Merkel condena relativização do nazismo por líder populista
4 de junho de 2018A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, considerou "vergonhoso" o comentário do líder do partido populista alemão Alternativa para a Alemanha (AfD) que minimizou o nazismo como um "cocô de pássaro" na história alemã.
"É vergonhoso termos de nos preocupar com declarações desse tipo da parte de um membro do Parlamento", declarou à imprensa nesta segunda-feira (04/06) o porta-voz da premiê, Steffen Seibert.
"O governo alemão rejeita categoricamente qualquer tentativa de minimizar ou relativizar os crimes nazistas. O regime nacional-socialista e os crimes do Holocausto são singulares e constituem um verdadeiro crime contra a humanidade", acrescentou, insistindo que a Alemanha continue a "assumir responsabilidade" por esse passado.
O comentário que provocou a reação de Merkel foi proferido no sábado pelo líder da AfD, Alexander Gauland, durante o congresso da juventude do partido populista de direita.
"Hitler e os nacional-socialistas não foram mais do que um cocô de pássaro em mil anos de uma história alemã de sucesso", afirmou na ocasião Gauland, que também lidera a bancada da AfD no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão).
"Reconhecemos a nossa responsabilidade por esses 12 anos”, disse ele, em referência à duração da ditadura nazista, de 1933 a 1945, "mas nós temos uma história gloriosa, e ela, meus amigos, é bem mais longa que esses malditos 12 anos.”
Reação
Inicialmente, o discurso foi defendido por vários membros do partido, que tem a terceira maior bancada no Bundestag. Políticos linha-dura acusaram a mídia de retirar as palavras de seu contexto original.
No entanto o grupo Centro Alternativo, da autodenominada ala moderada da AfD, considerou que a declaração de Gauland é, na melhor das hipóteses, "ambígua" e que "não devia" ser dita "por um político que tenha um mínimo de sensibilidade e de responsabilidade pela nossa história".
Já no meio político tradicional da Alemanha, a declaração foi recebida com indignação. O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, disse no domingo que "negar, minimizar ou relativizar essa ruptura sem precedentes com a civilização não é só um insulto a milhões de vítimas, mas busca conscientemente reabrir feridas e semear de novo o ódio"
A reação foi similar entre outros políticos da União Democrata-Cristã (CDU) e do Partido Social-Democrata (SPD), que compõem o atual governo.
Após as críticas, Gauland disse "lamentar" a reação causada por sua declaração. Segundo ele, a expressão "cocô de pássaro" manifestava o seu "mais profundo desprezo pelo nazismo". "Lamento a impressão que ficou. Nunca foi minha intenção trivializar ou zombar das vítimas desse sistema criminoso."
Polêmicas
Esta não foi a primeira vez que o político de 77 anos, filiado à CDU antes de passar para a AfD, fez comentários controversos que causam indignação no meio político. Em setembro, durante a campanha eleitoral, Gauland disse que os alemães deveriam ter orgulho dos soldados que lutaram nas duas guerras mundiais.
"Se os franceses, e com razão, têm orgulho de seus imperadores, e os britânicos, do [almirante] Nelson e Churchill, então nós temos o direito de ter orgulho do desempenho de nossos soldados nas duas guerras mundiais", foram suas palavras.
Em 2016, ele também provocou indignação ao atacar o zagueiro da seleção alemã Jérôme Boateng, que é de origem africana. Segundo Gauland, "as pessoas o acham um bom jogador de futebol, mas não querem um Boateng como vizinho".
JPS/ots
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