Médico alerta para risco de epidemia de DST pouco conhecida
18 de julho de 2018O uso de preservativos durante a relação sexual pode proteger contra uma infecção pouco conhecida, mas já amplamente propagada na Europa por ter sido negligenciada no passado: a Mycoplasma genitalium, ou MG.
Como nem sempre o paciente que contrai a doença apresenta sintomas, ou como a bactéria também pode ser confundida com outras doenças sexualmente transmissíveis, a propagação da MG vem causando alerta entre especialistas.
Na Inglaterra, por exemplo, já existem testes para detectar a bactéria, mas não em todas as clínicas. Como outras DSTs, a MG pode ser tratada com antibióticos, porém já é resistente a alguns medicamentos.
Além da relação sexual, a doença também pode ser transmitida por contatos como o beijo, segundo explicou à DW o professor Norbert Brockmeyer. Ele criou o Centro de Saúde Sexual na Clínica de Dermatologia do Hospital St. Josef, em Bochum, em 2009. Brockmeyer é especialista em dermatologia e doenças sexualmente transmissíveis e pesquisador de HIV/AIDS.
A doença pode levar a um corrimento aguado, queimação na uretra e coceira. Também se manifesta por vermelhidão, por exemplo na boca ou na área da garganta e, segundo Brockmeyer, é possível que cause infertilidade.
DW: A infecção bacteriana Mycoplasma genitalium (MG) é uma doença sexualmente transmissível pouquíssimo conhecida. O que é característico dessa doença?
Norbert Brockmeyer: A MG é uma pequena bactéria, a Mycoplasma genitalium. A doença mais parecida com essa infecção é a clamídia. A maioria dessas infecções decorre sem sintomas clínicos. Mas a MG também pode levar a um corrimento levemente aguado, ou a queimação na uretra, a coceiras. Também pode aparecer vermelhidão, por exemplo na boca ou na área da garganta.
Como a MG é transmitida?
Nem sempre ela é transmitida por relações sexuais. Contatos sexuais simples e de outro tipo bastam para passar a doença de uma pessoa para outra – inclusive pelo beijo. Existem muitas maneiras de se contrair MG. Em pessoas que também têm outras infecções sexualmente transmissíveis ou para quem há risco de contrair essas infecções, o agente causador pode alcançar uma incidência de até 20%. A doença se espalhou especialmente entre homens que têm relações sexuais com outros homens.
Por que a MG está surgindo agora?
Até o momento, tratamos essa doença como uma madrasta trata o enteado ou enteada. Não a diagnosticamos nem a tratamos porque ela era rara e porque apresenta sintomas graves com muito pouca frequência. Agora, temos uma taxa de resistência alta. As bactérias só reagem a poucos antibióticos. Por isso, é indispensável tratar do problema. Nessa situação, nós médicos temos que desenvolver uma estratégia juntamente com os pacientes. A Sociedade Alemã de combate a Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTIG, na sigla em alemão) está trabalhando nisso.
Devemos ficar alarmados?
O problema é que essas infecções podem prevalecer durante muito tempo. E, mesmo depois da infecção, não sabemos que efeitos elas podem ter no longo prazo. No caso da clamídia, sabemos que a infecção pode causar infertilidade. Certamente, isso também é possível com a Mycoplasma genitalium. A clamídia também pode induzir tumores. Estamos lidando com um agente causador que deve ser levado a sério e que temos que diagnosticar e tratar uma vez só e corretamente para aproveitarmos a chance de eliminá-lo diretamente.
As infecções de MG podem se tornar uma epidemia?
Temos um problema claro com as resistências e, nesse caso, agora temos uma "superbactéria", um agente causador que quase não pode ser mais tratado com nenhum método. Esses problemas já estão bem maiores na MG do que no caso da gonorreia, por exemplo. Assim, existe o risco de uma epidemia.
O que preocupa mais o senhor?
As altas taxas de resistência e que esses agentes causadores resistentes se espalhem mais ainda. O risco de contrair a doença com um parceiro que tenha MG é de 60%. Isso dificulta o tratamento. Parcialmente, já precisamos até de antibiógicos que nem se consegue obter na Alemanha e que precisam ser comprados no exterior. As seguradoras de saúde públicas e privadas precisam autorizar esse tipo de despesa – o que também é um problema que precisamos resolver.
Qual é a melhor maneira de se proteger da doença?
A melhor proteção continua sendo a camisinha, também feminina, ou os chamados "lenços do sexo" ("sex wipes", em inglês, lenços higiênicos que ajudam no combate a bactérias causadoras de doenças sexualmente transmissíveis). Quem sabe que tem a bactéria precisa, absolutamente, informar a parceira ou o parceiro, que daí também podem ser diagnosticados e tratados. Só assim podemos reduzir a propagação da doença em até 50%. Apenas quando contamos à parceira ou ao parceiro que temos a doença, podemos diminuir as taxas de infecção. Na Alemanha, esse tipo de comunicação ainda é muito raro na prática. É um erro pensar que, quando não há sintomas, também não há necessidade de tratamento.
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