Orgânicos made in Brazil
21 de fevereiro de 2009As histórias de produtores de cacau na Amazônia impressas em embalagens de chocolates produzidos e vendidos na Áustria poderiam ser mera jogada de marketing se não fossem as práticas associadas à transformação do cacau orgânico fornecido por esses agricultores.
As comunidades que participam do Programa de Produção Orgânica da Transamazônica e do Xingu se comprometeram a seguir a cartilha do segmento orgânico. No pano de fundo desse modelo de produção está o comércio justo, a proteção do meio ambiente e a adoção de normas internacionais.
A coordenadora do programa, Elisangela Trzeciak, foi a Nurembergue com um único objetivo: aproveitar a maior feira de produtos orgânicos do mundo para ampliar a exportação de cacau dos cooperativados. "Na Biofach, podemos apresentar o produto e conseguir novos parceiros", projeta a pedagoga de 32 anos, que espera elevar as vendas externas em 10% em 2009.
O sonho orgânico brasileiro
Mas a maioria dos 32 brasileiros que expõem nesta 20ª edição da Biofach, que acontece de 19 a 22 de fevereiro, não tem o mesmo objetivo de Trzeciak. O diretor do projeto Organics Brasil, Ming Chao Liu, salienta que neste ano os empresários brasileiros procuram formas de acabar com a imagem de fornecedores de matéria-prima.
Produtos processados, com marcas próprias, são apresentados ao mercado internacional em Nurembergue. "É difícil. Existe um grande protecionismo e legislações específicas para diferentes alimentos", destaca Liu.
O movimento relacionado ao produto orgânico brasileiro teve comportamento animador nos últimos anos. Em 2006, foram exportados 6 milhões de dólares por 12 empresas brasileiras. No ano passado, o faturamento pulou para 58 milhões de dólares, com o número de exportadores subindo para 70.
Para Liu, a grande dificuldade do produtor brasileiro é conseguir a certificação. Dependendo do selo, o produto adquire credibilidade no mercado internacional, mas isso também não garante a sua comercialização. "As empresas brasileiras têm sido incentivadas a buscar certificados em seus mercados-alvo", explica Liu.
"Queremos nossa fatia nesse bolo"
É o caso das 215 famílias da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região (Coopfam). Eles já têm certificado internacional, já exportam para EUA, Itália, Inglaterra e Japão, mas não estão satisfeitos. Querem passar por cima da crise financeira para realizar um sonho que parece simples: participar de um comércio que classificam como "justo".
"A minha missão aqui na Biofach é valorizar mais o nosso café, procurando clientes", afirma o representante da Coopfam, João Pereira. Ele explica que o produto é enviado para a Europa ainda "verde", é embalado, processado e vendido por um valor até 300% maior do que o pago aos produtores mineiros. "Nós queremos a nossa fatia nesse bolo", reivindica.
Somente em 2008, conforme Pereira, as exportações quase dobraram em relação ao ano anterior, atingindo 7.040 sacas. A Coopfam pretende produzir café torrado em parceria com a Escola Agrotécnica Federal de Machado, no sul de Minas Gerais.
A crise não assusta, o consumidor é fiel
Liu lembra que o produto orgânico é mais caro e por isso o segmento depende do poder de compra dos clientes – e este foi afetado pela crise financeira internacional. Porém, segundo Liu, a consciência ambiental e social do consumidor de produtos orgânicos garante fidelidade e, como consequência, o crescimento do mercado mesmo em tempos de crise.
"O mercado norte-americano deve crescer 10% neste ano e o europeu, menos de 8%, o que são índices interessantes para o nosso segmento", explica. Segundo projeções do setor, as vendas no mercado mundial chegaram a 50 bilhões de dólares em 2008. Para Liu, a conscientização do consumidor brasileiro é importante para fortalecer o mercado também no Brasil.
"Desde 2005 há um programa de esclarecimento ao público sobre o selo BIO aqui na Alemanha", lembra. Conforme o manager do Organics Brasil, o consumidor brasileiro é apegado somente ao conceito do produto sem agrotóxicos. Porém, "existem outros pontos relacionados aos produtos orgânicos, como o desenvolvimento social das comunidades produtoras e o comércio justo", explica.