Merkel e Erdogan debatem futuro do acordo migratório com UE
24 de janeiro de 2020A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, se reuniu nesta sexta-feira (24/01) com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, em Istambul, onde os dois líderes trataram da frágil trégua na Líbia e do futuro do acordo migratório entre a Turquia e a União Europeia (UE), que contribuiu para diminuir o fluxo de migrantes para a Europa.
Em 2019, o continente europeu registrou um aumento na chegada de refugiados a partir do território turco. Ataques recentes realizados por forças da Síria na província de Idlib levaram milhares de sírios a fugirem rumo à Turquia, de onde entram na Europa através da Grécia, agravando a situação dos superlotados campos de refugiados nas ilhas gregas.
Em 2016, sob a liderança da Alemanha, a UE fechou um acordo com o governo turco que garantia o envio de 6 bilhões de euros destinados ao acolhimento aos refugiados sírios e outras iniciativas, para persuadir Ancara a agir para interromper o fluxo migratório para a Grécia.
Nesta sexta-feira em Istambul, Merkel afirmou que a Europa poderá aumentar os incentivos para a Turquia. "Posso muito bem imaginar que a UE fornecerá apoio além das duas parcelas de três bilhões de euros, porque, tendo em vista a situação política na Síria, não há até o momento perspectiva para o retorno dos refugiados", observou. Ela disse ainda que a Alemanha deverá reforçar o trabalho de apoio à Guarda Costeira turca.
Erdogan, por sua vez, acusa a UE de não cumprir sua parte no acordo. Recentemente, ele ameaçou "abrir os portões" da Europa para os refugiados. O líder turco diz que seu país não deve carregar sozinho o fardo por acolher 3,6 milhões de refugiados sírios e pede o apoio da Europa para assentar essas pessoas em uma "zona segura" no norte da Síria, próxima à fronteira.
Os países europeus, no entanto, relutam em apoiar a proposta. Merkel disse que aceitaria apenas se o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) aprovar o esquema de reassentamento. "Se o Acnur disser que é possível para certos grupos de refugiados que vêm daquela região, então poderei pensar em dar nosso apoio", disse a alemã.
Erdogan afirmou que 400 mil refugiados sírios estariam a caminho da fronteira. Grupos de ajuda turcos começaram a erguer mais de 10 mil abrigos em Idlib para acolher os refugiados. Merkel afirmou que seu país poderá ajudar nos esforços.
A frágil trégua na Líbia
No último domingo, Merkel e Erdogan participaram de uma cúpula em Berlim para tratar da guerra civil na Líbia, que contou com a presença de representantes do governo líbio apoiado pela ONU e das forças rebeldes lideradas pelo general Khalifa Hafter, além de vários líderes internacionais.
Na reunião, as partes envolvidas no conflito acordaram um cessar-fogo e a imposição de um embargo de armas decretado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, no contexto da guerra civil que assola o país há cinco anos.
Nesta sexta-feira em Istambul, Erdogan afirmou que o conflito líbio ameaça gerar uma situação caótica, que "deverá afetar toda a bacia do Mediterrâneo". Ele pediu que a comunidade internacional aumente a pressão para que Hafter aceite de fato a trégua.
"Esse homem não é confiável", disse Erdogan sobre Hafter, mencionando um ataque das forças rebeldes sírias ao Aeroporto Internacional de Trípoli na semana seguinte à cúpula em Berlim.
Ele acusa Hafter de demonstrar "nenhuma intenção de reconciliação" e o criticou por não ter assinado ainda o documento do cessar-fogo redigido na cúpula de Berlim. "Hafter não assinou, apenas aceitou verbalmente", disse o turco. "Não vemos isso como uma plena aceitação", observou.
O presidente prometeu não abandonar o primeiro-ministro da Líbia, Fayez al-Sarraj, do governo reconhecido internacionalmente. "Estamos determinados a lhe dar todo o apoio que pudermos."
Por sua vez, Merkel ressaltou que "esforços devem ser feitos para tornar a frágil trégua em um sólido e permanente cessar-fogo". "Espero que o lado de Hafter adote medidas positivas."
As forças de Hafter controlam o leste e boa parte do sul da Líbia e são apoiadas pelos Emirados Árabes Unidos e pelo Egito, além da França e da Rússia.
RC/afp/rtr
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