Militares de Mianmar ameaçam "atirar na cabeça"
26 de março de 2021A junta militar que governa Mianmar desde o golpe de Estado perpetrado em 1º de fevereiro alertou nesta sexta-feira (26/03), através da imprensa, que os manifestantes contrários ao governo estão sob risco de ser alvejados na cabeça pelas forças de segurança.
A ameaça veio em mensagem divulgada por uma emissora estatal birmanesa: "Vocês devem estar cientes de que estão em risco de serem alvejados na cabeça ou nas costas.” Segundo relatos de testemunhas e da imprensa local, nesta sexta-feira as forcas de segurança teriam matado a tiros quatro manifestantes pró-democracia.
Pelo menos 320 foram mortos nas semanas de protestos que se seguiram à deposição do governo da líder civil Aung San Suu Kyi, segundo o grupo ativista Associação de Assistência para Prisioneiros Políticos (AAPP). Dados coletados pela ONG sugerem que ao menos 25% das vítimas morreram com tiros na cabeça, o que aumenta as suspeitas de que os tiros teriam sido propositais.
A enviada especial das Nações Unidas em Mianmar, Christine Schraner Burgener, denunciou o massacre cometido pelos militares, que se voltaram contra a população: "Mulheres, jovens e crianças estão entre os mortos”, afirmou em nota.
Oposição convoca protesto
Apesar da violência, os organizadores dos protestos convocaram uma demonstração de força contra o governo para este sábado, data em que é comemorado o Dia das Forças Armadas, em memória da resistência militar à ocupação japonesa em 1945.
"Temos de reavivar essa história no dia 27 de marco de 2021, nessa revolução de primavera”, escreveu um dos líderes das manifestações nas redes sociais. "O dia para o povo se rebelar contra o Tatmadaw [Forças Armadas], que há muito vem oprimindo a população, [...] chegou novamente.”
Os protestos em todo o país incluem greves e ações de desobediência civil por funcionários do governo, entravando o funcionamento do Estado.
Autoridades birmanesas libertaram nesta sexta-feira cerca de 300 manifestantes que estavam presos em Yangon, a maior cidade do país. Dos cerca de 3 mil que foram detidos, em torno de mil já haviam sido soltos. Entretanto a líder Aung San Suu Kyi continua presa em local não revelado. Vários membros de seu partido também estão sob custódia.
Os militares assumiram o poder depois de alegarem fraude nas eleições presidenciais de novembro de 2020, e puseram o país sob estado de emergência até a convocação de uma nova votação, que ainda não tem data marcada.
rc (Reuters, AFP)