Morre David Sassoli, presidente do Parlamento Europeu
11 de janeiro de 2022O presidente do Parlamento Europeu, o italiano David Sassoli, morreu nesta terça-feira (11/01), aos 65 anos, após passar mais de duas semanas internado na Itália por complicações derivadas de uma disfunção no sistema imunológico, informou seu porta-voz.
Após contrair uma pneumonia em setembro passado, Sassoli, que era fumante e havia tido leucemia no passado, passou mais de dois meses se recuperando e tinha voltado recentemente à atividade política. Mas em 26 de dezembro foi internado novamente em um hospital italiano por complicações sérias após uma disfunção do sistema imunológico.
O social-democrata, que antes de entrar para a política teve uma longa carreira no jornalismo, foi nomeado presidente do Parlamento Europeu em julho de 2019 e estava na última semana de seu mandato, que acabou sendo dominado pela pandemia de covid-19.
Sassoli conquistou o respeito do parlamento com seu senso de organização, a atenção dada por sua equipe ao trabalho remoto e um sistema remoto de votação. Num sinal de solidariedade durante a pandemia, ele disponibilizou as instalações parlamentares desertas para a preparação de refeições para famílias necessitadas e para a realização de testes de covid-19.
Em dezembro, Sassoli presidiu uma simbólica sessão no Parlamento Europeu que acabaria por ser seu testamento político: a entrega do Prêmio Sakharov, a principal distinção de direitos humanos da União Europeia (UE), para o oposicionista russo Alexei Navalny, representado por sua filha.
"Um grande europeu"
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, lamentou a morte de Sassoli, descrevendo-o como "um grande europeu e italiano".
"David Sassoli era um jornalista apaixonado, um extraordinário presidente do Parlamento Europeu e, sobretudo, um querido amigo. Os meus pensamentos estão com a sua família. Descansa em paz, caro David", escreveu Von der Leyen no Twitter.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também manifestou sua comoção, chamando Sassoli de um "sincero e apaixonado europeu". "Sentimos falta do seu calor humano, da sua generosidade, da sua simpatia e do seu sorriso. Sinceras condolências à sua família e amigos", tuitou.
Nascido em Florença, Sassoli também era muito respeitado em seu país natal. O ex-primeiro-ministro, amigo de longa data e atual líder do Partido Democrático da Itália, Enrico Letta, elogiou a "generosidade extraordinária” de Sassoli, o qual descreveu como um homem de "visão e princípios, teóricos e práticos”.
Outro ex-primeiro-ministro italiano, Paolo Gentiloni, de centro-esquerda, classificou a morte de Sassoli de uma "perda terrível”, destacando sua capacidade de liderança, paixão, generosidade e amizade.
Do jornalismo para a política
Antes de entrar para a política, Sassoli estudou Ciências Políticas, atuou como repórter de jornal e de agência de notícias e depois se tornou um conhecido âncora do principal noticiário da emissora de TV RAI, da qual também foi vice-diretor.
Ele foi eleito para o Parlamento Europeu pela primeira vez em 2009, com 400 mil votos impulsionados por sua fama como jornalista, e conquistou mais um mandato em 2014, tendo atuado como vice-presidente da instituição antes de liderá-la.
"Se vocês depositarem sua confiança em mim, lutaremos juntos por um parlamento que seja moderno, mais transparente, ambientalmente correto e mais acessível aos cidadãos", prometeu o italiano antes de ser eleito presidente da instituição em 2019. "Nada é possível sem pessoas, nada é durável sem instituições", acrescentou, citando um dos pais fundadores da UE, Jean Monnet.
Mesmo que muitas vezes ofuscado por Von der Leyen e Michel, Sassoli presidiu uma instituição que, ao longo dos anos, se tornou mais poderosa e fundamental na definição do curso da UE em diversos setores, como economia digital, clima e Brexit.
No coração da democracia europeia
O Parlamento Europeu representa os 450 milhões de cidadãos da EU e define-se como "o coração da democracia europeia". Ele tem mais de 700 membros, eleitos diretamente pelos países que integram o bloco.
Esta é a primeira vez na história do Parlamento Europeu que morre um presidente em exercício. De acordo com o regulamento interno do Parlamento, o primeiro vice-presidente deve atuar como presidente até que um sucessor seja eleito.
A primeira vice-presidente atual é a maltesa Roberta Metsola, do Partido Popular Europeu (democrata cristão/conservador), que já era a favorita para conquistar o posto na próxima terça-feira, quando o Parlamento deverá eleger um novo presidente por ter chegado à metade desta legislatura (2019-2024).
Metsola lamentou a morte do colega, afirmando que a Europa perdeu um líder, e a democracia, um campeão. "Sassoli dedicou sua vida para fazer do mundo um lugar melhor e mais justo", disse.
lf (Efe, AP, AFP, Lusa)