Crise
3 de agosto de 2011Os líderes políticos da zona do euro mobilizaram-se nesta quarta-feira (03/08) em consultas telefônicas e reuniões de emergência para evitar que a Itália e a Espanha se convertam nas próximas vítimas da crise da dívida.
A "plena confiança" manifestada na terça-feira pela Comissão Europeia nas medidas de ajuste e reforma aplicadas por Roma e Madri, que afastavam a hipótese de um resgate, não evitou que o diferencial das dívidas italiana e espanhola em relação às obrigações alemãs (de referência) atingissem novos valores máximos.
Os juros dos títulos da dívida espanhola em 10 anos atingiram 6,49% e os da Itália, 6,27%, um sinal da desconfiança dos investidores e do temor de propagação da crise da dívida.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, declarou, em documento divulgado por Bruxelas, sua "grande preocupação" com a atual evolução dos mercados financeiros, e apelou aos 17 chefes de governo dos países da zona do euro para que assegurem a implementação de medidas de combate à crise "sem protelação".
Franco suíço: "porto seguro"
Nesta quarta-feira, o Dax (índice da bolsa alemã) registrou seu sexto dia consecutivo de queda. Além da busca pelo ouro, outro ponto de fuga dos mercados tem sido o franco suíço, considerado ainda um "porto seguro" em tempos de crise. Devido à queda nas exportações do país, o governo da Suíça anunciou medidas contra uma suposta supervalorização da moeda nacional.
Uma das principais razões do nervosismo dos mercados financeiros é a evolução da economia dos EUA, após a decisão do Congresso norte-americano de cortar drasticamente gastos, a fim de reduzir a dívida pública. Isso, apontam especialistas, poderá levar a economia norte-americana, que já passa por um momento difícil, à total estagnação.
Itália e Espanha
O ministro italiano das Finanças, Giulio Tremonti, e o presidente do Eurogrupo e premiê de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, debateram nesta quarta-feira a situação da Itália. "Tivemos uma longa discussão, durante a qual foram tratados todos os problemas da zona do euro, e vamos continuar refletindo a respeito", afirmou Juncker após o encontro, descrito por Tremonti como "muito produtivo".
Na Itália, tanto empresários quanto a classe trabalhadora sofrem em meio a um clima de total desconfiança e temor de que a instabilidade do mercado financeiro venha a desestabilizar completamente a economia nacional. Além do medo frente à imprevisibilidade do mercado, domina no país a desconfiança frente à política de centro-direita do premiê Silvio Berlusconi.
Na Espanha, o premiê José Luis Rodríguez Zapatero, forçado a adiar o início das suas férias devido à crise em seu país, conversou por telefone com o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, e com o ministro italiano das Finanças, Giulio Tremonti. Zapatero também falou com o comissário europeu para os assuntos econômicos, Olli Rehn, sobre as medidas de contenção do contágio e conversou com o presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker.
Frente ao Parlamento italiano, Berlusconi proferiu nesta quarta-feira um discurso em defesa de medidas de contenção de gastos para enfrentar a crise, afirmando que os bancos italianos "são sólidos" e a economia do país "vital". Segundo ele, "a estabilidade política é a arma contra a especulação". Berlusconi salientou ainda que a meta mais importante de seu governo é o crescimento econômico e defendeu uma postura decisiva frente à crise, que não siga, contudo, "o nervosismo dos mercados".
Situação alarmante
O premiê finlandês, Jyrki Katinen, declarou também sua preocupação frente à conjuntura no continente: "Toda a Europa encontra-se em uma situação perigosa", afirmou. Segundo Durão Barroso, é "essencial" colocar em prática os acordos alcançados em 21 de julho no encontro de cúpula extraordinário dos chefes de Estado e de governo, com destaque para o segundo resgate à Grécia e os novos poderes concedidos ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF).
De acordo com investidores, discute-se atualmente se o Banco Central Europeu (BCE) deveria voltar a adquirir títulos públicos, já que a Itália e a Espanha são, respectivamente, a terceira e a quarta maiores economias da zona do euro.
SV/dpa/rtr
Revisão: Roselaine Wandscheer