Conferência Internacional sobre a Aids termina com esperança sobre cura
28 de julho de 2012A Conferência Internacional sobre a Aids terminou na sexta-feira (27/7) com otimismo quanto aos progressos alcançados para a descoberta de uma cura, mas também com preocupação sobre financiamento adequado para o tratamento dos cerca de 34 milhões de soropositivos no mundo.
Para os conferencistas, garantir acesso ao tratamento continua sendo a chave para travar o avanço da epidemia, haja vista que ainda serão necessários alguns anos de pesquisa até que se chegue à cura.
Os organizadores do evento bienal revelaram que novas pesquisas podem resultar, em breve, em uma nova terapia com antirretrovirais. O anúncio ocorreu em meio aos apelos de ativistas para que se amplie o acesso dos medicamentos à população infectada.
A ganhadora do prêmio nobel de medicina Françoise Barre-Sinoussi disse ser "inaceitável" que tratamentos cientificamente comprovados e ferramentas de prevenção ainda não estejam ao alcance das pessoas que mais precisam. Barre-Sinoussi foi uma das descobridoras do vírus HIV e é a nova presidente da Sociedade Internacional da Aids.
Avanços
A conferência contou com 24 mil delegados de 83 países, e foi realizada nos Estados Unidos pela primeira vez em 20 anos. Uma das novidades foi o resultado de uma pesquisa realizada com pacientes franceses que começaram a ser tratados com antirretrovirais imediatamente após a infecção pelo HIV.
Passados seis anos, os pacientes interromperam o tratamento e não foi verificado aumento na carga viral. Conforme o estudo, as células destes soropositivos apresentam níveis de HIV similares ao de grupos controlados com antirretrovirais. O estudo é da Agência Nacional Francesa de pesquisa contra a Aids e Hepatites Virais.
"Os resultados sugerem que o antirretroviral deve começar a ser administrado imediatamente após a infecção", disse a diretora da pesquisa Charline Bacchus, que apresentou os resultados.
Outra linha de pesquisa bem-sucedida envolveu o transplante de células-tronco em dois pacientes que estavam sendo tratados contra linfoma, um grave tipo de câncer nas células sanguíneas. O trabalho é coordenado pelos pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard, Timothy Henrich e Daniel Kuritzkes.
A pesquisa foi reforçada pelos resultados obtidos no tratamento do norte-americano Timothy Brown contra leucemia. Ele teria recebido células tronco de um doador com uma rara mutação que o tornou imune ao HIV. Brown apareceu publicamente no início da semana para anunciar que estava curado e aproveitar para levantar fundos para a pesquisa. Cerca de 1% da população caucasiana do mundo teria esta imunidade.
Economia
O financiamento internacional para pesquisas e tratamento está sendo afetado negativamente pela crise econômica global e pelas preocupações com a transparência na gestão dos recursos. "Alguns consultores internacionais recebem mais de 600 dólares por dia. Três pessoas poderiam ser tratadas durante um ano inteiro com a mesma quantia de dinheiro", disse o ex-presidente norte-americano Bill Clinton durante a cerimônia de encerramento do evento. Clinton, cuja fundação é engajada na luta contra Aids, pediu maior transparência no financiamento e decisões baseadas em critérios científicos, não políticos.
Ampliar o acesso ao tratamento pode ser um investimento inicialmente bastante caro, mas pesquisadores da universidade norte-americana de Harvard disseram que pode poupar recursos. Segundo divulgado na conferência, quanto mais cedo o soropositivo for tratado, menor seriam os gastos no tratamento de doenças relacionadas à Aids. As "doenças oportunistas" encarecem os custos do tratamento. A pesquisadora Rochelle Walensky, da universidade de Harvard, explica que, com o tempo, esse custo é superado pelos gastos com o tratamento de milhões de pessoas ao longo de décadas.
MP/ape/dpa/ips
Revisão: Francis França