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Metrópoles em discussão

Soraia Vilela21 de agosto de 2003

Projeto de pesquisa da Universidade Livre de Berlim analisa quatro "cidades-regiões" de países em desenvolvimento, entre elas São Paulo.

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São Paulo: aglomerado de desafios para urbanistasFoto: AP

A proposta é sinal de que o olhar eurocêntrico pode estar querendo aprender com os "menos desenvolvidos". Trata-se, segundo o diário alemão Frankfurter Rundschau, de um "refresco intelectual" para o urbanismo europeu. "Um trabalho que poderá melhorar o nível das discussões sobre o futuro das cidades e sobre uma cultura urbana mais democrática". Afinal, o projeto de pesquisa da Universidade Livre de Berlim (Freie Universität Berlin) toma quatro "cidades-regiões" dos quatro cantos do planeta, com o objetivo de descobrir eventuais paralelos nos processos de desenvolvimento destas.

Descentralização e abertura de mercado -

Para desempenhar a árdua tarefa de comparar os passos dados pelas megalópoles São Paulo, Johannesburgo, Shangai e Mombai, o estudo interdisciplinar conta com a participação de especialistas em ciências políticas, economia, sociologia e geografia, além da presença de uma série de arquitetos e urbanistas. "Consideramos ser este um período no qual o Brasil, a Índia, a China e a África do Sul passam por transformações significativas, no que diz respeito por exemplo à descentralização política e à abertura em direção à economia global", definem os organizadores da pesquisa.

Após seu início em abril de 2002, o projeto City-Regions passa por uma fase intermediária, na qual os resultados dos estudos in loco estão sendo debatidos em Berlim. Para isso, foi organizado na cidade um workshop, visando "procurar formas possíveis de comparação entre os resultados dos grupos de trabalho oriundos de cada região", explica o cientista político Simon Raiser, coordenador do projeto.

Globalização & (Des)integração -

Antes de verificar semelhanças ou disparates entre as regiões, a pesquisa parte do princípio de que o desenvolvimento (e as desventuras) do espaço urbano constituem uma esfera cada vez mais importante para diversos setores sociais. "O projeto pretende descobrir como a globalização afeta a integração – ou desintegração – destas cidades-regiões em seus respectivos sistemas político e econômico", define o site do projeto.

Visões heterogêneas -

Para um dos representantes do Brasil, o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Csaba Deák, a visão dos especialistas enviados pelas cidades-regiões é heterogênea. "Globalização é menos um fenômeno ou processo concreto do que uma palavra de ordem, utilizada como pretexto para a execução de políticas neoliberais – a saber, a diminuição do peso do interesse coletivo em benefício dos interesses individuais ou grupais. Os representantes de Johannesburgo e São Paulo expressaram exatamente essa posição, enquanto Mombai compartilhava em essência desse ponto de vista, porém de um modo mais indeciso. Já a posição do grupo de Shangai era inteiramente outro: para eles, globalização significa preparar-se para enfrentar a hegemonia dos EUA em seu próprio terreno."

Além das divergências em torno do selo "global", outros conceitos estão sendo discutidos pelo projeto, entre eles a dualidade conflitos sociais & violência, reestruturação econômica, processos de privatização de serviços públicos, as (des)vantagens de parcerias público-privadas e os diversos níveis de participação popular em cada uma das metrópoles.

Participação popular -

Neste último quesito, há mais uma vez "semelhanças entre Johannesburgo, São Paulo e Mombai", afirma o arquiteto Deák. Nas três cidades, "numerosas experiências foram conduzidas nesse sentido, encontrando sempre os limites à tal participação, que por sua natureza se restringe a questões locais, praticamente em nível de bairro. E assim mesmo alcançam no máximo meio-sucesso, devido aos estreitos limites da autonomia local", completa.

Não importa se nas metrópoles que o olhar eurocêntrico chama de "periféricas" ou nos grandes centros europeus, tudo leva a crer que a participação ativa da população nos processos de decisão pode ser a única saída para descongestionar os labirintos sociais da cidade. "Trata-se de incentivar a participação do cidadão, com o objetivo de assegurar, além de interesses privados, aquilo que se tornou aparentemente antiquado: o bem-estar comum", resume o diário Frankfurter Rundschau.