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Médicos da Alemanha lutam por melhores condições

(av)5 de agosto de 2005

A profissão médica passa mal no país. Um assistente ganha menos da metade do que recebe seu colega holandês. Milhares de profissionais protestaram toda uma semana contra uma "política inescrupulosa de corte de custos".

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'Some o dinheiro, o médico some'Foto: AP

Nesta sexta-feira (05/08), em Berlim, quase sete mil médicos protestaram contra o prolongamento das jornadas de trabalho e o achatamento salarial. A manifestação central, que incluiu um passeio de barco simbólico até a Chancelaria Federal, arrematou uma semana de protestos e greves da classe na Alemanha, iniciada sobretudo em nome dos jovens médicos assistentes.

Carência não é igual a carência

Os protestos são controvertidos, pois não se pode afirmar que os médicos alemães – mesmo os novatos – estejam passando fome. Na Alemanha, um assistente de 28 anos recebe 50 mil euros brutos por ano. Condições de sonho para outros profissionais ou mesmo para um médico brasileiro, porém nada atraentes na comparação européia: na vizinha Holanda, o salário inicial da classe é, por exemplo, de 110 mil euros anuais.

Atualmente, a Alemanha está entre os últimos da Europa, em termos de remuneração médica. Nos 2200 hospitais do país, 146 mil clínicos têm que cumprir, por ano, cerca de 50 milhões de horas extras (equivalentes a dois bilhões de euros), em grande parte não remuneradas, enquanto arcam com cortes salariais de até 15%. Em contrapartida, o número de pacientes internados cresceu 20%, no espaço de dez anos.

"Especular, manter inseguro e explorar"

O motivo imediato das manifestações da primeira semana de agosto foi um pacote aprovado pelos governos estaduais, incluindo elevação da jornada semanal a até 42 horas, redução do abono de Natal e corte do abono de férias. Essas medidas representam uma perda de vencimentos de até 20%.

Demonstration der Ärzte im Krankenhaus
'Atenção! Médico cansado'Foto: AP

Iniciadora dos protestos é a Marburger Bund (Aliança de Marburg), que defende os interesses dos clínicos e zela pela qualidade dos cuidados médicos no país. Seu presidente, Frank Ulrich Montgomery, considerou a semana um sucesso, havendo reunido, por exemplo, 4500 profissionais nos Estados de Hessen, Baviera e Baden-Württemberg. Ele acusa empregadores e políticos de implementar uma "política inescrupulosa de cortar custos", que consistiria em "especular, manter na insegurança e explorar".

Abusando da lei

Jörg-Dietrich Hoppe, presidente da Câmara dos Médicos da Alemanha tacha essa mesma tática de "abuso das prescrições legais": a jornada é mantida pro forma e os ordenados reduzidos proporcionalmente, porém o trabalho tem que ser cumprido – sem remuneração. "A relação entre jornada de trabalho e remuneração precisa ser restabelecida", exige Hoppe.

O diretor-gerente da Marburger Bund, Bernhard Resemann, registra que, a cada novo contrato de trabalho, o estatuto dos assistentes vem piorando. Não é raro a duração do contrato limitar-se a três ou quatro meses. "Isso causa enorme insegurança", acusa, e conclui que a profissão vem perdendo atratividade.

O paciente é quem sai perdendo

Embora todas as vagas dos cursos de Medicina estejam preenchidas, cada vez menos estudantes estão dispostos a enfrentar a cruel realidade hospitalar e ocupar-se dos pacientes, ressalta Resemann. Muitos abandonam a área clínica, indo procurar ocupação no setor de seguros, por exemplo.

Frank Montgomery aponta outras conseqüências fatais da atual política: "Os cirurgiões trabalham até 100 horas por semana, e ainda pegam no bisturi. Considero isso perigoso, deveria ser proibido!" Além disso, a evasão dos profissionais provoca alarmantes lacunas nas clínicas: mais de cinco mil postos estão vagos, e seis mil médicos já foram procurar melhores condições no estrangeiro.

Paraíso sueco

O destino preferido pelos médicos que abandonam o país é a Suécia, a qual, por sua vez, vem procurando especificamente preencher seus quadros com profissionais alemães. Uma prova desse interesse mútuo é a iniciativa Hospitais Suecos Procuram Médicos Alemães, que a Eures, a rede de intermediação de empregos da União Européia, promove duas vezes por ano.

Queixando-se da hierarquização excessiva e do dia-a-dia hospitalar estressante demais, muitos já consideram deixar o país durante o período de estudos. Uma fonte comum de queixas são os plantões de mais de 24 horas seguidas, que levam a erros médicos.

A assistente de clínica geral Alexandra Schönherr sente falta de possibilidades, sobretudo para os que pretendem fundar uma família. Na Suécia, é diferente: "É sabido que lá as condições de trabalho são mais fáceis e agradáveis. As jornadas são regulamentadas e não há tanta hierarquia. Pode-se agir em vários setores, e não apenas numa única enfermaria", afirma a doutora.