Novos choques em Teerã
20 de junho de 2009A situação voltou a ficar tensa no Irã neste sábado (20/08), uma semana após o início dos protestos dos oposicionistas, que apontam fraude na eleição presidencial no país. Apesar das ameaças do aiatolá Ali Khamenei, que exigiu o fim das manifestações, e da proibição oficial, milhares de partidários do candidato derrotado Mir Hussein Mussavi saíram às ruas de Teerã.
Testemunhas relatam que houve enfrentamentos violentos entre forças de segurança e oposicionistas, e também entre estes e simpatizantes do presidente reeleito Mahmud Ahmadinejad. A polícia teria usado gás lacrimogêneo, jatos de água e cassetetes contra os manifestantes. Relatos não confirmados falam em vários feridos.
Órgãos de imprensa ligados ao governo noticiaram que houve um ataque suicida ao mausoléu do aiatolá Khomeini, no sul de Teerã, neste sábado. Duas pessoas teriam morrido, incluindo o autor do atentado, e oito estariam feridas.
Além das fontes oficiais, ninguém mais confirmou a veracidade da informação. Também não está claro se há uma relação com os protestos oposicionistas. O mausoléu é um lugar sagrado para muitos iranianos.
A presença da imprensa internacional continua proibida nas manifestações, o que impede um relato independente dos fatos.
Mussavi: fraude planejada
De acordo com os partidários de Mussavi, este teria dito que continuará sua luta a favor da anulação das eleições e que está disposto a se tornar um mártir. "Caso me prendam, todos devem fazer greve e abandonar o trabalho", teria afirmado o candidato derrotado a seus apoiadores.
Numa carta ao poderoso Conselho de Guardiães, Mussavi afirmou que a fraude da eleição presidencial foi planejada há meses. Ele criticou as interrupções das redes de comunicação, como a internet e o envio de mensagens de celular, no dia da eleição.
As declarações de Mussavi vão de encontro ao sermão de Khamenei. Na sexta-feira, o líder supremo do país declarara o resultado das urnas como legítimo e exigira o fim das manifestações da oposição.
Obama: claro sinal
Também neste sábado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se declarou "muito preocupado" em relação a trechos do discurso de Khamenei. Em entrevista à emissora de televisão CBS, Obama disse que o governo em Teerã deve estar ciente de que o mundo o está observando.
"A maneira como eles vão lidar com as pessoas que, de forma pacífica, tentam se fazer ouvir envia um claro sinal à comunidade internacional de como o Irã é ou não é", afirmou Obama.
Protestos na Europa
Na França, milhares de exilados iranianos se reuniram neste sábado para protestar contra as lideranças iranianas e o regime de governo do país. Segundo o Conselho Nacional da Resistência Iraniana (CNRI), em torno de 90 mil pessoas participaram das manifestações em Villepinte, nos subúrbios da Paris.
"As pessoas no Irã querem a troca do sistema", disse o porta-voz do CNRI, Javad Dabiran. Segundo a organização, o protesto reuniu também iranianos que vivem em outros países europeus. Ao todo, mais de mil ônibus teriam conduzido participantes para a manifestação.
A presidente do CNRI, Maryam Rajavi, cobrou dos países ocidentais que adotem uma linha mais dura em relação ao Irã. O CNRI se apresenta como uma organização de democratas iranianos no exterior. Mas dele faz parte também o Mujahedin do Povo, grupo considerado terrorista pelos Estados Unidos.
Também na Alemanha aconteceram protestos de exilados iranianos contra a reeleição de Ahmadinejad. Em Hamburgo, os participantes marcharam pelo centro da cidade exibindo faixas verdes, rosas e fotos de manifestantes feridos nos confrontos em Teerã. Segundo a polícia, cerca de 4 mil pessoas participaram da passeata.
Houve protestos ainda diante do consulado iraniano em Frankfurt – onde estiveram cerca de 400 pessoas, segundo a polícia – e em Stuttgart, onde em torno de 200 manifestantes expressaram seu descontentamento com a situação no Irã. Eles exigiram da União Europeia e da Alemanha que não reconheçam o resultado da eleição iraniana.
AS/dpa
Revisão: Carlos Albuquerque