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Califórnia terá satélite para monitorar mudanças climáticas

15 de setembro de 2018

Estado sedia em São Francisco a Cúpula Global de Ação Climática e anuncia lançamento de satélite que vai ajudar a frear emissões nocivas ao clima. Povos indígenas brasileiros são destaque no encontro.

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Abertura da Cúpula Global de Ação Climática em São Francisco
Abertura da Cúpula Global de Ação Climática em São FranciscoFoto: picture-alliance/Photoshot/W. Xiaoling

Enquanto o furacão Florence fazia suas primeiras vítimas e causava destruição na costa leste dos Estados Unidos, nesta sexta-feira (14/09), a conferência do clima organizada pelo governo da Califórnia, na costa oposta, chamava atenção para o que a ciência previu há mais de uma década: as mudanças climáticas trariam furacões mais frequentes e mais fortes.

A Global Climate Action Summit (Cúpula Global de Ação Climática) reuniu em São Francisco representantes de vários setores da sociedade e fez uma série de anúncios que, na prática, levam a uma redução das emissões dos gases de efeito estufa, apontados como causadores das mudanças climáticas.

Um reforço cientifico para monitorar o fenômeno foi anunciado ao fim da conferência por Jerry Brown, governador da Califórnia. "Com a ciência sofrendo ataques e o avanço das mudanças climáticas, vamos lançar o nosso próprio satélite”, justificou. "Vai ajudar governos, empresas e proprietários de terras a identificar e frear emissões destrutivas com uma precisão sem precedentes, numa escala nunca vista antes."

Desde que Donald Trump chegou ao poder, em 2017, a Califórnia se tornou um núcleo de resistência aos retrocessos ambientais liderados pelo presidente. Foi ele que tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris, esforço global para limitar o aumento da temperatura a 2°C até o fim do século em relação à era pré-industrial.

Ao longo de dois dias de conferência, não faltaram críticas a Trump. "As pessoas são bem mais espertas que ele", disse John Kerry, ex-secretário de Estado do governo Barack Obama, sobre o fato de Trump negar as mudanças climáticas. Um dia antes, Brown chamou o presidente de "mentiroso, criminoso", por incentivar a indústria do carvão e sabotar ações com o foco na diminuição da poluição.

USA San Francisco Jerry Brown beim Global Climate Action Summit
Governador da Califórnia, Jerry Brown, fala na cúpula em São FranciscoFoto: DW/N. Pontes

A rebelião verde

Para Lou Leonard, do WWF-EUA, a reunião em São Francisco trouxe esperança – apesar de Trump. "Quando o presidente saiu do Acordo de Paris, 1.200 líderes disseram 'nós continuamos'. Agora, são mais de 3.600: eles vêm de cidades, universidades, estados", disse à DW.

Um dos exemplos está em Los Angeles, maior cidade da Califórnia e uma das maiores do mundo, onde as emissões, a partir de 2018, chegaram ao limite – agora só devem cair. A meta foi atingida por outras 26 cidades, seis delas são americanas, nenhuma do Brasil.

"Trump disse que está fora do Acordo de Paris, mas dizemos que estamos dentro", afirmou Garcetti em entrevista para DW. "Representamos os americanos, empresas, universidades. Todos vivem em cidades e estão sentido os impactos das mudanças climáticas: fogos florestais, secas. Não temos o luxo de criar um problema e não resolvê-lo."

Al Gore, ambientalista que já foi vice-presidente dos Estados Unidos, afirmou que as "evidências científicas estão na cara". "No último mês, nós ultrapassamos todos os recordes de incêndios florestais na Califórnia", apontou. Com o aumento da temperatura e diminuição das chuvas, as florestas ficam mais secas e vulneráveis aos incêndios.

Em 2017, as emissões dos Estados Unidos, o segundo maior poluidor atrás da China, chegaram ao nível mais baixo dos últimos 25 anos "sem qualquer ajuda de Washington", lembrou Michael Bloomberg, enviado especial da ONU para Ação Climática.

"Os EUA já cumpriram metade do compromisso que fizemos em Paris. As cidades estão ajudando a tornar isso possível e garantirão o resto, não importa o que aconteça em Washington", afirmou.

Florestas e força-tarefa

Na Califórnia, povos indígenas brasileiros foram destaque no palco. "As florestas são importantes para regular o clima. E somos nós que fazemos a preservação”, disse para a plateia Francisca Oliveira Costa Arara, da Organização dos Professores Indígenas do Acre.

Um estudo recente publicado pelo RRI (Right and Resources Initiative) calculou que povos indígenas gerenciam quase 300 bilhões de toneladas de carbono em seus territórios – o equivalente a 33 vezes as emissões globais de energia em 2017.

Até 2022, 459 milhões de dólares serão destinados a florestas, direitos e terras indígenas para combater as mudanças climáticas. O dinheiro virá de nove fundações, que participaram da conferência.

Uma carta de princípios para aumentar a colaboração e diminuir os conflitos com povos indígenas também foi apresentada por 34 governadores de 9 países. O Acre foi o único do Brasil a participar da reunião do Força-Tarefa dos governadores para o Clima e Florestas, criado há oito anos. Ao todo, nove estados brasileiros fazem do grupo.

"Os indígenas tinham 90% de alcoolismo entre os homens nas aldeias. Hoje são menos de 5%. Houve uma retomada da cultura, um sentimento de que a vida pode ser próspera", justifica Tião Viana, governador, em entrevista à DW.

Entre os estados da Amazônia, o Acre é citado como o que mais dialoga com as populações indígenas, segundo Francisca Arara. "Ainda não resolvemos todos os problemas. Mas, pelo menos, conseguimos sentar na mesa com o governo e discutir, buscar soluções", afirmou.

Nádia Pontes viajou a São Francisco, na Califórnia. a convite da Climate and Land Use Alliance

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