Merkel promete guinada na política externa alemã
16 de julho de 2005Mesmo que declare nunca ter sonhado em assumir a chancelaria alemã, Angela Merkel, a candidata da oposição (CDU/CSU) à sucessão de Gerhard Schröder (SPD), confia na sua liderança nas pesquisas e já começa os ensaios para assumir o comando do país. E isso também no palco internacional, onde a política alemã deverá sofrer uma forte guinada, caso se confirmem as previsões de uma troca de governo em Berlim ainda este ano.
Nesta sexta-feira (15/07), Merkel visitou as tropas alemãs estacionadas em Kosovo. Foi uma estréia em sua carreira política. Aos soldados ela prometeu mais recursos para equipamentos, em caso de vitória no provável pleito de 18 de setembro próximo. Mas os principais campos de batalha para um governo Merkel não são os Bálcãs, o Paquistão, Sudão ou outros países em que atuam militares alemães.
Os dois grandes desafios da Alemanha são a política européia e as relações bilaterais com os Estados Unidos. Nesses campos, Merkel ainda não pode fazer muito mais do que comentar as decisões do atual governo. "A líder da oposição não tem qualquer papel decisivo no palco da política internacional, o que ela só terá após uma troca de governo", afirma Andreas Maurer, da Fundação Ciência e Política, de Berlim.
Isso não foi diferente com Schröder. Quando foi eleito chanceler federal, em 1998, ele tinha fama de ser cético em relação à União Européia. Ao longo de seu governo, porém, aumentou continuamente sua influência sobre o bloco e mudou sua própria posição. Sobretudo, a rejeição à guerra no Iraque sublinhou a autoconfiança de Schröder.
Posições divergentes
A União Democrata Cristão (CDU) quer acentuar a posição de liderança da Alemanha na UE. Merkel, porém, gostaria de se aproximar mais dos britânicos do que dos franceses, fiéis aliados dos alemães. O programa eleitoral da oposição fala da "necessidade de uma reestruturação que implica também outros países da UE".
Na questão da ampliação do bloco, as posições de Merkel e Schröder também divergem. Enquanto o líder social-democrata é favorável ao ingresso da Turquia, a candidata da oposição preferiria até impedir a entrada da Bulgária e da Romênia no bloco, prevista para 2007. "Merkel vai continuar defendendo a UE como instituição, ao mesmo tempo em que se opõe à ampliação", diz Ingo Peters, professor de Ciências Políticas da Universidade Livre de Berlim.
Aliados dos EUA
Prevê-se, porém, que essa posição terá conseqüências negativas para a intensificação das relações com os EUA, prometida pela candidata da oposição. O presidente norte-americano George W. Busch é um grande defensor do ingresso da Turquia na UE. Na avaliação de Andreas Mauer, os EUA provavelmente vêem a política externa de Merkel com ceticismo. "Defender relações mais estreitas é algo muito genérico. O que faria a CDU, se os EUA forçassem as negociações para o ingresso da Turquia na EU?"
Por outro lado, os EUA podem estar certos de que um governo Merkel apoiará a posição norte-americana contrária à suspensão do embargo de armas à China, defendida por Schröder e Chirac.
Avaliação realista
Peters espera que "a política externa de Merkel seja bem menos turbulenta do que a atual". Ninguém espera, por exemplo, que uma Alemanha governada pela CDU/CSU, de repente, se disponha a enviar soldados ao Iraque.
O programa eleitoral da CDU/CSU diz também que um aumento da contribuição alemã à ajuda ao desenvolvimento para 0,75% do PIB vai depender da evolução da economia. "Por problemas financeiros, a possibilidade de a Alemanha fazer mais nesses sentido, lamentavelmente, é limitada", diz Peters.
Para a América Latina e o Brasil – que não são explicitamente mencionados no programa eleitoral da oposição – não devem ocorrer grandes mudanças nas relações com a Alemanha. Pelo menos é isso que previu em recente entrevista à DW-WORLD o vice-presidente da Confederação da Indústria Alemã, Michael Rogowski.