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Meu pedaço de terra: Kidame, da Eritreia

Stefan Dege (sv)22 de dezembro de 2015

Kidame adora uma foto antiga guardada em seu celular. Para ele, a imagem de sua mãe é a única ligação que restou com o país de origem, Eritreia. Ninguém sabe o que o futuro lhe reserva.

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Foto: DW

Milhares de refugiados chegam atualmente à Alemanha. São pessoas que deixaram para trás amigos e família, trabalho e casa – e isso talvez para sempre. Em nossa série de reportagens "Meu pedaço de terra", apresentamos aqui alguns refugiados e suas histórias, sob suas perspectivas: subjetivas e sem julgamentos. E mostramos que eles, apesar de uma fuga perigosa, trouxeram consigo um objeto: o "pedaço de terra" que puderam carregar.

Kidame ri, mas não um riso seguro e feliz, e sim de embaraço. Ele deixou tudo do que gostava para trás: o povoado de origem na Eritreia, seus pais, a bela namorada Merkeb. A saudade dela é a que mais dói para o jovem de 19 anos. Seu trajeto de fuga durou um ano. Nas mãos, ele exibe o celular com seu "pedaço de terra". Sobre a mesa, o aviso de deportação.

Sua reação estranhamente parece de indiferença. A mesa, uma cama, a televisão – esse é o cenário de um momento longo e insuportável para Kidame. Ele não sabe quando virão buscá-lo para mandá-lo de volta à Itália. Quando desembarcou, há meses, acreditava ter chegado ao destino de seus sonhos. "Aí colheram minhas impressões digitais".

Pelo menos um tinha que chegar à Europa

"Em casa, nada é ok", diz Kidame. "Na Eritreia, eu seria agora um soldado e teria que lutar." Da mesma forma que o irmão mais velho. Ele foi obrigado a prestar serviço militar depois de concluir a escola. Cinco meses depois, resolveu fugir. Durante quatro dias, andou a pé até o Sudão. Na sequência, viajou na carroceria de uma picape pelo deserto até a Líbia, de onde conseguiu chegar de barco à Itália. O fato de ter reunido os 3200 dólares para o coiote que fez a travessia marítima o admira até hoje. A família e os amigos ajudaram. "Pelo menos um de nós tinha que conseguir chegar até a Europa", relata.

Enquanto Kidame fala, seu celular, bem antigo, pisca. Kidame recebeu camisetas, calças e tênis no alojamento de refugiados. Ele não tem nem mais a roupa do corpo com que veio de seu país. Quando o celular excepcionalmente funciona, Kidame mostra a foto de uma mulher vestida de noiva: é sua mãe, Rufay. Amigos mandaram a foto para ele pela internet. "Ela com certeza está pensando em mim", aposta.

Kidame quer fazer um curso técnico. Ele gostaria de ganhar dinheiro para poder enviar recursos para a família na Eritreia, mas na Alemanha não poderá ficar. Seu requerimento de asilo foi indeferido. Uma vez deportado, ele não poderá mais entrar na Alemanha. Com o amigo Tesfalem, que conheceu no alojamento, ele fuma um cigarro. "Não sei o que vai ser de mim", resume Kidame. Ambos parecem sem ideia do que fazer.

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