Crise no SPD
8 de setembro de 2008A chefe do governo alemão, Angela Merkel, cumprimentou seu ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, pela nomeação como candidato do Partido Social Democrata (SPD) ao cargo de chanceler federal nas eleições de 2009. Como ministro alemão do Exterior, Steinmeier também é o vice de Merkel.
Trata-se da segunda vez que um chefe de governo alemão disputa as eleições federais contra o seu vice. Em setembro de 1969, Willy Brandt (SPD) concorreu contra o então chanceler federal Kurt Georg Kiesinger, da União Democrata Cristã (CDU).
Em coalizão com os liberais, o partido de Brandt venceu as eleições de 1969, mas a imagem dos social-democratas de hoje é bem diferente daquela que gozavam há 40 anos. Em Munique, nesta segunda-feira (08/09), Merkel lamentou as circunstâncias que envolveram a nomeação de Steinmeier dentro de seu partido.
A nomeação de Steinmeier, no domingo, foi acompanhada pela renúncia do então presidente do SPD e governador do estado da Renânia-Palatinado, Kurt Beck. O sucessor de Beck na presidência do partido será Franz Müntefering, que já ocupara o cargo entre 2004 e 2005.
Sinal de divisão do partido
Diversos políticos da CDU avaliaram a mudança na liderança do SPD como um sinal de divisão do partido. Apesar de afirmar que "se alegra com a emocionante campanha eleitoral no próximo ano", Merkel declarou em Munique que o contexto da saída de Beck não "corresponderia à dignidade de um partido popular". Merkel acresceu que a saída indicaria "a profunda discórdia dos social-democratas". Por outro lado, a CDU representaria estabilidade, afirmou.
Ronald Pofalla, secretário-geral do partido de Merkel, é da opinião que mesmo depois da troca de liderança nenhum dos problemas do SPD foi resolvido. "Principalmente o problema com o partido A Esquerda", afirmou Pofalla, na noite de domingo em Berlim.
Pofalla comentou "não se lembrar de nenhum outro caso em que um candidato a chanceler federal tenha sido escolhido tão apressadamente". Para o secretário-geral da CDU, Beck teria fugido às pressas.
Derrota da ala esquerdista
A vice-presidente do SPD, Andrea Nahles, culpou companheiros de partidos e também a mídia pela renúncia de Beck. Nahles pertence à ala mais à esquerda do SPD. Oskar Lafontaine, presidente do partido A Esquerda, avalia a renúncia de Beck como uma derrota da ala esquerdista. Lafontaine afirmou no domingo em Berlim que "com esta decisão, o SPD dá continuidade ao seu curso anti-social, que levou a derrotas eleitorais e evasão de afiliados".
Lafontaine, que também foi presidente do SPD de 1995 a 1999, afirmou ainda que Beck "vivenciou uma deslealdade ainda não vista da ala direita do partido". Ele acresceu que "a ala esquerda do SPD sofreu novamente uma derrota decisiva".
Verdes e economia saudaram mudança
Membros do Partido Verde, por outro lado, declararam que a crise permanente dos social-democratas poderia estar chegando ao fim. Renate Künast, líder da bancada dos Verdes no Parlamento alemão, afirmou que "a questão do poder em 2009 está em aberto. Um governo de maioria entre liberais e democrata-cristãos pode e deve ser evitado".
Jürgen Trittin, vice-líder da bancada do Partido Verde, comentou em Berlim que o SPD mobilizaria novamente seu eleitorado. Trittin acresceu que a condição para tal seria "evitar o desejo de Merkel de uma marcha em direção a uma coalizão entre liberais e democrata-cristãos".
Representantes da economia também saudaram a mudança de liderança no SPD. Dieter Hundt, presidente da Confederação Alemã de Empregadores (BDA), disse acreditar que Steinmeier e Müntefering poderão dar continuidade às reformas do mercado de trabalho da assim chamada Agenda 2010.
Hundt afirmou nesta segunda-feira que "Steinmeier é o arquiteto. Müntefering é o mestre-de-obras da Agenda 2010. Fiquei impressionado como Müntefering impôs, contra toda resistência, a aposentadoria com 67 anos. Como ministro do Trabalho, ele lutou contra a prorrogação do seguro-desemprego", afirmou.
Beck simplesmente não combinou com Berlim
Após sua renúncia, Beck afirmou em declaração que "devido a informações propositalmente incorretas, a mídia apresentou um desenvolvimento completamente diferente das minhas decisões". Ulrich von Alemann, cientista político de Düsseldorf, declarou em entrevista ao Westdeutsche Zeitung que ficou surpreso por Beck ter justificado sua renúncia por a mídia ter, previamente, anunciado informações dispersas sobre a nomeação do candidato a chanceler federal.
Von Alemann classificou a renúncia de Beck ao cargo de presidente do SPD como a "reação de um ofendido". O cientista político afirmou que "vivemos numa democracia midiática" e que seria ingênuo acreditar que um fato tão importante como a candidatura de Steinmeier não vazaria para a imprensa.
"Isto não é motivo para renunciar", explicou Von Alemann. Segundo sua análise, as críticas à administração de Beck no SPD o teriam "ferido e desmoralizado". Beck simplesmente não combinou com Berlim, explicou.