Fim da missão de combate
31 de agosto de 2010Pouco depois de assumir a presidência dos Estados Unidos, Barack Obama prometeu acabar com a guerra no Iraque "de forma responsável". Um ano e meio depois, a última tropa norte-americana de combate deixou o país asiático nesta terça-feira (31/08).
Segundo os cálculos do governo de Washington, mais de 90 mil soldados se retiraram do Iraque nos últimos 18 meses. Os 50 mil restantes saem do campo de batalha e passam a dar assistência às forças de segurança iraquiana.
Em seu depoimento sobre o assunto, publicado no site da Casa Branca, Obama afirma que "continuará construindo uma forte parceria com o povo iraquiano, com aumento de compromisso civil e esforço diplomático".
O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, viajou ao Iraque para participar da cerimônia da troca de comando. Em companhia do presidente iraquiano, Jalal Talabani, do primeiro-ministro, Nouri al-Maliki, e também do presidente do Supremo Conselho Muçulmano, Ammar al-Hakim, Biden também deve opinar sobre as negociações da formação do novo governo no país do Oriente Médio.
Diplomacia e outros interesses
As tropas de combate saem, mas a presença norte-americana poderá ser notada na enorme embaixada em Bagdá, em diversas missões e bases no país, onde os EUA continuarão prestando assistência à tecnologia armamentista, e a força aérea iraquiana, que continuará sendo montada. O Iraque vai abrigar também um escritório de cooperação em questões de segurança entre os dois países, e continuará tendo milhares de agentes de segurança norte-americanos.
"Eu não acho que os americanos sairão 100% do Iraque. Mais de 4 mil soldados morreram. E bilhões foram gastos. Essa região continua sendo importante para os interesses dos EUA. Eu não acredito que os americanos se retirarão da região depois de tantos esforços. Eu acho que eles ficarão aqui de algum jeito, e que exercerão influência", opina Azzad Othman, professor da Universidade de Erbil, na região curda do norte do Iraque, única do país que goza de estabilidade e certo progresso econômico.
A retirada total das tropas norte-americanas deve ocorrer até o fim do próximo ano – quando os 50 mil soldados que agora passam a "força de apoio" deixarão de fato o país. Ali Dabbagh, porta-voz do governo iraquiano, reforça a ideia de cooperação a longo prazo.
"Queremos uma parceria estratégica com os Estados Unidos. Assinamos 11 contratos com empresas estrangeiras de petróleo, apenas uma delas é dos Estados Unidos. Ninguém pode nos impor regras, sejam os Estados Unidos ou os países da região", declarou Dabbagh sobre o futuro da relação bilateral.
Segurança interna
Os iraquianos assistem à movimentação no país com temor de que os atentados dos radicais se intensifiquem. Os ataques quase que diários na capital, Bagdá, contra diversas instituições, deixam a impressão de que os terroristas podem agir a qualquer momento, e em qualquer lugar.
Os radicais também exploram o fato de que, seis meses depois das eleições iraquianas, o país ainda não conseguiu formar um governo. O vice-primeiro-ministro, Azad Barwari, adverte para tempos difíceis: "A questão da liderança política, dos recursos naturais e da disputa territorial só pode ser resolvida de forma democrática, respeitando a Constituição e com aceitação mútua. Se não conseguimos resolver todas as essas questões até 2011, nosso futuro estará em xeque."
A versão norte-americana
O "assunto político" Iraque merece uma seção exclusiva – e uma das mais longas – no site do governo dos Estados Unidos. E para os cidadãos norte-americanos que não sabem muito sobre o distante país do Oriente Médio, há informações sobre a geografia, história e governo iraquiano.
Definido como um país rico em petróleo e gás natural, em 2008 o Iraque faturou 58 bilhões de dólares com suas exportações – 84% correspondem a petróleo, sendo os Estados Unidos o principal mercado.
Na longa descrição sobre os fatos históricos do Iraque, a atuação norte-americana é citada com ênfase num episódio de 1991. Naquele ano, uma aliança de países liderada pelos Estados Unidos – em nome das Nações Unidas – expulsou soldados iraquianos do Kuwait, após a invasão de agosto de 1990.
O Conselho de Segurança da ONU exigiu então que o governo de Saddam Hussein entregasse suas armas de destruição de massa que, segundo acusam os norte-americanos, foram usadas para reprimir movimentos curdos no país depois da guerra contra o Irã (1980-1988).
E foi nessas circunstâncias que começou a ocupação: "Depois que o Iraque falhou em cooperar com as inspeções da ONU, as forças lideradas pelos Estados Unidos invadiram o país em março de 2003, depuseram o ditador Saddam Hussein (executado em 30 de dezembro de 2006 pelo governo do Iraque), conta o site, que acrescenta a seguir: "O objetivo da política dos Estados Unidos é um Iraque soberano, estável e autônomo."
Autores: Nádia Pontes / Ulrich Leidholdt
Revisão: Roselaine Wandscheer