Música 'made in Germany' tipo exportação
28 de julho de 2015O jovem DJ Felix Jaehn, de 20 anos, conseguiu neste ano aquilo que a dupla de reggae Milli Vanilli tinha vivenciado 26 anos atrás: seu próprio hit, produzido na Alemanha, alcançou o topo das paradas musicais dos Estados Unidos.
O DJ de Hamburgo remixou a música Cheerleader, do cantor jamaicano OMI, e a nova versão eletropop conquistou as paradas em mais de 20 países. Esse sucesso internacional da música alemã vem acompanhado de uma longa lista de exportações musicais do ao longo dos últimos 40 anos.
Música eletrônica versus mainstream
Nos anos 1970, o universo da música pop era marcado pelo ecletismo. Naquela época, os hits mais tocados incluíam produções de grandes nomes da música disco a estrelas do rock'n roll. Bandas como Genesis e Pink Floyd transformaram-se em lendas. A cultura punk se espalhava pelo mundo, enquanto artistas como Abba, Elton John e Fleetwood Mac produziam alguns dos hits pop de maior sucesso.
Ao mesmo tempo, alguns músicos alemães seguiam o próprio caminho. Era na Berlim Ocidental que alguns artistas precursores da música eletrônica se reuniam para testar as possibilidades de sintetizadores.
Um desses grupos se chamava Tangerine Dream. Na bateria, estava Klaus Schulze, que desenvolveu uma paixão pela produção de sons eletrônicos e começou a trabalhar nos próprios projetos. Em 1972, Schulze lançou seu primeiro álbum, Irrlicht. Ele chamou a obra, dominada por uma paisagem sonora psicodélica, de "sinfonia quadrofônica para orquestras e máquinas eletrônicas".
Cada vez mais músicos se interessavam pelo vanguardista alemão, o que resultou em colaborações musicais. Uma delas foi com o músico japonês Stomu Yamashta, cujo álbum Go, o primeiro da banda homônima, foi fortemente influenciado pelo colega alemão.
O som de Schulze marcou o início de ima nova era musical, que continuaria a se desenvolver nos anos seguintes. Diversos estilos atuais de música eletrônica – do ambient ao trance e ao techno – são derivados do trabalho do alemão. Muitos músicos da cena eletrônica consideram Schulze "o padrinho do techno".
Pioneiros do eletropop
Em Düsseldorf, na mesma época, outros dois músicos estudavam a possibilidade de desenvolver um novo estilo musical ao experimentar com sintetizadores. Ralf Hütter e Florian Schneider fundaram o duo Kraftwerk, aceitaram mais alguns músicos no grupo e lançaram dois álbuns que chamaram a atenção do público.
O ápice da banda, no entanto, chegou com o terceiro disco, Autobahn. De produção puramente eletrônica, ele é considerado o primeiro álbum de eletropop do mundo. O sucesso do disco chegou até os Estados Unidos, onde a música que dá nome ao disco alcançou as paradas da Billboard.
Especialistas concordam que a música eletrônica como conhecemos hoje não seria imaginável sem a existência do Kraftwerk. O grupo precursor influenciou uma longa lista de artistas, entre eles David Bowie, Depeche Mode, Duran Duran, Moby e New Order. E é claro que a cena techno também foi influenciada pelos alemães de Düsseldorf. Outro seguidor do Kraftwerk foi a banda francesa Daft Punk, que levou adiante o conceito de se apresentar como "máquinas humanas" sobre o palco.
Influência de Colônia sobre o indie rock
Can é um grupo que surgiu em 1968, em Colônia, com Holger Czuckay, que foi aluno do compositor Stockhausen, no baixo, e Jake Liebezeit, adepto do free jazz, na bateria. Desde o começo, já era claro que eles não pretendiam tocar rock comum.
O som de Can rompia com todas as formas conhecidas até então, integrando improvisações e influências de todo o mundo, assim como sons eletrônicos experimentais. Na Alemanha, a banda tinha sucesso somente nos circuitos alternativos – o som de Can não vendia bem.
Foi somente em 1975 que a banda assinou um contrato com uma grande gravadora, mas foram necessários mais alguns anos para que músicos mundo afora descobrissem Can como fonte de inspiração. Bandas indies e alternativas, como Portishead, Sonic Youth e Radiohead, dizem que foram influenciadas pelos músicos de Colônia.
Os inventores da power ballad
O sucesso da banda Scorpions, nascida em Hanover, começou em meados da década de 1970. Com sons inovadores, o grupo conquistou primeiro o Reino Unido, onde tocou junto a grandes bandas de rock, como Kiss e Uriah Heep. O álbum Virgin Killer rendeu à banda uma turnê no Japão, onde estourou em 1976 e teve os ingressos dos shows esgotados.
Três anos depois, os Scorpions tocaram para 60 mil pessoas num festival nos Estados Unidos, ao lado de AC/DC e Aerosmith. Na primeira turnê internacional, em 1982, os Scorpions tocaram junto com o grupo Iron Maiden.
Em 1984, o álbum Love at first Sting tornou a banda popular entre fãs de heavy metal. Só nos Estados Unidos, os músicos ganharam três discos de platina, fizeram shows para mais de 400 mil pessoas e estiveram no topo de todas as paradas. Seus concertos foram abertos pelas bandas Metallica e Motörhead, que eram orientadas pelos empresários a prestar atenção no que a banda alemã fazia no palco, a fim de melhorarem suas próprias performances.
A mais famosa power ballad dos Scorpions, Wind of Change, se tornou trilha sonora da queda do Muro de Berlim e um símbolo do fim da Guerra Fria.
Alto, belicoso e alemão
Em meados dos anos 1990, a "Neue Deutsche Härte" (Nova Dureza Alemã) conquistou fãs de rock mundo afora. Somente nos Estados Unidos, a banda Rammstein vendeu mais de dois milhões de cópias do álbum Sehnsucht. O grupo foi indicado duas vezes ao Grammy, e o diretor de cinema David Lynch escolheu duas de suas músicas para usar no filme Estrada Perdida, de 1997.
Para os fãs internacionais do Rammstein, entender as letras das músicas, definitivamente, não era o mais importante. Em 2001, o tecladista da banda, Flake, escreveu em seu diário de turnê: "Eles gostam quando bandas alemãs soam realmente alemãs, e não americanas."
Não só o público, mas também a mídia dos EUA ficou fascinada com a postura belicosa da banda alemã. Com o tempo, alguns americanos conseguiram decorar a letra das músicas. Em dezembro de 2010, eles cantaram junto com a banda num concerto na Madison Square, em Nova York, cujos ingressos se esgotaram.
Blixa Bargeld e Frank Farian
Uma série de outros músicos alemães são considerados influentes e inspiradores mundo afora. A banda inglesa Depeche Mode, por exemplo, estudou a fundo o som experimental do grupo berlinense Einstürzende Neubauten. Com Blixa Bargeld como vocalista, a banda explorou a música industrial na década de 1980, utilizando fragmentos de sucata na produção de suas músicas.
Nos anos 1970, o produtor, compositor e cantor Frank Farian alcançou as paradas de sucesso com a banda Boney M., fundada por ele. No final dos anos 1980, com a criação do dueto pop Milli Vanilli, ele conquistou outro enorme reconhecimento internacional – que lhe renderia, inclusive, um Grammy. Mas era tudo uma farsa: os supostos vocalistas de Milli Vanilli não cantavam uma única nota, e o Grammy foi revogado.