Minorias sírias unem-se no combate ao regime Assad
13 de abril de 2012A Síria é um país multicultural. Localizado na fronteira entre as áreas culturais árabe e turca, o país foi povoado pelos mais diferentes grupos. As minorias – religiosas e étnicas – até então artificialmente separadas entre si, unem-se agora contra o governo de Bashar al-Assad.
A família Assad contribuiu significativamente para separar de forma artificial os grupos da população síria. Agora, esses grupos se unem através da oposição comum ao regime. No momento, eles são aliados, e uma política sensata poderia fazer com que o permanecessem a longo prazo.
A maioria da população síria é seguidora do islamismo – uma religião que os une e separa ao mesmo tempo. Entre os islâmicos sírios, cerca de três quartos são sunitas, e cerca de um décimo são xiitas – incluindo a família Assad. Há ainda mais confissões islâmicas ou de origem islâmica: drusos, ismaelitas, alevitas e xiitas duodecimanos – que, juntos, compõem 7% do povo sírio.
Aos muçulmanos – adeptos do islamismo – somam-se os cristãos. Estes também são um grupo multifacetado: ortodoxos sírios, gregos e católicos; maronitas; melquitas; apostólicos armênios; cristãos sírio-católicos e greco-católicos; e membros da Igreja Católica Caldeia. Os cristãos compõem 15% dos cerca de 21 milhões de sírios.
Além dos grupos religiosos, há as minorias étnicas: curdos, turcomanos, circassianos, arameus e assírios. Nas últimas décadas, cerca de 600 mil refugiados palestinos e iraquianos se estabeleceram no país.
Convivência harmônica
Ao mesmo tempo em que une diferentes grupos culturais, a Síria sofre com tensões étnico-culturais. Rafik Shami, escritor sírio que vive há 40 anos na Alemanha, explica que, por muito tempo, as minorias não tinham problemas significativos entre si ou com a maioria sunita da população. Durante a sua infância, o cristão Shami tinha um amigo que, durante anos, não sabia ser muçulmano. "Nós brincávamos um com o outro, e isso bastava."
As fronteiras que separavam os sírios não eram religiosas ou culturais. A população se dividia principalmente por conta de fatores geográficos e sociográficos: população do campo versus da cidade, habitantes das áreas montanhosas versus do deserto ou do litoral.
Antigamente, os nômades viviam de modo diferente que os sedentários. E as pessoas também se diferenciavam no estilo de vida: algumas tinham um estilo de vida aberto, urbano; outras preferiam ficar entre si. Nas diferentes cidades e regiões, conviviam as camadas ricas e pobres, com ou sem formação educacional.
No entanto, cada grupo tinha seu centro. Os alauítas se concentravam na região montanhosa de Nuisayri e em Homs e Hama. Os ismaelitas viviam tradicionalmente nas montanhas ao longo do litoral, enquanto os ortodoxos gregos e os cristãos greco-católicos habitavam sobretudo Damasco, Lataquia e as áreas costeiras adjacentes. Os curdos se estabeleceram principalmente nas montanhas de Taurus e ao longo da fronteira com a Turquia, assim como em Hay al-Akrad – o bairro curdo de Damasco.
Identidades concorrentes
A Síria moderna nasceu no contexto do colonialismo europeu. Enquanto, sob o domínio dos otomanos, a região de Balad al-Shams ainda compreendia os territórios palestinos e dos atuais Israel, Líbano e Síria, em 1918, ingleses e franceses dividiram a região em províncias – a partir das quais surgiram os países de hoje. Naquele período, começou a separação cultural e, sobretudo, religiosa da população até em tão em convivência harmônica.
Para seu exército local, a França recrutou as Tropas Especiais de Levante – compostas principalmente de membros das minorias religiosas. Os franceses adotaram uma tática que colocou as minorias em oposição à maioria sunita. O truque de jogar grupos populacionais uns contra os outros também foi adotado pelo pai de Bashar, Hafiz al-Assad, depois de seu golpe em 1970 e a nomeação para a presidência.
"Assad distribuiu favores e posições a pessoas que lhe eram leais e àqueles que pertenciam ao seu próprio grupo, os alauítas. Dessa maneira, ele criou um regime confessional diferente do que os sírios conheciam até então", conta o escritor Shami.
Ao mesmo tempo, a família Assad também transformou membros de outras camadas – da elite econômica sunita – em aliados. Os privilégios obtidos através da aliança fizeram com que muitos deles apoiassem o regime Assad no início dos levantes no país. "Muitos sunitas ficaram ricos à custa do resto da população. Por isso, apoiam Assad e só romperão sua relação ao governante se ela se tornar desfavorável para eles", considera Shami.
Unidos pela oposição a Assad
Como muitos sírios conheceram apenas o lado autoritário do regime, a oposição ao governo Assad recruta indivíduos de diferentes grupos da população, explica Ferhad Ahma, membro do Conselho Nacional Sírio. "Independentemente de sua origem étnica ou religiosa, a maioria dos sírios deseja uma mudança democrática", diz.
Isso não significa, porém, que, após tantos anos de rivalidade religiosa e étnica, eles tenham superado a desconfiança entre si e com relação à maioria sunita. "As minorias insistem que seus direitos sejam claramente definidos na futura Síria. E eles têm razão em se preocupar com isso, pois veem que em alguns países vizinhos, como o Iraque e a Turquia, os pequenos grupos estão longe de serem tratados da maneira ideal", aponta Ahma.
Entretanto, segundo Shami, muitos alauitas têm medo porque nem todos apoiaram o regime Assad. "Os alauitas são cautelosos. É preciso respeitar isso. Se um alauita fala em público, fica claro se apoia ou não o regime. Mas não se deve forçá-los a falar ao microfone e dar uma declaração contra Assad. Principalmente no exterior, se deveria abrir mão disso, pois os alauitas têm parentes na Síria, os quais são reféns do regime", diz o escritor.
Dessa maneira, todos os grupos estão envolvidos no movimento de resistência contra Assad, explica Asmah. É claro que há preocupações com o futuro, mas a oposição síria está no caminho certo para resolver os problemas, considera. "Estão em curso negociações com representantes das minorias para delinear conceitos e teses claras, e ancorar o papel e os direitos das minorias na constituição, para que, no futuro, tenham uma garantia."
Autor: Kersten Knipp (lpf)
Revisão: Roselaine Wandscheer