Morre ativista que ajudou a reunir vítimas de João de Deus
3 de fevereiro de 2019A ativista Sabrina Bittencourt, que ajudou a reunir mulheres vítimas do médium João de Deus para denunciar os crimes sexuais cometidos contra elas, morreu na noite deste sábado (02/02).
Em nota, o grupo Vítimas Unidas, ONG de apoio a vítimas de abusos sexuais com a qual Bittencourt trabalhava, informou que a militante de 38 anos se suicidou por volta das 21h em Barcelona, na Espanha, onde ela morava.
"A ativista cometeu suicídio e deixou uma carta de despedida relatando os porquês de tirar sua própria vida", diz o texto, assinado por Maria do Carmo Santos, presidente da ONG, e Vana Lopes, fundadora da organização.
"Pedimos a todos que não tentem entrar em contato com nenhum integrante da família, preservando-os de perguntas que sejam dolorosas neste momento tão difícil", acrescenta a nota, sem dar informações sobre velório e enterro.
"A luta de Sabrina jamais será esquecida e continuaremos, com a mesma garra, defendendo as minorias, principalmente as mulheres que são vítimas diárias do machismo."
Às 20h05 do sábado, Bittencourt publicou um longo texto em seu perfil no Facebook, que foi depois apagado. Ela afirmava que iria se unir à vereadora carioca Marielle Franco, assassinada em março de 2018. "Marielle, me uno a ti. Somos semente", escreveu.
"Fiz o que pude, até onde pude. Meu amor será eterno por todos vocês. Perdão por não aguentar, meus filhos. Vocês terão milhares de mães no mundo inteiro. Minas irmãs e irmãos na dor e no amor, cuidem deles por mim", disse ela, que deixa três filhos.
Gabriel Baum, o filho mais velho e também ativista social, comentou a morte da mãe na mesma rede social. "Ela só se transformou em outra matéria. Nós seguiremos por ela. Foi isso que minha mãe me ensinou e ninguém vai poder tirar de mim. Não permitam que manchem o nome dela."
Segundo o filho, Bittencourt disse a ele que, depois de Marielle, ela seria "a próxima". "Minha mãe passou o ano todo me preparando, mas nunca estamos preparados mesmo", escreveu. "Ela não queria ser morta pelas quadrilhas nem pelo câncer. Minha mãe lutou até o final, ela não desistiu. Ela só se libertou do inferno que estava vivendo."
Ativista social há 20 anos, ela fazia parte de uma série de grupos de combate à violência sexual, entre eles a força-tarefa Somos Muitas e o movimento Coame, sigla para Combate ao Abuso no Meio Espiritual, que denuncia crimes sexuais cometidos por religiosos.
Durante meses, Bittencourt reuniu relatos de vítimas de João de Deus e incentivou as primeiras mulheres a denunciarem o médium pelos abusos sexuais que elas sofreram. Ele está preso desde dezembro e é réu pelos crimes de estupro de vulnerável e violação sexual.
Em janeiro, ela apresentou uma denúncia ao Ministério Público acusando João de Deus de envolvimento também em escravização de mulheres e em tráfico internacional de bebês.
No sábado, em postagem no Facebook, a militante celebrou a prisão de Sandro Teixeira, filho do médium, acusado de coagir testemunhas. "Quando falamos que temos provas e evidências, além de relatos, confiem. Somos responsáveis nas nossas acusações e pedidos de investigação", escreveu.
Em entrevista recente à revista Marie Claire, Bittencourt disse que estava tratando um câncer no sistema linfático. Contou ainda ter sofrido abusos desde os 4 anos por parte de membros da igreja que sua família frequentava. Aos 16, ficou grávida de um dos estupradores, mas abortou.
Ela também esteve envolvida com as denúncias de abuso sexual contra o mestre espiritual Prem Baba. Segundo a imprensa brasileira, Bittencourt era alvo constante de ameaças de morte, por isso vivia fora do Brasil e mudava de endereço com frequência.
EK/ots
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