Merkel é eleita presidente de seu partido pela oitava vez
9 de dezembro de 2014"Vocês não sabem a grande chefe que vocês têm", disse o presidente do Partido Popular Europeu, Joseph Daul, na abertura do 27° Congresso da União Democrata Cristã (CDU), em Colônia, na Alemanha.
Mas é claro que os 1.001 delegados presentes sabem. A observação não era para ser levada totalmente a sério. Quem tem a oportunidade de conviver com a chefe – a chanceler federal alemã, Angela Merkel – pode até esquecer, de vez em quando, que está diante da mulher mais poderosa do mundo.
Com 884 votos a favor, 30 votos contra e cinco abstenções, ela foi eleita, nesta terça-feira (09/11), pela oitava vez consecutiva presidente do seu partido, a CDU.
O discurso de candidatura certamente ajudou Merkel a obter a marca de 96,72% dos votos. "Foi uma fala com muita verve, há tempos que eu não vivenciava Merkel tão forte", afirmou Helma Kuhn-Theis, delegada do estado do Sarre. "Em muitos questões ela foi mesmo direto ao ponto." Foi um discurso especial também porque foi pessoal. Merkel relatou sobre o início da sua trajetória política, logo após a queda do Muro de Berlim, em 1989.
Entre os delegados presentes, nada se notou de um possível cansaço da chanceler depois de nove anos à frente da Chancelaria Federal em Berlim e 14 anos na presidência da CDU. Em vez disso, o discurso de uma hora agradou a todas as alas e diretórios regionais.
De olho na próxima eleição
Merkel assegurou o seu lugar à frente do partido e já mira as próximas eleições parlamentares, em 2017. Com quem seria possível uma coligação? Surpreendentemente, ela voltou a se referir aos liberais. O Partido Liberal Democrático (FDP) "é e continua sendo o parceiro natural de coalizão" e não deveria ser "enterrado precocemente". Mas a chefe de governo também mencionou uma abertura em direção ao Partido Verde. "Depois das últimas eleições, estivemos dispostos a essa coalizão, mas alguns verdes, não. Uma pena."
Em contrapartida, os social-democratas, os atuais parceiros de coalizão, foram criticados. Merkel disse que o Partido Social Democrata (SPD) deu uma "declaração de falência" ao formar uma coalizão com o sucessor do SED (partido único da antiga Alemanha Oriental) no estado da Turíngia, deixando que o partido A Esquerda nomeasse o governador do estado. "Até onde o SPD vai se diminuir?", indagou Merkel, recebendo aplausos. Ela alertou que a Turíngia será um teste para uma possível coalizão semelhante em nível federal.
No discurso, a chefe de governo evitou mencionar o novo partido de direita da Alemanha, o Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem viés populista e é visto como um forte concorrente da CDU.
Sucessão em aberto
Quem virá depois de Merkel? Especula-se há anos quem poderá sucedê-la, mas há poucos aspirantes disponíveis nos quadros dos partidos da união conservadora CDU/CSU (União Democrata Cristã/União Social Cristã).
A ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, e o ministro do Interior, Thomas de Maizière, são os nomes mais mencionados, mas nenhum deles têm brilhado à frente de seu ministério.
Já o rol dos governadores – outra fonte comum de possíveis sucessores – tem encolhido: o partido de Merkel está à frente do governo em apenas 4 dos 16 estados alemães. Até mesmo o Partido Verde está em mais coalizões estaduais do que a CDU.
Entre os cinco vices de Merkel na presidência da CDU, somente dois se destacam: Volker Bouffier, do estado de Hessen, e Julia Klöckner, da Renânia-Palatinado.
Sinal para fora
Até há pouco tempo especulava-se que Merkel renunciaria ao longo do atual mandato. Agora a discussão é se ela vai concorrer de novo nas eleições de 2017. Ela poderia, então, quebrar o recorde de 16 anos no cargo de chanceler federal, estabelecido por Helmut Kohl.
Há anos, a CDU está ajustada à figura de Merkel, e o alto índice de popularidade dela e do partido não dá motivos para mudar algo. Na Alemanha, já se fala até em uma "geração Merkel", formada por pessoas que não conhecem a Alemanha com outro chefe de governo.
Mas, atrás de tudo isso, esconde-se a pergunta sobre o que virá depois. O partido não poderá continuar evitando essa questão por muito tempo. Do contrário, corre o risco de ficar "viciado em Merkel". A desintoxicação pode ser dolorosa.
A própria Merkel sai ganhando com essa vulnerabilidade da CDU. Pois ela só pode se apresentar de forma tão poderosa na Europa porque tem paz em sua própria casa – também no congresso do partido em Colônia.