Moscou ainda analisa fim do embargo à carne brasileira
14 de dezembro de 2012A visita da presidente Dilma Rousseff a Moscou não foi suficiente para que a Rússia retirasse o embargo às exportações da carne de três estados brasileiros – Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso – que já duram um ano e meio. Dilma disse, após encontro com o presidente russo, Vladmir Putin, nesta sexta-feira (14/12), que os russos ainda analisam a questão.
Uma das exigências do governo russo é que os criadores brasileiros não utilizem a ractopamina, uma substância para engorda utilizada na criação de suínos e bovinos e proibida pelos países da União Europeia.
"Já encaminhamos todas as informações e acreditamos que o embargo vai ser suspenso logo que eles completarem essas análises", frisou Dilma. A presidente não informou prazos. A negativa russa frustrou os empresários brasileiros do setor de carnes, que esperavam, no mínimo, o fim parcial do bloqueio russo.
Durante a reunião com Putin foram fechados acordos de parceria estratégica e cooperação em defesa entre os dois países. Entre os acordos está a compra, pela empresa brasileira Atlas Taxi Aéreo, de 14 helicópteros da Russian Helicopters (modelo Kmov-62), no valor de 200 milhões de dólares.
De acordo com o diretor executivo da Atlas, Waldomiro Silva, o primeiro helicóptero, que tem capacidade para 15 pessoas, será entregue em 2015 e será usado para o transporte de passageiros para plataformas petrolíferas marítimas.
Síria
Durante o encontro, os dois presidentes conversaram também sobre o conflito na Síria. "O Brasil acompanha, com extrema preocupação, a gravíssima escalada do conflito da Síria. Achamos que um processo político, liderado pelos próprios sírios, é o único caminho para a superação do conflito", afirmou Dilma.
Ela disse que Putin não acredita de maneira nenhuma numa solução militar para o conflito na Síria. "O Brasil acredita que soluções militares em conflitos internacionais não são eficazes e não dão certo. Defendemos que o conflito deve ser resolvido pela Síria, que seja uma solução diplomática."
Ela agradeceu ao presidente Putin pelo apoio ao pleito brasileiro de ter um assento como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.
"Vaca louca"
A presidente comentou ainda o embargo da China, da África do Sul e do Japão à carne bovina brasileira, recém-anunciado, por causa da confirmação de um caso da doença da vaca louca numa fazenda no Paraná, em 2010.
Dilma afirmou que vai tomar todas as medidas para que o Brasil se enquadre em todos os requisitos fitossanitários da Organização Mundial da Saúde e dos países importadores. "Em relação aos embargos da China e do Japão, vamos batalhar para esclarecer, porque é um caso muito localizado. Vamos torcer para que o resultado seja o melhor possível para a produção brasileira", disse.
A demora de dois anos para notificar o caso foi justificada pelo Ministério da Agricultura por causa do acúmulo de mais de 30 mil exames. Mesmo assim, a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE, em inglês) decidiu manter a classificação sanitária do Brasil como de risco insignificante para a doença.
Efeito dominó
Os empresários do setor da carne brasileiro esperam que não haja um efeito dominó, levando outros países a suspender a compra da carne brasileira. "Espero que o Ministério da Agricultura possa explicar a situação para os países compradores, como o Chile, para que eles não suspendam as compras. Até o momento, somente 1% das exportações brasileiras foram afetadas", declarou João de Almeida Sampaio, vice-presidente da Marfrig, uma das maiores exportadoras de carne do Brasil.
Pedro Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), disse que há prejuízos significativos, principalmente para a imagem da carne brasileira. "Como justificar que demorou dois anos? Providências têm que ser tomadas para que isso não volte a acontecer, já que o país tem a pretensão de ser o maior exportador de carne do mundo. Um exame laboratorial não pode demorar dois anos para ser realizado", afirmou.
Camargo Neto acrescentou que o governo brasileiro deve disponibilizar mais dinheiro para o Ministério da Agricultura. "Temos que ter mais orçamento para reconquistar a credibilidade. O orçamento do Ministério da Agricultura para o ano de 2013 está muito baixo", disse.
Crise econômica
A presidente discursou sobre crise econômica e austeridade no encerramento do Fórum Empresarial Brasil-Rússia para cerca de 200 empresários e políticos. Para a presidente, a crise tende a durar "um certo período de tempo" e que cortes radicais de gastos não conduzem necessariamente à retomada da economia.
"Hoje, até o Fundo Monetário Internacional admite que a austeridade por si só provoca mais recessão e mais desemprego, e que ela deve ser combinada com medidas mais efetivas para fazer as economias crescerem", disse a presidente.
Pela manhã, Dilma participou de uma cerimônia no Túmulo do Soldado Desconhecido – monumento no centro de Moscou construído para homenagear os soldados mortos nas guerras. Sob um frio de 12 graus negativos, a presidente fez a revista de tropa, ouviu o Hino Nacional e depositou flores no monumento.
Dilma retorna ao Brasil neste sábado, encerrando a última viagem à Europa deste ano, na qual visitou a França e Rússia.
Autor: Fernando Caulyt, de Moscou
Revisão: Alexandre Schossler