do que ele ganha como vendedor ambulante.
Talento natural e engajamento
The buzkashi boysse passa em 2008, e está, de certa forma, ligado a uma história de amor real. Pois foi o amor que levou o diretor norte-americano Sam French ao Afeganistão: sua namorada trabalhava na época para a embaixada britânica em Cabul. Para ficar perto dela, ele também foi para a capital; mas quando ela se foi, o diretor resolveu ficar em Hindukush. Em 2009, French escreveu o roteiro de The buzkashi boys e três anos mais tarde rodava o curta.
Dois dias de casting já bastaram para French se decidir por Fawad Muhammadi como um dos dois protagonistas. O jovem afegão, por sua vez, ficou extremamente impressionado com o engajamento do diretor norte-americano – um fator decisivo que leva Fawad a acreditar no sucesso do filme.
Mesmo assim, a indicação para o Oscar foi uma surpresa. "Eu sabia que era um filme especial, porque o público gostou, mas com isso eu realmente não contava", confessa. Quando o diretor lhe telefonou para dar a notícia, a primeira reação do menino foi cair no choro.
Buzkashi: esporte popular
The buzkashi boysfaz parte do Afghan Film Project, uma fundação que tem por meta formar diretores afegãos na produção de curtas-metragens, a fim de formar um pólo de cinema no país. O tema do filme indicado para o Oscar é o jogo buzkashi, tradicional no país.
Galopando a toda velocidade, os participantes têm que erguer do chão uma cabra morta e depositá-la diante do juiz. Cada um dos 20 ou mais concorrentes que tenta pegar o cadáver da cabra para si. Como nessa luta praticamente tudo é permitido e não há regras restritivas, o buzkashi é imprevisível. O jogo é especialmente popular no norte do Afeganistão.
O filme enfoca a amizade entre dois adolescentes: um carismático menino de rua e o filho de um ferrador. Ambos lutam para realizar seus sonhos: a personagem de Fawad anseia se tornar um cavaleiro profissional de buzkashi.
Contudo, na vida real seus planos para o futuro são outros: o adolescente quer se tornar piloto ou ator. Ele espera poder fazer três coisas, quando estiver nos EUA,: conversar com norte-americanos de sua idade, visitar escolas e encontrar-se pessoalmente com "Rambo". O ator norte-americano Sylvester Stallone é popularíssimo no Afeganistão, e se tornou especialmente famoso por sua atuação em Rambo III. O curta de Sam French se passa a intervenção soviética no país no Afeganistão.
Apesar de sua recente fama, Fawad Muhammadi continua trabalhando nas ruas de Cabul. "Antes, eu vendia mapas da cidade. E continuo fazendo isso. A única diferença é que agora sou reconhecido, tanto pelos turistas quanto pelos moradores da cidade", conta. Mas acrescenta que suas vendas aumentaram desde o filme, "porque agora os turistas querem comprar na minha mão, e tirar fotos de recordação comigo".
A maioria das crianças e adolescentes que oferecem suas mercadorias na Chicken Street ganha menos de um dólar por dia. Fawad, por sua vez, chega no momento a cinco a 20 dólares diários.
Viagem incerta
Por seu papel em The buzkashi boys, ele ganhou mil dólares. Um décimo da soma ele gastou, o resto deu para a mãe. Não se sabe ao certo, contudo, se ele poderá realmente viajar para os EUA, a fim de participar da cerimônia do Oscar no Dolby Theater, em 24 de fevereiro.
A equipe de produção do filme coleta no momento doações para financiar a viagem a Los Angeles de Fawad Mohammad e do outro protagonista do curta, Jawan Mard Paiz.
Autor: Masood Saifullah (sv)
Revisão: Augusto Valente