Merkel ameaça russos com proibição de entrada e bloqueio de contas
13 de março de 2014Às vésperas do controverso referendo sobre a anexação da Crimeia à Rússia, os países ocidentais endurecem o tom perante o governo em Moscou. Em declaração de governo perante o Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, nesta quinta-feira (13/03) em Berlim, a chanceler federal Angela Merkel exortou a Rússia a rever a sua posição na crise da Crimeia.
Se for dado prosseguimento à planejada anexação e a parte leste da Ucrânia for desestabilizada, a Rússia sofrerá grandes prejuízos políticos e econômicos, disse Merkel. A chefe de governo alemã afirmou que a Rússia estaria tentando impor seus interesses através de métodos dos séculos 19 e 20, violando de forma clara e inaceitável o direito internacional.
"Numa fase de grande insegurança na Ucrânia, a Rússia não comprovou ser um parceiro em prol da estabilidade no país vizinho, com quem tem estreitos laços históricos, culturais e econômicos", afirmou Merkel, acrescendo que "o direito do mais forte se sobrepõe à força do direito; e interesses geopolíticos unilaterais, à compreensão e cooperação."
Por esse motivo, a chanceler disse que, se necessário, a União Europeia (UE) estaria "pronta e disposta" a acionar uma nova fase das sanções, que traria consigo graves consequências econômicas. Mas Merkel salientou que UE continua buscando uma solução diplomática para a crise.
Se nos "próximos dias" não se chegar a negociações com a Rússia que levem a resultados, na próxima segunda-feira os ministros do Exterior da UE aprovarão novas sanções, entre elas a proibição de entrada no bloco e o bloqueio de contas, afirmou a chefe de governo alemã.
Solução diplomática para crise
Merkel disse ainda que a Ucrânia deverá receber logo apoio econômico da UE, em cooperação com o Fundo Monetário Internacional (FMI). "Esta oferta de modernização é uma iniciativa de política de vizinhança, não de geopolítica", afirmou Merkel, salientando que não se trata de uma ação contra a Rússia.
Em seu discurso no Bundestag, Merkel descartou uma ação militar como solução para a crise na Crimeia. "Uma ação militar não é opção para nós", afirmou, acrescentando que o conflito não pode ser resolvido militarmente.
Merkel defendeu uma solução político-diplomática para a crise. Segundo ela, o objetivo seria a implantação de uma missão de observadores e um grupo de contato. Mas um ponto é inegociável, disse a chefe de governo: "A integridade territorial da Ucrânia não está à disposição". Merkel acrescentou que também a Moldávia e a Geórgia poderiam contar com a solidariedade do bloco europeu.
Em entrevista ao jornal Passauer Neue Presse, publicada nesta quinta-feira, Merkel disse ainda que o objetivo da Alemanha seria solucionar o conflito de forma diplomática, junto aos parceiros na União Europeia e aos Estados Unidos. Anteriormente, em encontro com o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, a chefe de governo alemã havia ameaçado, em tom sem precedentes, o presidente Vladimir Putin com consequências econômicas duradouras.
E o presidente americano, Barack Obama, afirmou após encontro na Casa Branca com o primeiro-ministro da Ucrânia, Arseniy Yatsenyuk, que serão "impostos custos" à Rússia se Moscou continuar a violar o direito internacional na Ucrânia. Obama, no entanto, não entrou em detalhes.
Plano de três fases
Na semana passada, em protesto contra o procedimento da Rússia, a UE aprovou um plano de três fases. Primeiramente, as negociações sobre a facilitação de concessão de vistos para cidadãos russos foram suspensas. As conversas para um novo acordo de parceria entre Moscou e Bruxelas também serão, a princípio, canceladas. Para o caso de uma escalada do conflito, a UE planeja medidas mais duras, chegando até a sanções econômicas à Rússia.
Ao mesmo tempo, os países do G7, grupo que reúne as sete economias mais industrializadas do planeta, advertiram a Rússia sobre uma anexação da Crimeia e ameaçaram com "novas medidas" se Moscou não respeitar a soberania da Ucrânia.
Já o autodenominado governo da Crimeia pouco se impressionou com as advertências ocidentais. Nesta quarta-feira, o espaço aéreo sobre a península foi limitado pela nova administração. Dessa forma, a chegada de "provocadores" de Kiev e do oeste da Ucrânia será evitada, disse o vice-chefe de governo, Rustam Temirgaliyev.
Os russos, por sua vez, também ameaçaram o Ocidente com sanções. Se a UE e os EUA aprovarem medidas punitivas contra a Rússia, Moscou reagirá com passos semelhantes, informou o Ministério russo da Economia nesta quinta-feira. O ministério disse ainda esperar que somente medidas punitivas políticas sejam impostas, e que sanções econômicas sejam evitadas.
CA/dpa/afp/rtr