Nigéria resgata mais de 300 jovens torturados em escola
27 de setembro de 2019A polícia da Nigéria informou nesta sexta-feira (27/09) que resgatou mais de 300 crianças e jovens do sexo masculino de uma suposta escola islâmica na cidade de Kaduna, no norte do país. Muitos deles estariam sendo torturados e abusados sexualmente, e cerca de 100 foram encontrados acorrentados.
Na noite de quinta-feira, as autoridades invadiram um prédio localizado no distrito de Rigasa, onde as vítimas eram mantidas "nas condições mais degradantes e desumanas", afirmou o porta-voz da polícia de Kaduna, Yakubu Sabo, acrescentando que as vítimas eram de diferentes nacionalidades.
Ele contou que "foram encontrados 100 estudantes, incluindo crianças de até nove anos, acorrentados em um pequeno quarto, tudo em nome de reabilitá-los e torná-los mais responsáveis". "As vítimas foram abusadas. Muitos deles afirmaram que foram abusados pelos professores", acrescentou.
A escola, que funcionava há uma década, matriculava os estudantes trazidos por suas famílias para que aprendessem o Alcorão e fossem reabilitados da dependência de drogas e problemas similares, afirmou a polícia. Porém, o local não tinha licença para executar qualquer programa educacional ou de reabilitação.
O proprietário da escola e seis funcionários foram presos durante a operação. Muitos dos estudantes resgatados apresentavam cicatrizes nas costas e ferimentos graves. A polícia fora avisada por moradores que suspeitaram do que estava acontecendo dentro das dependências da escola.
Durante a operação, a polícia contou que encontrou uma "câmara de tortura", onde os estudantes eram acorrentados, enforcados e espancados. Um dos estudantes citado pela mídia nigeriana descreveu as condições e o tratamento recebido nas instalações como horríveis.
"Eu passei três meses aqui com correntes nas pernas", afirmou Bello Hamza, acrescentando que ele deveria estar na África do Sul fazendo seu mestrado. "Era supostamente um reformatório religioso, mas quem tentava fugir recebia punições severas: eles amarravam e penduravam as pessoas no teto."
Os pais de algumas das vítimas ficaram "chocados e horrorizados" quando viram as condições em que estavam seus filhos, pois não tinham ideia do que acontecia na escola. Os responsáveis podiam visitar os internos de três em três meses, mas apenas em áreas selecionadas pela direção da escola.
"Eles não eram autorizados a entrar na escola para ver o que estava acontecendo. As crianças eram somente trazidas para fora do prédio para poder encontrá-los", frisou Sabo, porta-voz da polícia. "Todos eles pensavam que no local estava sendo ensinado o Alcorão e boas maneiras para seus filhos, já que eles pareciam contidos."
Um dos homens que supostamente dirigia as instalações insistiu aos canais de televisão locais que o centro estava simplesmente ensinando estudos islâmicos e que aqueles acorrentados eram "os teimosos que tentavam fugir".
As escolas islâmicas privadas são comuns principalmente no norte da Nigéria, onde os serviços governamentais são muitas vezes insuficientes.
FC/afp/ap/lusa
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