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Merkel no Brasil

Rodrigo Rimon13 de maio de 2008

Viagem da chanceler federal evidencia ampla área de convergências entre Brasil e Alemanha. Tendência é reforçada pelo recente crescimento sustentável da economia brasileira.

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Angela Merkel e Luiz Inácio Lula da Silva durante a cúpula de 2006 em Viena, na ÁustriaFoto: Ricardo Stuckert/PR

A chanceler federal alemã inicia nesta terça-feira (13/05) sua primeira viagem à América Latina desde que assumiu o poder. Angela Merkel visitará primeiro o Brasil, depois partirá para a capital peruana, onde participará da 5ª Cúpula União Européia-América Latina nos dias 16 e 17 deste mês, seguindo para Colômbia e México.

Embora a premiê tenha sido criticada pela bancada social-democrata, para quem o itinerário de Merkel – que, à exceção do Brasil, visitará países politicamente alinhados aos Estados Unidos – não corresponde à "nova realidade política" do continente, o embaixador do Brasil em Berlim, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, adverte que "classificações ideológicas são discutíveis e não têm nenhuma influência na relação Brasil-Alemanha, que é muito sólida, antiga e lastreada em interesses comuns".

Deutschland Brasilianischer Botschafter Seixas Corrêa
Embaixador Seixas CorrêaFoto: DW/Roselaine Wandscheer

Seixas Corrêa adiantou que os dois países discutirão, além dos aspectos tradicionais da cooperação bilateral, "uma ampla área de convergências" que inclui o diálogo do G8 com países emergentes no chamado "processo de Heiligendamm", questões internacionais com ênfase em temas ambientais e na reforma da ONU, o comércio internacional e o interesse comum em dinamizar e concluir a Rodada de Doha. Além disso, "a expectativa é de que se possa assinar um acordo sobre o desenvolvimento comum de energias renováveis, inclusive biocombustíveis", disse o embaixador.

Oportunidades abertas

Por mais que a Europa permaneça o maior investidor na América Latina, o segundo maior parceiro comercial e o principal contribuinte na ajuda ao desenvolvimento, o gesto de Merkel não foi seguido por chefes de governo nem da França, nem da Itália ou do Reino Unido. Para a Alemanha, no entanto, o interesse é crucial, já que a região reúne o maior número de conglomerados e empresas de médio porte alemãs fora da Europa.

Segundo o presidente da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK), Ludwig Georg Braun, o Brasil está no caminho certo com sua "política social-democrata de centro" e se tornou a décima maior potência industrial e o quinto maior exportador de armas do mundo.

"É muito evidente que há oportunidades abertas na América Latina e as empresas alemãs estão muito interessadas", lembra o embaixador brasileiro. "A manifestação da DIHK foi muito forte em favor da retomada da intensidade dos investimentos e da cooperação alemã em toda a região."

Vontade política

Para Uwe Kaestner, presidente da Sociedade Brasil-Alemanha (DBG), o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo brasileiro é o campo mais fértil para incrementar ainda mais as relações entre os dois países. "O Brasil tem aí um programa de investimentos que toca muitas especialidades alemãs, como a renovação de portos e aeroportos, a construção de estradas de ferro e rodovias, e o programa de construção energética, inclusive nuclear."

No entanto, salienta que, por mais que bilateralmente os dois países estejam numa situação privilegiada, é preciso chegar a uma definição final quanto ao comércio mundial. "Muitos países têm interesses na Rodada de Doha e, paralelamente, na negociação da União Européia com o Mercosul. Temos que chegar a uma definição do que é ou não possível e fechar um acordo com o que for possível."

Dr. Uwe Kästner
Uwe Kaestner, presidente da Sociedade Brasil-AlemanhaFoto: DW

Segundo Kaestner, a atual conjuntura econômica e política pede uma solução rápida. "A economia mundial está mudando, e sou pessimista quanto à crise financeira dos Estados Unidos, que certamente freará o crescimento de muitos países. Se assegurássemos um avanço no comércio eliminando barreiras, poderíamos compensar e sobrecompensar as perdas", explica.

Além do mais, o sucesso de Doha dependeria de os EUA assinarem um acordo fast track [sem possibilidade de emendas pelo Congresso], recurso que terminaria com a presidência de Bush. "E, durante a campanha eleitoral americana, o protecionismo voltou em parte a dar o tom. Só posso aconselhar a UE e o Mercosul a fazer o que for possível. Doha começou em 2001, mas o Mercosul e a UE negociam desde 1992. É muito tempo. Todos os problemas são bem conhecidos, o que falta é vontade política."

Novos rumos diplomáticos

O problema é conhecido do governo brasileiro. "O protecionismo agrícola na UE e nos EUA é o maior obstáculo até agora para a conclusão da Rodada de Doha", critica Seixas Corrêa. "Compete aos países desenvolvidos tomar medidas para acabar com isso e estabelecer no plano do comércio agrícola as mesmas regras vigentes no plano do comércio de bens industriais. Qualquer outra colocação desvirtua completamente a realidade."

O embaixador salienta, no entanto, que nenhuma das iniciativas tomadas pelo governo brasileiro atualmente tem sentido de contraposição e, sim, de agregação. "As relações com a China são importantes, assim como com outros países da região. É importante ter em mente que a América Latina, em seu caminho de crescimento e desenvolvimento, tem que abrir seus canais de interlocução não exclusivamente para as áreas tradicionais, mas para todos os segmentos e pólos de inovação e crescimento do mundo. Nâo existem mais relações segmentadas, mas relações amplas, universais e em benefício de todos. Nada é contra ninguém, tudo é a favor de nosso crescimento."

Kaestner, ele próprio ex-embaixador, concorda: "Um parceiro estratégico pensa além do mero interesse nacional ou bilateral, com responsabilidades que apenas países com um certo peso podem assumir. Esta viagem seria uma ótima oportunidade de preparar posições conjuntas para a conferência de Lima, pois o Brasil é o líder natural da região, o primeiro interlocutor para tratar de questões regionais."

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