Nobel da Paz
10 de outubro de 2011"Inaceitável e desmerecido" foram as palavras escolhidas pelo líder oposicionista Winston Tubman para caracterizar a escolha da presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, para o Prêmio Nobel da Paz de 2011. À primeira vista apenas ataques típicos de campanha eleitoral, pois o país vai às urnas nesta terça-feira (11/10). A oposição, contudo, dissemina uma posição que vem ganhando cada vez mais adeptos.
"Não queremos Ellen, não queremos Ellen", grita o manifestante Jeremia Blake ao lado de outras pessoas na rua Bensonstreet, na capital Monróvia. "Não queremos mais que Ellen Johnson Sirleaf continue sendo a presidente deste país. Sob seu governo, nós, liberianos, continuamos a viver na pobreza", afirma Blake, enquanto aponta para alguns desabrigados na rua.
Blake tem pouco mais de 40 anos e curso superior completo. Ele diz que não fala apenas por si, mas em nome de diversos conterrâneos. "Quando Sirleaf tomou posse, em 2005, prometeu à comunidade internacional e ao povo liberiano que a corrupção seria o inimigo número um do Estado. E hoje a corrupção e ela são melhores amigos", ironiza.
Corrupção: ponto controverso
Johnson-Sirleaf não conseguiu, em seu mandato de cinco anos, cumprir a promessa de "tolerância zero" com a corrupção. Pelo contrário. O relatório Global Corruption Barometer (barômetro da corrupção global) da Transparência Internacional apontou a Libéria como o país mais corrupto do mundo em 2011. Para Blake, uma razão a mais para dar as costas para a governante. "Madame Sirleaf fracassou deploravelmente", conclui.
Ao lado dele, a manifestante Betty Arsen concorda. A jovem, que carrega um filho no colo e puxa outro pela mão, diz que elegeu Sirleaf na espeança de que ela fosse ajudar as mulheres. "Mas a vida continua dura para nós."
Os gastos com a escola – 7 mil dólares liberianos, aproximadamente 170 reais – precisam ser pagos e Arsen se pergunta como fazer para obter o dinheiro. "Não tenho emprego e vivo de bicos", conta. Por essas e por outras, Jeremia e Betty apostam na vitória de Winston Tubman em nome de uma reforma democrática no país.
Tubman beneficia-se acima de tudo da fama de seu vice, George Weah, uma estrela mundial do futebol, que perdeu para Johnson Sirleaf nas eleições de 2005. Até hoje ele tem muitos simpatizantes, embora a razão disso não seja exatamente sua plataforma política, analisa o cientista político Rudolf Elbling, que em nome das Nações Unidas assessora a comissão eleitoral nacional da Libéria.
"É uma campanha eleitoral tipicamente africana. Os temas acabam ficando em segundo plano, e tudo se concentra principalmente nos indivíduos", completa Elbling. "A retórica de praxe aparece como sempre", diz Elbing, referindo-se a temas como saúde, educação e infraestrutura. "Mas ninguém diz como resolver concretamente a situação", conclui.
Uma mulher para a paz
Os simpatizantes de Ellen Johnson Sirleaf estimam sobretudo a paz, já que é mérito dela ter conseguido unificar o país depois de 14 anos de guerra civil. E não só isso. A experiente economista conseguiu um corte de dívidas de mais de 4 bilhões de dólares. E convenceu investidores de que vale a pena investir de novo nesse país pequeno, mas cheio de recursos naturais. Como fez por exemplo ao atrair a siderúrgica multinacional ArcelorMittal.
Na costa da Libéria foi encontrado petróleo, que já começou a ser extraído pela norte-americana Chevron. A proibição da exportação de diamantes e madeiras nobres também foi suspensa por Sirleaf. Mas permanece a acusação de muitos liberianos: a de que a presidente apoia a elite e não faz nada pelo povo.
Desemprego entre os jovens: fonte de conflito
O maior problema do país é o desemprego, que chega a 80% da população economicamente ativa e é fonte de novas ondas de violência, alertam observadores. "O atual governo assumiu o poder prometendo que iria arrumar emprego para nós, mas continuamos sem nada. E quando roubamos, atiram em nós. Você faz algo por necessidade e leva tiros por isso", reclama o liberiano George Seke.
Há mais de três anos, ele escava a terra na costa atlântica à procura de alumínio ou ferro para vender. Mas nem sustentar sua família ele consegue com isso. "É por isso que dizemos ao governo: vocês vivem fazendo promessas vazias. Seu tempo acabou", afirma. O que ele quer agora é dinheiro. "Money for vote. Dou meu voto ao partido que me der dinheiro, para que eu possa, enfim, construir meu negócio", conclui.
Autora: Stefanie Duckstein (sv)
Revisão: Alexandre Schossler