Na Alemanha, água de esgoto é tratada e pode ser consumida
9 de novembro de 2018Até algumas décadas atrás, os rios alemães estavam extremamente contaminados com resíduos tóxicos industriais. Quem sentia o mau cheiro e via a péssima qualidade da água não poderia imaginar que, alguns anos mais tarde, seria possível nadar e ver peixes em rios que cortam cidades industriais e onde circulam muitas embarcações.
A criação do Ministério do Meio Ambiente, em 1986, foi crucial para acabar com o círculo vicioso de poluição dos rios alemães. Leis duras foram estabelecidas, forçando empresas do ramo industrial a implementar alternativas ecológicas.
Mas, para mobilizar as autoridades a tomarem as medidas cabíveis, foram necessários muitos protestos – boa parte organizada pelo Greenpeace – e até desastres naturais, como o incêndio numa empresa química de Basileia que matou peixes ao longo de 400 quilômetros no rio Reno.
A indústria passou a tratar os resíduos industriais e a implementar processos de produção que respeitam o meio ambiente. Uma das principais medidas para frear a poluição da água foi a construção de inúmeras estações de tratamento, onde o esgoto é tratado com a ajuda de bactérias. A água residual tratada nas Kläranlage pode até servir para o consumo humano, com alto índice de pureza.
As estações de tratamento podem ser vistas perto de grandes cidades e até em regiões de plantação de uvas. A água suja e marrom vinda do esgoto residencial e industrial pode ser vista em enormes tanques, onde é limpa, como exige a legislação ambiental alemã. Os resíduos líquidos são purificados e devolvidos aos rios.
Várias cidades alemãs, como Hamburgo, geram eletricidade por biogás a partir das estações de tratamento de esgoto, o que também reduz os custos operacionais das companhias de saneamento. Os contribuintes pagam altos impostos pelo serviço de tratamento do esgoto, que já estão incluídos na conta de água.
Na Alemanha, paga-se pela água consumida, pela água de esgoto e também pela água da chuva que não é absorvida no terreno de casa. A cobrança é feita por lançamento de efluentes, ou seja, o contribuinte paga pela água que é direcionada ao sistema público de coleta de esgoto. Quem adota um sistema de reutilização da água da chuva pode ter descontos.
Por isso, quem vive na Alemanha economiza na hora de usar a água, inclusive na limpeza de casa. Não é à toa que os banheiros não têm ralo.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.
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