Milionários mão aberta
27 de agosto de 2003Frank Hansen, 32 anos, mora em uma cobertura de fazer inveja. Seu dúplex, no centro de Berlim, é espaçoso e aconchegante. Aliás, o prédio de cinco andares é de sua propriedade. O restaurante no andar térreo também lhe pertence. Herdeiro de uma bem-sucedida empresa de embalagens plásticas, Hansen só precisa se preocupar em saber como usufruir melhor de seu tempo.
"Com dinheiro é possível levar uma vida tranqüila e luxuosa", admitiu o alemão que em nada lembra o tradicional playboy de décadas passadas. Ao invés de Porsche ou Mercedes, ele dirige um Audi compacto. O caviar dá lugar a produtos biológicos em sua geladeira. Hansen pertence a uma geração de herdeiros milionários que acredita ser possível contribuir de forma efetiva para uma maior justiça social.
Assim como ele, outros jovens ricaços encontraram uma perfeita afinidade ideológica na fundação Attac, um movimento internacional, criado em 1998, que visa ao controle democrático dos mercados financeiros e suas instituições. A melhor forma de colaborar com o movimento é dando justamente aquilo que eles têm de sobra: dinheiro.
Somente no ano passado, tais herdeiros doaram cerca de 750 mil euros para a Attac, na esperança de construir um mundo melhor e mais justo. Eles não conseguem conceber que suas fortunas sejam apenas empregadas no mercado especulativo e por isso apostam em um "investimento alternativo", cujo retorno não vem em forma de dinheiro e sim em reformas sociais.
Riqueza moderna
O ativista multimilionário Percy Rohde, de 36 anos, veste uma surrada camiseta da Attac, bem distante do visual condizente com sua conta bancária. Seu idealismo é expresso em alguns atos e muito dinheiro. Depois de apoiar ONGs ecológicas, como o Greenpeace, o biólogo encontrou na Attac sua verdadeira base política e luta agora por uma maior participação popular e pelo fortalecimento do papel da ONU.
Além de integrar diversas manifestações, ele já doou um ônibus e depositou o equivalente a um salário médio anual na conta da fundação internacional. "Se doar é um ato doloroso, então você não encontrou o caminho certo", afirmou Rohde para os que criticam ou não conseguem entender que certos idealismos precisam ser financiados.
Susann Haltermann, de 52 anos, é outro exemplo de total engajamento. Ela conheceu a Attac há dois anos e achou suas propostas de atuação bem mais interessantes do que certas possibilidades de investimento sugeridas por seu administrador de bens.
Ela já bancou a reforma do setor publicitário do movimento, doou 50 mil euros e não pretende parar por aí. "Através da fundação, eu me tornei uma pessoa com maior engajamento político", assegurou a herdeira de uma empresa de comércio de petróleo que luta, entre outras causas, contra a construção do oleoduto na selva do Equador.
Vantagens do poder aquisitivo
Algumas causas, aliás, lembram o setor financeiro e poderiam ser qualificadas como investimentos de risco. O esquema funciona da seguinte forma: os herdeiros financiam uma manifestação, por exemplo. Se os ativistas conseguem coletar doações suficientes, o dinheiro é devolvido aos financiadores. Caso contrário, o capital investido acaba em doação.
Para os milionários, o risco vale a pena e não chega a afetar o bolso de nenhum deles. Prova é que, à parte deste negócio, as volumosas doações para a Attac continuam fluindo e têm atraído cada vez mais herdeiros que sonham com um mundo melhor.