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Natureza intacta, dote da Europa Oriental

(ns)1 de maio de 2004

Se o meio ambiente sofreu com a industrialização na UE, a ampliação poderá representar uma segunda chance para a natureza na Europa. Os novos membros têm paisagens únicas, bosques nativos e muitas reservas naturais.

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Campos na República TchecaFoto: transit

Os oito países do Leste Europeu não ingressam de mãos vazias na União Européia, em 1º de maio. Seu "dote" nessa união será uma natureza em grande parte intacta, que décadas de economia planificada e negligência com o meio ambiente – felizmente – não conseguiram danificar.

Natureza pura - o grande tesouro

Lettische Schweiz
Suíça letã é como os habitantes da Letônia chamam esta bela região de lagos, rios e bosquesFoto: transit

Bosques nativos como o de Bialowieza, no leste da Polônia, eram comuns nas planícies de toda a Europa Ocidental, antes de sua exploração pelo homem. Com enorme variedade de árvores, muitas delas centenárias, ali vivem 12 mil espécies animais, entre eles o bisonte, praticamente extinto na parte ocidental do velho continente.

Na Hungria, Eslováquia, Estônia e nos outros novos membros da UE também há tesouros de dar inveja aos europeus ocidentais: vastos bosques, montanhas intactas, pântanos inacessíveis, florestas primitivas, paisagens sem habitantes e que nunca foram cortadas por estradas, praias sem construções, planíceis e prados repletos de cegonhas e pássaros de todos os tipos. Muitas espécies extintas no resto do continente ali foram preservadas: lobos, alces, linces, bisontes. No Leste Europeu encontra-se também a maioria dos 50 mil ursos marrons ainda existentes na Europa.

Chances e riscos para o meio ambiente

"O ingresso representa uma segunda chance para a natureza da Europa, e trata-se de aproveitá-la", segundo Claude Martin, diretor-geral do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), citado pelo jornal Stadt-Anzeiger, de Colônia. Para o vice-presidente da ONG alemã de proteção à natureza NABU, Thomas Tennhardt, um dos grandes desafios da ampliação é justamente não dissipar essas riquezas: conservá-las, através de um aproveitamento não-predatório.

Porém, é grande o risco de que, em vez de um desenvolvimento sustentado, o processo de recuperação econômica venha a sobrecarregar o meio ambiente. Em outras palavras, o "progresso" poderá acabar com o idílio. "Se a UE apostar na agricultura de cultivo intenso, fomentar a construção de estradas e a ocupação desordenada de áreas hoje desertas, isso poderá significar o fim das riquezas naturais do Leste Europeu", adverte Thomas Tennhardt.

Os dois lados da medalha comunista

Landwirtschaft in Polen Foto für Made in Germany
Pequenos agricultores preservaram a natureza na PolôniaFoto: changemakers.net

Os antigos regimes comunistas de economia planificada nunca deram muita importância à proteção ambiental. No entanto, indiretamente fizeram algo muito bom, ao praticar o cultivo extensivo, bem menos predatório. Nos oito países foram demarcados parques e reservas nacionais, a fim de proteger certos tipos de plantas e paisagens. Também contribuíram para a preservação ambiental o pequeno uso de pesticidas nas lavouras – porque não havia dinheiro para isso –, a baixa densidade populacional, o pequeno número de veículos e um turismo insignificante como fator econômico.

As grandes empresas agrícolas estatais, pelo contrário, usaram e abusaram de agrotóxicos e adubos, enquanto as indústrias poluíram em grande escala a atmosfera e as águas. Esses efeitos, contudo, diminuíram após 1990, com o colapso do sistema comunista. Muitas empresas reduziram drasticamente a produção, poluíram menos e passaram a usar as matérias-primas de forma mais eficiente.

Infra-estrutura e transportes: progresso ou preservação

Na República Tcheca, por exemplo, as emissões de anidrido sulforoso diminuíram 68% até 1997, segundo a OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico). No entanto, o quadro positivo pode se reverter rapidamente se "imperar o ditame do desenvolvimento econômico", diz Claus Mayr, da NABU. É certo que, no Leste Europeu, as emissões são bem inferiores às dos 15 velhos membros da União Européia. Com a diminuição dos transportes ferroviários, contudo, um aumento de 62% da malha rodoviária e de 73% do número de veículos, a tendência não é favorável – observa o último relatório ambiental da UE (2003).

Ferienbeginn Urlaub im Stau
Será este o futuro do Leste Europeu?Foto: AP

Grandes projetos de ampliação da infra-estrutura constituem uma das maiores ameaças para a diversidade das espécies na Europa Oriental e todas as paisagens nativas. O pior, segundo a NABU, são as chamadas redes transeuropéias (TEN). Elas englobam 29 grandes projetos nos novos membros do Leste Europeu, com a meta de ampliar 75 mil quilômetros da malha rodoviária, 12 mil quilômetros em hidrovias, 78 mil quilômetros das ferrovias, ligando 330 aeroportos e cerca de 500 lagos e portos fluviais.

Legislação e produção de orgânicos

Somente a ampliação do Danúbio afetaria 85 áreas de proteção ambiental para pássaros. Por isso, a ONG exige a suspensão de todos os projetos TEN que violem determinações de proteção ambiental. Positivo, segundo a NABU, é o fato de que os oito novos membros terão que implementar várias regras ambientais, quando antes não dispunham de legislação ambiental.

Os ingressantes se comprometeram a adaptar o direito nacional às diretrizes da União Européia até 1º de maio. Em sua última avaliação, a Comissão Européia constatou que havia um grande atraso nesse aspecto, exigindo mais urgência. Também pudera: o direito comunitário soma 80 mil páginas! Somente a parte referente à proteção ambiental abrange 100 diretrizes e regulamentos.

Decisivo também será se os pequenos agricultores saberão aproveitar seus nichos de mercado. Na Hungria, por exemplo, regiões como a Puszta, com suas lavouras e pastagens extensivas, são ideais para a produção de orgânicos. Outro grande potencial é o do turismo ecológico, que encontra um número cada vez maior de adeptos.