Na Coreia do Sul, Francisco corteja cristãos asiáticos
14 de agosto de 2014Após sua viagem ao Oriente Médio, o papa Francisco escolheu outro local conturbado para sua próxima visita. Ele desembarcou nesta quinta-feira (14/08) na Coreia do Sul, na primeira visita de um pontífice ao Leste Asiático em mais de uma década.
Enquanto o catolicismo está em alta entre os sul-coreanos, no regime totalitário da Coreia do Norte os cristãos são sistematicamente perseguidos. E, na China, as autoridades anunciaram recentemente planos para criar sua própria versão da teologia cristã, de modo que seja aceita pelo governo.
A visita papal tem como objetivo alcançar não apenas os católicos sul-coreanos, mas também todos os fiéis do Leste Asiático. Oficialmente, o motivo da viagem de Francisco seria a participação na sexta edição da Jornada da Juventude do Mundo Asiático, que deve atrair cerca de 6 mil participantes, um terço deles vindos de outros países.
Os cristãos na Ásia esperam já há muito tempo uma visita papal. A última viagem de um pontífice ao continente ocorreu há 13 anos. E à Coreia do Sul, há mais de 25 anos. Ao assumir o posto mais alto da Igreja Católica, Francisco afirmou que a Ásia seria uma prioridade de seu papado.
Catolicismo em ascensão
A Coreia do Sul é uma das maiores histórias de sucesso da Igreja Católica. Sua imagem positiva e o aumento no número de fiéis contrastam com o declínio dos católicos no Ocidente. O cristianismo e o catolicismo são relativamente novos no país, com uma história que data de cerca de 230 anos. Os primeiros textos religiosos entraram no país através de laicos que haviam tido contato com cristãos em Pequim.
Quando o primeiro padre estrangeiro chegou à Coreia do Sul, no século 18, encontrou uma congregação de 4 mil fiéis. Após a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coreia, a Igreja Católica passou por uma grande expansão. Recentemente, o número de católicos no país aumentou dez vezes – no mesmo período, a população dobrou de tamanho.
Hoje em dia, um em cada dez coreanos se diz católico, e 30% da população do país são cristãos. A Coreia do Sul é a segunda maior nação cristã na Ásia, atrás apenas das Filipinas.
A tendência não demonstra sinais de enfraquecimento. A cada ano, mais de cem mil adultos sul-coreanos são batizados, muitos dos quais pertencem às classes mais altas e vivem nos centros urbanos. A Igreja ainda é vista com confiança e apreciação. Durante as ditaduras militares que duraram até o final dos anos 1980, ela se manteve crítica aos regimes totalitários.
Nos séculos 18 e 19, os cristãos foram seguidas vezes alvo de perseguição. Cerca de dez mil vítimas daquela época são lembradas até hoje como mártires. Deles, 103 foram canonizados pelo papa João Paulo 2º durante sua visita à Coreia do Sul. Outros 124 serão beatificados por Francisco.
Mensagem de paz
No primeiro dia de sua visita, o papa fez um pronunciamento à presidente sul-coreana, Park Geun-hye, e autoridades do governo, pedindo a renovação dos esforços de paz na Península da Coreia. Segundo ele, esse objetivo requer perdão, cooperação e respeito mútuos. O pontífice disse ainda que a diplomacia deve ser encorajada e que o diálogo deve substituir as "recriminações, críticas infrutíferas e demonstrações de força" de ambas as partes.
No segundo dia, o pontífice vai celebrar uma missa para os participantes da Jornada da Juventude do Mundo Asiático, em um estádio de futebol em Daejeon.
Antes de deixar o país, o papa vai ainda se encontrar com líderes religiosos e celebrar uma missa de reconciliação na catedral de Seul. Os católicos da Coreia do Norte foram convidados para participar do culto, mas o governo de Pyongyang recusou a oferta.
Inicialmente, o papa havia planejado visitar a fronteira entre as duas Coreias, mas a visita teve de ser cancelada, uma vez que poderia ser vista como uma provocação ao regime norte-coreano.
No entanto, espera-se que o papa envie uma mensagem clara a Pyongyang sobre a situação dos cristãos na Coreia do Norte. Francisco já demonstrou em outras ocasiões que gosta de surpreender. Durante sua visita ao Oriente Médio, ele espontaneamente convidou os presidentes de Israel e da Autoridade Nacional Palestina a ir a Roma, para rezarem juntos.