Música antiga da Velha Europa
11 de janeiro de 2004Concertos e festivais de música antiga comemoram seu êxito em toda a Europa. E, apesar do clima desolador no mercado de música, o faturamento com a venda de obras antigas registra pequena alta. Antes de mais nada, cabe esclarecer a quem não sabe: o gênero música antiga identifica as composições anteriores ao período clássico vienense, ou seja, até primeira metade do século 18, antes de Mozart e Haydn.
"No segmento de música antiga, ainda há espaço para crescimento. Nos últimos cinco anos, duplicamos nosso faturamento", diz Angelika Gräfe, gerente para a Alemanha do selo Harmonia Mundi France, em conversa com DW-WORLD. O selo especializado em música clássica de Arles, na França, tem hoje sob contrato grande parte dos especialistas europeus do gênero antigo.
Sucesso de vendas e bilheteria
– Como na França – mas não só lá – as grandes redes comerciais só colocam à venda CDs com rápida saída, a Harmonia Mundi abriu nos últimos anos 42 lojas próprias, cujos negócios surpreendentemente vão de vento em popa. "Graças a esta estratégia, fazemos um terço de nosso faturamento na França", afirma Gräfe. Para a gerente, isto mostra que "o problema está na oferta do comércio e não na demanda do público"."A ópera barroca, em especial, vem tendo boa recepção. Sobretudo quando uma peça é encenada", observa Gräfe. A Bayerische Staatsoper, em Munique, e a Staatsoper de Berlim, por exemplo, sabem disto, após algumas experiências nos últimos tempos. As montagens irônicas, escrachadas das obras de Händel em Munique alcançaram quase o status de cult. Para as encenações das composições do italiano Claudio Monteverdi, considerado o pioneiro da ópera, que viveu por volta de 1600, o público chegou a fazer fila.
Música antiga requer pesquisa
– Durante décadas, "música antiga" e "sonoridade original" eram temas exclusivos de especialistas, ridicularizados e ignorados pelo mainstream do setor de música clássica. Em sua época de concepção, a música antiga era tocada em instrumentos que atualmente caíram quase no esquecimento. Há 300 ou 400 anos, os violinos e instrumentos de sopro tinham fabricação completamente diferente daqueles usados por Verdi e Wagner em suas composições.Portanto, o intérprete de hoje de música antiga precisa antes de mais nada pesquisar quando se depara com nova composição. "É necessário orientar-se pela instrumentação antiga, perguntar-se como as músicas podiam ter sido no passado", explica Regula Rapp, da Staatsoper de Berlim. Além disso, a notação musical utilizada pelos compositores da época não era tão exata como se espera hoje em dia. Isso deixava uma margem ampla para livre interpretação, a qual era plenamente explorada por seus contemporâneos.
O som que resulta quando se executa, por exemplo, obras de Johann Sebastian Bach ou Claudio Monteverdi em instrumentos antigos ou em cópias originais, dão às composições vida nova. No caso específico das obras barrocas, os especialistas ressaltam a flexibilidade rítmica. O líder mundial nas pesquisas e na formação de novos músicos do gênero é, há mais de 70 anos, o instituto suíço Schola Cantorum Basiliensis, na Basiléia.
Também nos grandes palcos
– Há poucos anos, com certeza, nenhuma das grandes salas de concerto e espetáculos teria ponderado incluir em seu programa peças exóticas como Griselda, Il ritorno d'Ulisse in patria, Rinaldo e Eliogabalo. Hoje, estas obras, praticamente relegadas no passado ao absoluto esquecimento, tornaram-se as prediletas de parte do público, sobretudo jovem.Dois grandes eventos são dedicados anualmente à música antiga e à ópera barroca na Europa: o Festival de Innsbrück (Áustria) em agosto, e o Festival Oude Muziek, em Utrecht (Holanda), em setembro. Além destes, acontecem vários outros, por exemplo a Biennale Alter Musik, na Konzerthaus de Berlim, no fim de março, e o Regensburger Tage Alter Musik, na Baviera, durante o feriadão de Pentecostes.
Mas quem não agüentar esperar até lá pode saciar-se ainda agora em janeiro na Staatsoper de Berlim. A ópera nacional da capital alemã apresenta do próximo dia 17 a 1º de fevereiro um festival que inclui a encenação do Orfeu de Monteverdi, apontada como a primeira ópera da história da música. A montagem da obra do pioneiro Monteverdi é regida pelo diretor artístico do Festival de Innsbrück, René Jacobs.