Navalny teve bens congelados na Rússia após envenenamento
24 de setembro de 2020Dias após o envenenamento do líder opositor russo Alexei Navalny, as autoridades do país congelaram suas contas bancárias e colocaram uma ordem de apreensão em seu apartamento em Moscou, que agora não pode ser vendido, doado ou hipotecado, segundo informou nesta quinta-feira (24/09) a porta-voz do ativista, Kira Yarmush.
O congelamento, segundo Yarmush, estaria ligado a uma batalha jurídica envolvendo Navalny, seus aliados e uma empresa que fornece alimentos para escolas e jardins de infância na capital russa. Em 2018, a Fundação para o Combate à Corrupção (FBK) de Navalny culpou a empresa por um surto de disenteria em alunos. Eles também afirmaram que o proprietário da empresa seria o empresário Yevgeny Prigozhin, ligado ao presidente russo, Vladimir Putin.
Os assessores de Prigozhin negaram que ele fosse o proprietário da empresa, que, por sua vez, entrou com processo por difamação contra Navalny e seu grupo.
A Justiça russa decidiu em favor dos pleiteantes e condenou Navalny, a FBK e seu associado Lyubov Sobol a pagarem em torno de 1,14 milhões de rublos (quase um milhão de dólares) em compensações. Segundo Yarmush, no dia 27 de agosto, quando o ativista ainda estava em coma, os oficiais de Justiça impuseram o bloqueio da sua propriedade.
Há cerca de quatro semanas, dias após o envenenamento de Navalny, a imprensa russa divulgou que Prigozhin teria fechado um acordo com a empresa de refeições escolares para que a dívida resultante da ação judicial fosse repassada para ele pessoalmente.
Em 20 de agosto, Navalny, um dos maiores críticos do governo Putin, passou mal a bordo de um avião na Sibéria, onde chegou a ficar hospitalizado por dois dias antes de ser transportado em coma induzido para a Alemanha. O ativista de 44 anos ficou internado por 32 dias no Hospital Universitário Charité de Berlim. Ele saiu do coma no início de setembro.
Testes de laboratório realizados na Alemanha comprovaram "de modo inequívoco" que Navalny foi envenenado com um agente neurotóxico do tipo Novichok, da era soviética. Mais tarde, laboratórios independentes da França e da Suécia confirmaram o envenenamento com a substância, a mesma usada no ataque contra o ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha em Salisbury, no Reino Unido, em 2018.
O governo da Rússia alega que laboratórios russos e o hospital em Omsk, na Sibéria, onde Navalny ficou internado por dois dias, não encontraram indícios de envenenamento.
O Kremlin também rejeitou as acusações feitas pelos aliados de Navalny na Rússia de que ele teria sido envenenado em um hotel na cidade siberiana de Tomsk. Segundo os ativistas, análises em uma garrafa de água coletada no hotel realizadas num laboratório militar alemão encontraram rastros do Novichok.
A Alemanha e vários governos ocidentais cobram explicações da Rússia sobre como o oposicionista teria sido envenenado, e chegaram a ameaçar impor sanções pelo incidente.
Navalny planeja retorno à Rússia
Um dia após o anúncio de que Navalny tinha deixado o hospital, a ONG Fundação Cinema para Paz afirmou nesta quinta-feira que o ativista planeja retornar à Rússia para retomar suas atividades políticas. Segundo a entidade alemã que organizou o traslado de Navalny para a Alemanha, ele ainda precisará de mais um mês até recuperar suas forças.
"Ele ainda não está 100%", disso o fundador da ONG Jaka Bizilj. "Quando recebemos os primeiros boletins, tivemos a impressão de que ele se recuperava rapidamente e que estava em boas condições, mas temos de ser cuidadosos", observou. "Acho que ainda precisará de ao menos um mês até estar novamente saudável."
Bizilj, cuja organização também já havia ajudado um ativista do grupo russo Pussy Riot a receber tratamento na Alemanha após suspeita de envenenamento, disse que os colaboradores de Navalny não têm dúvidas de que ele planeja voltar para seu país.
Yarmush afirmou através do Twitter que, por hora, ele continua na Alemanha. "Seu tratamento ainda não terminou", escreveu. Ela disse ainda que os médicos mantêm as esperanças de uma recuperação total.
Nesta quarta-feira, autoridades do Kremlin se disseram satisfeitas com a boa recuperação do líder opositor e garantiram que ele está "livre para retornar à Rússia como qualquer outro cidadão", segundo informou a agência de notícias Tass.
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