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Morte de Arafat enfraqueceu palestinos

Kersten Knipp (av)8 de novembro de 2013

Especulações sobre envenenamento evidenciam influência do líder, em vida e na morte. Yasser Arafat foi um hábil negociador cuja perda acentuou divisão entre os palestinos de Gaza e da Cisjordânia. Quem ganhou foi Israel.

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Foto: AP

A morte de Yasser Arafat aos 75 anos de idade, em 11 de novembro de 2004, teve uma longa história prévia. Nos anos anteriores, haviam ocorrido muitas reviravoltas no Oriente Médio.

Uma data central foi 28 de setembro de 2000. Nesse dia, o futuro premiê Ariel Sharon passeou pelo Monte do Templo em Jerusalém acompanhado por mil policiais armados, seguro de si e de óculos escuros. O local é ao mesmo tempo o mais sagrado para o judaísmo e o terceiro mais sagrado para o islã.

Na ótica dos muçulmanos, o passeio era uma provocação. Não tanto por motivos religiosos, mas porque, com o ato, o político de centro-direita sinalizava as prerrogativas de Israel também sobre o lado leste da Cidade Sagrada, na verdade destinado aos palestinos.

Estes reagiram imediatamente: primeiro com protestos contra Israel, depois atirando pedras, por último recorrendo a fuzis e explosivos. Nascia a Segunda Intifada: ao longo de quase quatro anos e meio, ambas as frentes se confrontaram em escaramuças, que custaram a vida de 3.500 palestinos e 500 israelenses.

Guerra ao presidente palestino

Entre as vítimas israelenses está o então ministro do Turismo Rehawam Zeevi, fuzilado por militantes em janeiro de 2001. Israel exigiu que a Autoridade Palestina entregasse os responsáveis. Como esta se negou, em dezembro helicópteros de combate israelenses dispararam contra o heliporto da sede presidencial de Arafat em Gaza.

No final de março de 2002, o premiê Sharon declarou Arafat inimigo de Estado. Tropas israelenses atacaram seu quartel-general: Arafat ficou confinado a pouco mais que um escritório no centro do prédio – segundo fontes dos Estados Unidos, durante várias semanas.

Jassir Arafat
Yasser Arafat como herói nacional, em pôster de 2011Foto: AP

Tais acontecimentos demonstram quão incômodo o líder palestino era para Israel. Mas também os EUA e parte dos adversários políticos internos queriam se livrar dele, afirma Margret Johannsen, cientista política no Instituto de Pesquisa da Paz e Política de Segurança da Universidade de Hamburgo.

Segundo ela, um ponto da política de Arafat incomodava em especial os israelenses: seu desejo incondicional de evitar a dispersão dos palestinos em diversos agrupamentos políticos. "Ele queria evitar por todos os meios que as facções ficassem isoladas e que, dessa forma, os grupos marginais se radicalizassem. E isso ele conseguiu."

Veneno como arma política

Quando, em novembro de 2004, após grave doença, Arafat morreu num hospital de Paris, muitos palestinos falaram de atentado com veneno. Uma tese que, mesmo após os mais recentes exames toxicológicos, não foi definitivamente comprovada nem refutada.

No entanto, Johannsen considera a hipótese de assassinato plenamente plausível, do ponto de vista político. Por exemplo: em 1997, na capital jordaniana, o serviço secreto israelense Mossad fracassou num atentado usando veneno contra Khalid Mashal, da liderança do movimento fundamentalista islâmico Hamas. "Ou seja, da parte do Mossad não existem escrúpulos morais nesse sentido" – o que, por outro lado, não constitui prova em relação a Arafat, ressalva a politóloga.

Palästinenserin in Nablus diskutiert mit israelischem Soldaten
Pressão de israelenses sobre dia a dia palestino é maciçaFoto: picture-alliance/dpa

Israel avança nos territórios autônomos

Seu colega Bassem Zubaidi aponta um aspecto que considera mais decisivo do que a causa da morte de Arafat: o fato de ele ter desaparecido do cenário político da região. "Pois assim os israelenses pressionaram os palestinos a escolher um líder mais moderado, ou seja, Mahmud Abbas."

Segundo o professor da Universidade Birzeit, na Cisjordânia, como Abbas não conseguiu se afirmar contra os israelenses, estes impuseram em grande estilo os próprios interesses, sem que os aliados ocidentais interferissem muito para moderá-los.

"Ainda hoje é assim: há negociações, mas ao mesmo tempo prossegue a construção de assentamentos em grande escala. Paralelamente, a administração israelense segue sendo ampliada, e com ela, o controle sobre os territórios palestinos", resume Zubaidi.

A pressão sobre Mahmud Abbas levou à divisão ideológica entre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, complementa Johannsen. Isso ficou demonstrado, sobretudo, na vitória do fundamentalista Hamas nas eleições de 2006 em Gaza.

Arafat Amtssitz in Ramallah 2002
Sede do governo de Arafat em Ramallah arrasada em 2002Foto: picture-alliance/dpa

"Nesse ponto é considerável a corresponsabilidade das potências ocidentais, devido à pressão que exerceram contra os palestinos." E essa é, possivelmente, a perda política decisiva que a morte de Arafat acarretou para seu povo. "Abbas nada opôs à pressão ocidental, Arafat o teria feito, presumivelmente", especula a cientista política de Hamburgo.

Violência à vista?

Nove anos depois da morte do líder, Zubaidi faz um balanço pessimista. Os palestinos enfrentam a pobreza e o desemprego, e perderam a esperança de um futuro melhor, diante da indiferença europeia e norte-americana.

10. Jahrestag Zweite Intifada Ariel Scharon auf dem Tempelberg
Ariel Sharon no Monte do Templo, no 10º aniversário da Segunda IntifadaFoto: AP

O desenlace trágico das revoluções árabes minou ainda mais a coragem dos palestinos, pois, desde a irrupção dos levantes, as reivindicações dos palestisno quase não encontram mais espaço na mídia internacional.

Do ponto de vista político, o tempo parou nos territórios autônomos. E, segundo Zubaidi, esse não é um bom presságio para o futuro: "Não ficarei surpreso se, em dois, três anos, a violência voltar a irromper."