Moro aceita chefiar Ministério da Justiça
1 de novembro de 2018O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, aceitou nesta quinta-feira (01/11) o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) para assumir o comando do Ministério da Justiça.
Após reunião no Rio de Janeiro, Moro disse em nota estar "honrado" com o convite e que aceita o cargo com "certo pesar", pois terá abandonar seus 22 anos de magistratura.
"A perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito à Constituição, a lei e aos direitos, levou-me a tomar esta decisão. Na prática, significa consolidar os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afastar riscos de retrocessos por um bem maior", afirmou Moro.
"A Operação Lava Jato seguirá em Curitiba com os valorosos juízes locais. De todo modo, para evitar controvérsias desnecessárias, devo desde logo afastar-me de novas audiências", disse.
Bolsonaro havia declarado sua intenção de convidar Moro para ser ministro da Justiça ou para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) em várias entrevistas concedidas à imprensa nesta segunda-feira, um dia após ser eleito.
"Ele é uma pessoa excepcional, que goza de um respaldo muito grande da população e tem conhecimento", declarou após o pleito. "É uma pessoa que merece ser reconhecida por seu trabalho, e nós sabemos que, vindo para o governo, ele fará valer todo o seu conhecimento para o bem do nosso Brasil."
Citado pela Folha de S. Paulo nesta quinta-feira, o vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, a primeira conversa com Moro aconteceu há algumas semanas. "Isso já faz tempo, durante a campanha foi feito um contato", disse. Segundo Mourão, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, contatou o juiz.
Segundo Bolsonaro, Moro assumirá um "superministério" da Justiça e escolherá o novo diretor-geral da Polícia Federal.
"Ele vai indicar todos que virão a compor o primeiro escalão [da pasta]. Inclusive o chefe da Polícia Federal", afirmou em entrevistas a emissoras de televisão nesta quinta.
Em 2016, Moro disse ao jornal O Estado de S. Paulo que jamais entraria para a política, afirmando ser "um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não um homem da política".
Antes de anunciar que aceitaria o convite, Moro foi criticado pela possibilidade de assumir o cargo de ministro da Justiça. Ciro Gomes, que concorreu à Presidência pelo PDT, classificou Moro de "aberração de toga".
A defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou nesta quarta-feira a possível presença de Moro no governo Bolsonaro para alegar a parcialidade do juiz, responsável pela condenação do petista na primeira instância da Operação Lava Jato.
A menos de uma semana do primeiro turno da eleição presidencial deste ano, Moro tornou públicas partes da delação premiada em que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci afirma que Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff tinham conhecimento dos esquemas de corrupção para desviar verbas da Petrobras para o PT.
Palocci ainda afirmou que as campanhas do PT à Presidência de 2010 e 2014 custaram R$ 600 milhões e R$ 800 milhões, respectivamente, valores bem superiores aos declarados pelo partido à Justiça Eleitoral.
Após pedido de esclarecimentos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o juiz federal negou ter tentado influenciar o processo eleitoral, uma vez que o presidenciável petista Fernando Haddad não foi citado na delação de Palocci.
O juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba não declarou preferência em relação ao candidato do PSL durante a corrida eleitoral, mas interlocutores afirmam que ele enxergava pontos positivos na campanha de Bolsonaro e também temia a volta do PT ao poder.
Após a eleição, Moro parabenizou o presidente eleito pela vitória e desejou que ele faça um bom governo. "São importantes, com diálogo e tolerância, reformas para recuperar a economia e a integridade da Administração Pública, assim resgatando a confiança da população na classe política", ressaltou o juiz em nota.
LPF/ots
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