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Merkel quer fechamento de Guantánamo

(gh)7 de janeiro de 2006

Às vésperas de sua primeira visita a Washington, chanceler federal alemã critica tática antiterror dos EUA e defende o fim da prisão norte-americana de Guantánamo, em Cuba. Proposta é elogiada pela oposição na Alemanha.

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Chanceler federal alemã 'emancipa-se' da Casa BrancaFoto: AP

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, dá sinais de querer fortalecer a independência da Alemanha nas relações com os EUA. Em sua primeira visita a Washington, na próxima semana, ela quer pedir ao presidente George W. Bush o fechamento da prisão norte-americana de Guantánamo, em Cuba, onde se encontram detidos supostos terroristas.

"Uma instituição como Guantánamo não pode nem deve existir de modo duradouro", disse Merkel em entrevista à edição deste fim de semana da revista alemã Der Spiegel. "É preciso encontrar caminhos e meios para dar um outro tratamento aos prisioneiros", acrescentou.

Na base de Guantánamo, controlada pelos EUA desde 1903, estão presos cerca de 500 suspeitos de envolvimento com a rede terrorista Al-Qaeda. Eles foram levados para lá depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Quarenta e quatro presos encontram-se em greve de fome, informou o exército norte-americano, nesta sexta-feira (06/01).

A chefe de governo da Alemanha prometeu abordar com Bush também as denúncias de maus tratos de detentos. "Parceiros como os EUA e a Alemanha devem conversar sempre sobre todos os temas. Mas as relações teuto-norte-americanas não devem ser reduzidas a essas questões e ao combate conjunto ao terrorismo", disse Merkel.

Os governos da Alemanha e da Turquia estão tentando libertar o turco Murat Kurnaz, nascido em Bremen e que se encontra detido em Guantánamo desde o início de 2002. Ele é acusado pelos EUA de haver apoiado a Al-Qaeda e o regime do Telebã no Afeganistão. Na prisão, Kurnaz foi também interrogado pelo serviço secreto alemão.

Aplausos da oposição

Guantanamo Protest
Protestos da Anistia Internacional contra prisão dos EUA em CubaFoto: dpa

As declarações de Merkel foram interpretadas como "sinal de emancipação" da líder alemã em relação à Casa Branca. Embora tenha apoiado Bush na guerra do Iraque (ao contrário do então chanceler federal Gerhard Schröder), ela aproveitou a primeira visita da secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, à Alemanha para condenar as prisões secretas da Central de Inteligência Americana (CIA) e outros métodos duvidosos usados pelos EUA no combate ao terrorismo.

A crítica de Merkel à tática usada pelos Estados Unidos na luta contra o terror foi elogiada até mesmo pelos partidos de oposição. "É um sinal correto em direção a Bush", disse a presidente do Partido Verde, Claudia Roth. "Não devem existir espaços fora da lei em que seja transgrido o direito internacional", acrescentou.

Na opinião de Roth, a prisão de Guantánamo desacredita a democracia e é imprópria para o combate ao terrorismo. Ela pediu a Merkel que não só exija o fechamento do centro de detenção em Cuba, mas também o esclarecimento das prisões e vôos secretos da CIA na Europa. "Também para os nossos aliados vale o princípio de que a dignidade humana é inviolável", acrescentou o presidente do Partido Liberal, Guido Westerwelle.

Segundo o presidente da União Social Cristã, Edmund Stoiber, "com razão, Angela Merkel lembra os EUA, que defendem a paz e a liberdade no mundo, de que eles precisam reavaliar sua prática na prisão" [de Guatánamo].

"O sistema Guantánamo era e é falso e contraria os acordos e padrões do direito internacional. A prisão precisa ser fechada", disparou também o vice-líder da bancada social-democrata no Parlamento alemão, Walter Kolbow.