Na Eslovênia, o passo mais difícil
21 de outubro de 2015O chão está molhado. Algumas crianças chutam uma garrafa de plástico vazia sobre o asfalto, com calçados sujos de lama nos pés. Em meio à paisagem de outono em Sentilj, na Eslovênia, fica um dos maiores centros de acolhida temporária de refugiados, com centenas de hóspedes. O acampamento fica a poucos metros da fronteira austríaca.
O iraquiano Abdul Rahman, de 27 anos, carrega no colo o filho de três meses, que parece uma menina, em seu macacão rosado. Ele está até feliz de ter roupa para a criança. "Nesta madrugada estava tão frio, que tivemos medo que ele não acordasse."
Ele conta que as condições do abrigo são duras. Não há barracas apropriadas para enfrentar o inverno, algumas foram inundadas pela chuva da noite anterior. Faz frio de oito graus. Lá fora, homens lavam o rosto, ao lado de mulheres e crianças, com algumas mangueiras com água fria. Elas não são suficientes para as cerca de 3 mil pessoas.
O iraquiano, no entanto, não se deixa assustar – ele, que já chegou até aqui com sua família. Eu seu país, ele era jogador de futebol profissional de uma liga regional. Mas isso foi em outra vida. Agora, o jovem pai de família não tem alternativa, senão esperar nesse lugar frio, junto com milhares de refugiados, para ver o que vai acontecer.
"Primeiro, ônibus croatas nos levaram para a fronteira com a Eslovênia, então seguimos caminhando pelos campos. A primeira noite, passamos em uma pequena tenda. Mais uma vez um ônibus nos pegou. Então, pensamos que seríamos levados para a Áustria, mas era ainda a Eslovênia, só que um outro acampamento", relembra.
A situação entre a Croácia e a Eslovênia é tensa. A polícia eslovena culpa a Croácia por não repassar informações. "Tudo o que sabemos é que há refugiados chegando. Quantos, eu não sei. Os croatas nos ligam e dizem: 'Em meia hora chega o próximo ônibus'. Como é que podemos nos organizar?", questiona um porta-voz.
De repente, o ambiente fica agitado. As grades de isolamento são afastadas. Uma pequena brecha é aberta. Lá atrás está a Áustria. Centenas de pessoas se aglomeram, todos querem passar. Abdul Abdulrahman vai levando sua família, mas algo o detém.
"Eu não quero ficar no meio da multidão, tenho medo que meus filhos pequenos sejam sufocados", diz. A situação é tensa, um policial esloveno puxa Abdul para um lado. "Espere, que há lugar aqui do lado."
Junto com cerca de uma centena de outras pessoas, Abdul está, de repente, do outro lado da cerca do acampamento. Os postos de fronteira austríacos podem ser vistos de lá. Com mochila, bebê e envolto num cobertor de lã, ele consegue atravessar a fronteira esloveno-austríaca.
Mas é impossível continuar. Policiais de fronteira austríacos formam um corredor, em cujo final está o campo austríaco de acolhimento para refugiados. Abdul Rahan têm dificuldade para segurar as lágrimas.
"Na Eslovênia, nos disseram que podíamos ir para a Áustria, na Áustria nos dizem agora que não podemos continuar."